Imprevisível Destino

Um começo de dor

CAPÍTULO 3

  Já era metade do dia quando Kisa acordou. Sua cabeça doía e seus olhos inchados indicavam claramente a noite de choro que tivera. O corpo dele pesava como se protestasse viver e sua mente só vagava direto para Kou lhe dizendo que jamais seria possível ficarem juntos.

  Sua disposição para sair da cama era abaixo de zero, só de pensar em encontrar com Kou seus olhos ardiam e em segundos transbordavam. Era a primeira vez que vivenciava um coração partido.

  Ele tentava ao máximo pensar em um motivo para Kou ter afastado-se, visto que quem começara o beijo foi Kou.

- "Ele se preocupa tanto com minha imagem, talvez por isso não tenha prosseguido." - Pensou Kisa se levantando de sua cama um tanto relutante.

- "Ou seria consideração pelos meus pais?" - Sua mente estava inquieta, ele amava Kou do fundo de seu âmago, por isso não queria ficar brigado com ele e sim entender seu lado

- "Acho que a opção com mais sentido é que ele simplesmente não me ama da mesma forma que o amo." - Pensou tristemente.

Finalmente achou algo que fazia sentido.

- "Provavelmente ele apenas fez aquilo para me satisfazer. Sem falar que somos ambos homens, isso é... Impossível. - Kisa chegou a essa dolorosa conclusão, era tão horrível aquela dor que não poderia ser explicada em meras palavras.

  Ele terminou de se vestir e saiu de seus aposentos a procura de algo para lhe distrair mesmo que minimamente, não podia mais ficar sozinho consigo mesmo.

  Por todo o caminho de Kisa os outros membros da casa o cumprimentaram normalmente, ficou claro que Kou não contou a ninguém sobre o ocorrido. Kisa armou um leve sorriso a fim de não mostrar para todos o quão mal estava e resolveu ir até o estábulo, mas algo no caminho desviou sua atenção.

- Você, embora garoto, é muito sábio. Fez um velho homem como eu se sentir culpado. - Disse um senhor de por volta dos sessenta anos, com a mão sobre o ombro de Kou.

- Por favor, ancião, não se sinta. Como informei-te mais cedo, não há motivos para sentir culpa. - Disse Kou inexpressivo como sempre.

  Mas ele não parecia muito bem, suava bastante e estava pálido. Kisa podia ver facilmente que ele fazia expressões de quem reprimia fortemente a dor e se mantinha de pé com muita dificuldade.

  Kisa se escondeu atrás de uma pilastra da construção, ignorando o quão imoral aquela ação era, e prestou atenção na conversa alheia.

- Meu jovem, eu tenho algumas ervas medicinas que possam lhe ser úteis... - Disse o homem preocupado.

- Não irei aceitar, ancião, não mereço tua compaixão pelo que fiz. - Recusou-se Kou, nesse momento ele oscilou levemente como se estivesse perto de cair, mas recuperou-se quase imediatamente.

- Você poderia dizer-nos o que houve, jovem. Nós poderíamos ajuda-lo, não havia necessidade dis... - Começou o homem claramente preocupado.

-  Me desculpe, já disse o que poderia dizer. Agora, se der-me licença, irei refletir sobre minhas ações. - Kou se curvou em despedida e foi em direção ao lado externo da casa deixando o ancião preocupado mas sem como agir.

  Kisa, por sua vez estava confuso e hesitante.

- "Eu devia ir falar com ele, Kou não parecia estar se sentindo muito bem." - Pensou Kisa saindo de trás do pilar, observando a silhueta de Kou sumir.

- "Mas eu gritei coisas horríveis para ele ontem, acho que ele não quer me ver..." - Pensamentos ruins e tristes tomaram Kisa novamente, portanto ele apenas se virou e continuou seu caminho, deixando Kou seguir seu rumo.