Desisto

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Rapaiz...

                             🐛

                   CAPÍTULO 21

  O sol estava bem alto no céu, ardido, cansativo. O suor escorria pelo rosto de Kou, mas ele não tinha suas mãos livres para secar-se, elas estavam sujas de sangue.

- Perdemos outro. - O décimo grito em uma hora soou de algum lugar daquele pátio mórbido e Kou praguejou bem baixo pra si mesmo, frustado.

  Realmente ele tinha grandes feitos em relação àquela epidemia inédita e era bom com medicina, mas naquele lugar, para aquelas pessoas agonizando à beira da morte, Kou era inútil.

- Me... Deixe ir. - Sussurrou aquele soldado com a voz falha antes de cuspir sangue. Ele não devia ser muito mais velho que Kou.

- Não vou desistir de você, por favor não desista também. - Pediu Kou desesperado, lutando incessantemente contra as lágrimas.

- Minha noiva... Pode dizer que a amo? - Perguntou ele segurando a mão de Kou firmemente, com os olhos presos aos de Kou.

- Não, você dirá pessoalmente...! -

- Por favor... Eu não vou volt... - Antes de terminar ele tossiu, tossiu brutalmente uma quantidade preocupante de sangue.

- Q...qual o nome dela? - Perguntou Kou sentindo os olhos arderam. Era tão destruidor desistir de uma vida, tão dolorosamente arrasador que Kou não aguentava mais fazer aquilo.

- Sara... É a moça mais bonita da capital. - Sorriu o jovem moço pela lembrança doce.

- Uma estrangeira loira, se parece com um anjo. - Murmurou ele sorrindo para Kou e suas mãos afroxaram, seus olhos perderam a vida, mas o sorriso ficou em seu rosto jovem, mas tristemente mórbido.

- Não se preocupe com nada. - Pediu Kou abaixando a cabeça com os olhos pingando e o coração um pouquinho mais destruído.

- Mais um. - Gritaram ao seu lado e Kou foi puxado para sua realidade. Ele estava em uma guerra, não deveria sofrer tanto com mortes, ainda mais de quem não conhecia.

  Mas a teoria era diferente da prática. Kou estava acabado.

- Você tem dormido? - Perguntou Nahki se aproximando de Kou que havia achado um canto calmo à entrada da fortaleza para se sentar um pouco. Kou negou com a cabeça levemente

  Fazia quase uma semana que eles haviam chegado e Kou realmente não havia parado um segundo. Tanto seu corpo quanto sua cabeça estavam cansados.

- Kou, por favor, cuide de si mesmo. - Pediu Nahki gentilmente se sentando ao seu lado.

- Como você não se sente depressivo nesse inferno? - Perguntou Kou ainda com a voz e a cabeça baixa.

- Estou acostumado com o cheiro da morte, o som da dor e a cor da guerra. - Disse Nahki olhando para a floresta à frente.

- Não te incomoda estar acostumado com isso? - Perguntou novamente, agora olhando para a face pensativa de Nahki.

- No início eu me incomodava, o fato de ser um monstro era perturbador, mas logo passei a ser indiferente. - Explicou ele olhando para Kou também.

- Irei virar um monstro também...? - Murmurou Kou voltando a abaixar sua cabeça, perdendo a si mesmo para a situação.

- Kou, o que estamos fazendo aqui? Qual o verdadeiro motivo de termos vindo até aqui? - Perguntou Nahki gentilmente.

Imprevisível DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora