Aryana
Semana na ortopedia, ou seja, nada de ter que aguentar a víbora. Apenas quebrar ossos e colocar no lugar e a chefe da ortopedia é maravilhosa. Mas hoje ela parece estar maravilhosamente prestes a explodir. É difícil irritar a mulher, mas quando alguém consegue essa proeza, não há ser humano que consiga acalmar a fúria.
- Graças a Deus. - Ouço ela exclamar com algum raio-x na minha direção.
- O que foi?
- Uma fratura exposta!
- Eu fico muito feliz de ser sua amiga.
- Eu só preciso exalar minha raiva e...
- O que foi? Nada para quebrar?
- O paciente tem marca-passo.
- E isso é um problema, porque?
- Angel terá que participar da minha cirurgia. Eu detesto aquela mulher.
- Ah, se fosse só você Bella, acho que seria fácil resolver.
- Não vejo a hora de você ficar com o lugar dela.
- Como?
- Pensei que você ia especializar em cardiologia.
- Eu ainda não decidi, na verdade.
- Entendo, então, você quer ir preparar o paciente ou chamar nossa colega?
Nem me atrevo a deixar a opção no ar, vou em direção ao pronto socorro, preparar o paciente. Em 30 minutos o paciente já está anestesiado, com a Dra. Ratzo perto, caso precise intervir. O acidente foi de trabalho, o homem é pedreiro e entrou um vergão de ferro em seu braço direito. Tinha um pouco de cimento nele, então teria que quebrar ele para chegar no ferro.
- Vamos, bata este martelo no cimento Aryana.
- Mas e se eu pegar o braço?
- Não vai.
- Mas e se?
- Só destrua logo isso, é só bater. - A víbora diz, e o sorriso da Bella em expectativa para minha performance some.
- Não ligue para esse zunido Dra. Schwartz, apenas bata com o martelo.
E eu bato, quebro, tiro o vergão, deixamos o braço inteiro e quando a médica no outro extremo percebe que não precisará entrar em ação, decidi sair da sala de cirurgia.
Quando o paciente já está na sala de pós cirurgia, Bella chega com o rosto bem mais relaxado que hoje cedo e eu entendo. Bater e quebrar ossos realmente é algo terapêutico se estiver com raiva.
- Dra. Ratzo, eu poderia lhe pedir um favor? - Bella diz se aproximando dela na recepção.
- Claro, o que seria?
- Se quiser continuar com seu cargo, ensine os residentes e não os trate como o chão que pisa.
Com isso foi cada uma para um lado e eu fiquei ali sem saber se queria ir atrás de Isabella e abraçá-la, ou ir atrás de Angel, para saber se isso realmente a afetou de alguma maneira.
- Eu ainda não acredito que está aqui. - Ela segurava minhas bochechas e só afastava para me abraçar novamente.
- Mãe menos, até parece que não me vê a anos.
- Uma eternidade eu acho, querida. - Meu pai se aproxima beijando o topo da minha cabeça.
- Eu os vi faz duas semanas.
- Para mim, pareceu dois séculos. - Minha mãe retrucou, enquanto engatava no meu braço e íamos para a sala de jantar.
- Isso que moramos na mesma cidade, vocês sabem que podem ir me visitar também.
- E eu consigo tirar seu pai daqui? - Ela encarou meu pai, que só responde com um sorriso.
- O que posso dizer? O campo é muito mais agradável que viver em sociedade. - Meu pai é um general militar aposentado que sempre amou trabalhos manuais na terra, então quando ele se aposentou, minha mãe resolveu expandir o negócio dela de bolsas e acessórios, administrando de longe. Eles compraram uma propriedade longe da cidade, onde pudessem viver bem e confortáveis.
- Eu não o julgo, pai. As vezes tenho vontade de matar pessoas, ao invés de curá-las.
- Já decidiu a área que ficará?
- Ainda não, na verdade estou meio em dúvida.
- Tenho certeza, que qualquer coisa que escolher, você fará grandiosamente.
- Obrigada pai. - Estendo minha mão para apertar a sua, mas o toque é cortado pela comida sendo servida a mesa e minha mãe tagarelando.
- Agora me diga quem é minha futura nora?
- Sua futura... - Eu engasgo com o frango por um minuto a encarando. - ...nora?
- Não me venha com teatros, estou sentindo pelo seu olhar desde que entrou pela porta, que tem alguém balançando o coração da minha filha.
- Descobriu tudo isso, com meu olhar?
- E muito mais, então qual o nome dela?
- Ela não é nem minha namorada ainda, mãe.
- Então ela será em algum momento? - Desta vez é meu pai que questiona.
- Eu espero que sim, mas Clara não é das pessoas mais fáceis para demonstrações de afeto.
- Amor, não é com uma senhorita chamada Clara Evans que você me falou que tinha reunião, semana que vem?
- Disse, é ela?
- Mãe você nem ouse falar disso na sua reunião.
- Eu nunca faria isso. - Respiro fundo, me acomodando na minha cadeira. - Mas assim que acabar a reunião nada me impede de perguntar algo.
- Mãe!
- Sim?
- Por favor, não cause nenhum desentendimento. Já está bem difícil sem intromissão.
- Filha, nunca iríamos nos meter em sua vida, só queremos seu bem.
- Eu sei pai, mas Clara é uma pessoa que não foi regada de muito afeto como eu, então deem o espaço dela.
- Querida, se me permite, se ela é tão difícil de lidar e amar. Porque tenta? - Meu pai questiona.
- Por que, meus caros pais, sua filha já está muito mais que apaixonada por essa mulher.
E demos partida a nossa maratona de capítulos, espero que estejam preparados porque as meninas vão precisar de ajuda.
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O mistério de Grace
RomanceSinopse provisória: Clara Evans é uma arquiteta renomada e uma dos CEO da Art & Design, depois do seu acidente á dois anos, que quase a matou, ela decide que viverá sua vida verdadeiramente independente das opiniões alheias. Porém infelizmente, ela...