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Toda virada nova de ano, você olha para o céu enquanto explodem os fogos de artifício e pensa repetidas vezes que esse vai ser o seu ano. Seu ano de conquistas, seu ano de ganhos, não importa que você tenha dito o mesmo no ano interior e ele tenha sido uma avalanche de problemas. A maioria chama este ato de persistência, eu acredito que é mais um modo de nos iludir, afinal quais as chances de tudo dar certo em 365 dias?
Eu não deveria reclamar - ou talvez sim. Já se passaram cinco meses de doze e eu já fui ameaçada, pessoas que amo foram ameaçadas, quase ganhei uma machadada estilo O Iluminado do Stephen King, por pouco que não enforco minha própria mãe por não conseguir controlar nem a mim mesma e para finalizar desde o começo deste fatídico ano recebo cartas misteriosas com um remetente sem rosto que me deixam mais inquieta a cada dia.
— Clara já está tudo pronto com as bombas.. digo fogos.
— Bombas? Não combinamos que seria só fumaça colorida Aryana?
— Não deixam de ser - ela diz sorrindo e me dá um beijo na bochecha antes de ir checar algo que ela acabou de checar, por que essa era Aryana.
O jardim da casa do meu irmão parece outro lugar com luzes presas nas árvores e ao redor da cerca, um toldo foi colocado para o caso de chuva, tinha bolinhos e salgadinhos em tons azuis e dourados ou amarelos e uma música calma tocava ao fundo. A primavera abraçou esse dia de uma maneira melhor do que eu imaginaria.

Mas não só de incertezas vivo, depois que a loira com os olhos da cor de um oceano me provocou nas bodas de Kiara eu decidi não ir mais contra o que sinto e investi nisso, seja lá o que for isso. Eu não nomeei e Ary nunca tocou no assunto, mas desde aquela noite que ela me deixou de joelhos eu sinto que o mundo pode ruir sob minha cabeça e eu estarei bem porque sei que ela estará lá. Até na investigação das cartas ela se meteu, o que me preocupa mais a cada dia.
Não importa que ela seja filha de militar, que saiba manejar uma arma como tanto se gaba quando ela sai comigo para descobrir uma pista nova, esse não é o seu mundo - e nem o meu, não mais. Mas mesmo assim eu vivi isso, por quase dois anos, a adrenalina de ter que descobrir o que acontece por debaixo dos olhos de um civil, de correr contra o tempo para salvar uma vida ou impedir outra. Era intenso e perfeito e deixar o melhor trabalho da minha vida para agradar alguém que nunca moveu um centímetro ao meu bel prazer.

E por isso, desde que John me ofereceu voltar para a delegacia eu venho pensando um modo de falar isso com Felippe e ao mesmo tempo correndo para achar alguém para o meu cargo, afinal as inscrições para trabalhar na polícia acabam essa semana, mas em quatro meses meus sobrinhos nasceram e com isso tanto Felippe quanto Elisa estarão mais sobrecarregados, e uma empresa sem um dono não os ajudará em nada.
Eles são tão importantes na minha vida que me convenceram a preparar um chá revelação, e com ajuda de Ary em duas semanas tínhamos comida, decoração e tudo sob controle - vejo Ary pegando fósforos toda feliz - nem tanto.

Ela me convenceu que a revelação tinha que ser grandiosa, já que todos nesta festa fizeram apostas e tornaram a descoberta dos sexos dos meus sobrinhos um grande jogo de apostas. Antes de Ary chamar atenção de todos para o momento mais esperado, vejo Felippe e Elisa dançando em um balanço leve que nem movia os pés, aquela bolha só deles que fazia qualquer um desejar ter algo como aquilo para a vida.
— Atenção, para a grande revelação eu decidi.. digo eu convenci Clara de que seria com fogos de artifício, azul para menino e dourado para meninas, pois é o que tinha assim tão em cima da hora.
— Você está me engabelando com esses fogos a uma semana, como assim em cima da hora?
— Fala como se você tivesse aceitado de primeira.
— Eu amo dourado - interpôs Lis.
E então com o sol se pondo sob o telhado, e com uma contagem de apenas cinco segundos vi toda minha familia, a familia que amo e escolhi, abraçados e olhando para o horizonte para receber os novos membros.
— 3.. 2.. U.. - Lis parou a última palavra na boca e ficou deslumbrado o céu que estava nesse momento com o tom alaranjado, com brilhos azuis e um fraco dourado. — Amor Charles está a caminho - Lis disse passando a mão na barriga já enorme de cinco meses.
Felippe sorriu e entendeu que o meu sobrinho receberia o nome de nosso pai, e claro eu não pude segurar chorei junto com meu irmão. Haviam combinado que se fosse menino ela escolheria e menina o Fe.
— Sejam bem-vindos – Felippe se ajoelhou e beijou cada lado de sua barriga - Charles e Natalie.
— Quem é Natalie? – Ary me perguntou vendo a cena, e antes que eu pudesse responder, ouvi uma voz abaixo de mim falar e correr em direção ao casal com um abraço.
— Minha mãe. – Samuel disse sendo levantado por Felippe e acariciado pela irmã que ainda chorava ao contemplar o céu colorido.

VRR! VRR! VRR! - Meu celular vibra no bolso atrapalhando o momento e quando eu penso em guardá-lo, a mulher loira ao meu lado é mais rápida e o pega, eu já ia pestanejar mas por sua cara percebi que parecia importante.
No visor piscava só um nome, um nome que fazia minha tarde feliz um verdadeiro momento de tensão enquanto eu deslizava o dedo pela tela do celular.

Você tem três notificações de: John (Ranzinza).

O mistério de GraceOnde histórias criam vida. Descubra agora