Depois do jantar, fiquei deitada no sofá lá de baixo, dividindo a sala com Pedro. Ele ficou sentado de frente pra mim, dedilhando o violão, a cabeça baixa
-ouvi dizer que você tá namorando- comentei- e que é sério.
- meu irmão é mesmo um fofoqueiro!
Mais ou menos um mês antes da viagem, Lucas tinha ligado pro Henrique. Os dois passaram um bom tempo ao telefone, e fiquei ouvindo a conversa por trás da porta. Henrique não falava muito, mas parecia ser coisa séria. Entrei no quarto e perguntei sobre o que estavam falando, e Henrique me acusou de espionagem, mas acabou contando que Pedro tinha arrumado uma namorada.
- e aí? Como ela é?- perguntei, sem encará-lo.
Tinha medo de que ele percebesse quanto eu me importava com aquilo.
Pedro pigarreou antes de dizer:
- nós terminamos.
Quase engasguei. Meu coração parou de bater por um segundo.
- então sua mãe estava falando sério quando disse que você é um destruidor de corações.- era pra ser uma piada, mas as palavras soaram tanto na minha cabeça quanto no ar, como uma afirmação.
Pedro estremeceu antes de retrucar, a voz sem emoção:
-ela me deu um fora.
Eu não conseguia imaginar como alguém podia terminar com ele. Fiquei me perguntando como seria a tal menina. De repente formei a imagem de uma pessoa real e atraente na minha cabeça.
-qual o nome dela?
-que diferença faz?- perguntou Pedro, ríspido.
Então respondeu:- Lisa. O nome dela é Lisa.
-por que ela terminou com você?
Eu não conseguia me segurar, estava muito curiosa. Quem era aquela garota? Imaginei uma menina loira, com o cabelo bem claro e olhos azul-turquesa, com cutículas perfeitas e unhas longas e ovais. Minhas unhas sempre foram curtinhas por causa do piano, e depois que parei de tirar as mantive assim, só pelo costume.
Pedro largou o violão e ficou encarando o nada, amuado.- ela disse que eu mudei.
- e mudou?
- não sei. Acho que todo mundo muda. Você mudou.
- mudei como?
Ele deu de ombros e pegou o violão de novo.
- é como eu disse, todo mundo muda.
Flashback on:
Pedro tinha começado a tocar violão no ensino fundamental. Eu odiava quando ele tocava. Ele ficava sentado, dedilhando, meio distante, não completamente presente no momento, cantarolando sozinho enquanto parecia estar em outro lugar. Enquanto nós assistimos à TV ou jogávamos baralho, ele passava todo o tempo tocando. Ou ficava no quarto, praticando. Eu não sabia pra quê ele praticava tanto, mas aquilo me irritava, porque o violão o roubava de nós
Certa vez, ele tirou um dos fones de ouvido e estendeu pra mim, enquanto continuava com o outro, e disse:
- escuta isso- encostamos as cabeças.- não é incrível?
Era Pearl Jam. Pedro estava todo feliz e encantado, como se ele mesmo tivesse descoberto a banda. Eu nunca tinha ouvido, mas naquele momento, me pareceu a melhor música do mundo. Comprei o álbum ten e escutei sem parar. Sempre que ouvia a faixa cinco, "Black", era como se voltasse para aquele momento, várias e várias vezes.
Quando aquele verão acabou, quando voltei pra casa, fui até a loja, comprei a partitura e aprendi a tocar o álbum inteiro no piano. Achava que um dia acompanharia Pedro e formaríamos uma dupla ou coisa do tipo. O que era só um sonho idiota, porque na casa de praia nem havia piano. Helena até quis comprar um pra deixar lá, para que eu pudesse praticar, mas minha mãe foi contra.
VOCÊ ESTÁ LENDO
𝐶ℎ𝑜𝑖𝑐𝑒𝑠
Romance𝑪𝒉𝒐𝒊𝒄𝒆𝒔 (𝒆𝒔𝒄𝒐𝒍𝒉𝒂𝒔) "𝑵𝒐𝒔 𝒕𝒆𝒎𝒐𝒔 𝒂 𝒎𝒂𝒏𝒊𝒂 𝒅𝒆 𝒏𝒐𝒔 𝒆𝒔𝒄𝒐𝒏𝒅𝒆𝒓 𝒅𝒂 𝒇𝒆𝒍𝒊𝒄𝒊𝒅𝒂𝒅𝒆 𝒆 𝒔𝒂𝒃𝒐𝒕𝒂𝒓 𝒏𝒐𝒔𝒔𝒂 𝒑𝒓𝒐𝒑𝒓𝒊𝒂 𝒗𝒊𝒅𝒂. 𝑨 𝒈𝒆𝒏𝒕𝒆 𝒔𝒆 𝒂𝒎𝒆𝒅𝒓𝒐𝒏𝒕𝒂, 𝒔𝒆 𝒂𝒑𝒂𝒗𝒐𝒓𝒂 𝒆 𝒏𝒂𝒐 𝒔𝒂...