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Fiquei observando enquanto Pedro se despedia da garota de boné, que o abraçou. Ele retribuiu sem vontade. Fiquei feliz por ter estragado a noite dele, mesmo que só um pouco.

Outra garota me parou no caminho para o carro. Ela usava o cabelo castanho-claro preso em duas marias-chiquinhas e uma blusa rosa decotada.

- você gostou do Lipe?- perguntou, em um tom muito casual.

Eu me perguntei de onde ela o conhecia. Achei que ele fosse um zé-ninguém- assim como eu.

- não conheço ele direito- respondi.

A menina pareceu relaxar. Estava aliviada. Eu conhecia aquele olhar sonhador e esperançoso. Devia ser o mesmo que eu fazia quando falava do Pedro, quando tentava arranjar desculpas pra enfiar o nome dele nas conversas. Fiquei triste pós nós duas.

- eu vi o jeito como a Júlia falou com você- comentou a garota, de repente- não liga, não. Ela é uma pessoa horrível.

- a garota de boné? É, ela tem cara de ser horrível mesmo- concordei, antes de dar um tchauzinho e seguir com Pedro e Lucas até o carro.

Pedro dirigiu; estava completamente sóbrio, e eu sabia que estivera assim o tempo todo. Ele deu uma olhada no moletom do Lipe, mas não disse nada. Não trocamos uma palavra. Fui no banco de trás com Lucas, que até tentou fazer piada, mas ninguém riu. Eu estava ocupada demais pensando, lembrando tudo o que acontecera naquela noite. Foi a melhor noite da minha vida, pensei.

Na minha camisa da escola do ano anterior, André escreveu que eu tinha "olhos tão claros" que dava pra "ver minha alma" através deles. André era um garoto tímido da aula de teatro, mas mesmo assim gostei do elogio. Any fez pouco caso, dizendo que só o André repararia na cor dos meus olhos quando todos os outros caras estavam ocupados olhando para os meus peitos. Mas dessa vez não era André; era Lipe, um cara de verdade. E ele tinha reparado em mim antes de eu ficar bonita.

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