CAPÍTULO IX

8 2 0
                                    






Hanna suspirou, aliviada, quando viu a construção ampla e rústica de madeira e pedra, situada num fértil vale entre dois picos elevados de montanha. Embora a árdua jornada tivesse lhe deixado uma sensação de trepidação no corpo, ela acabara se acostumando depois de vários dias de viagem por terreno irregular.


Podia imaginar como o percurso devia ter sido desconfortável para Julius Tanner. Mas, levando em conta quanto uísque consumira antes de finalmente ter adormecido, Hanna presumia que o homem não se lembraria da dor e do desconforto causados pelos sacolejos da carroça ao longo da trilha.


Quando a carroça parou, ela desceu para massagear distraidamente seu quadril. Absorta, inspecionou a construção de dois andares que servia como entreposto comercial, agência telegráfica, estação de diligências e estalagem. Currais cercavam um gigantesco está-bulo de madeira. Mulas e cavalos pastavam nos currais, perus e galinhas ciscando no pátio em torno da estalagem.


- Por que você não vai entrando enquanto Pierce e eu trancafiamos os prisioneiros? - sugeriu Cale. - Levaremos Julius em poucos minutos e, então, enviaremos um telegrama que poderá ser entregue no acampamento base, notificando sobre a captura dos Markham.


- Cale! Você voltou!


Hanna virou-se para ver uma morena atraente, usando um vestido decotado que lhe realçava o busto generoso, descendo depressa da varanda e atirando-se em cima de Cale. Ela o abraçou pelo pescoço e o beijou em cheio nos lábios. Hanna teve a desagradável impressão de que a exuberante mulher tinha mais intimidade com Cale do que ela própria.


Quando Cale lhe lançou um olhar constrangido e tentou afastar a mulher até uma distância respeitável, a conclusão de Hanna se confirmou. Teve certeza de que aquela sirigaita morena tinha o costume de prover satisfação sexual durante as incumbências de Cale pelo território indígena.


Não pôde ouvir o que a mulher sussurrou ao ouvido dele, mas desconfiou que fosse um convite que o homem não recusava normalmente. Uma forte onda de ciúme dominou-a antes que tivesse tempo de lembrar a si mesma que não pedira, nem esperara intimidade e fidelidade da parte de Cale. Sim, eram legalmente casados, mas fora ela quem insistira num casamento apenas no papel.


Ainda mais espantoso para Hanna foi o evidente entusiasmo da mulher para entreter Cale da maneira mais íntima imaginável. Era possível que algumas mulheres não achassem o ato sexual ruim? Realmente gostavam daquilo que Hanna ouvira sussurrado em elegantes salões como sendo doloroso e desagradável?


- Millie - disse Cale, virando a efusiva mulher na direção dela. - Quero apresentar você a minha esposa. Mag... hã, Hanna Elliot. Esta é Millie Roberts.


- Sua esposa? - retrucou Millie, incrédula.


Com olhos arregalados, percorreu Hanna em seu traje nada feminino e, então, tornou a fitá-lo.


- Você deve estar brincando!


- Não - respondeu ele e, então, lançou um olhar inquieto a Hanna. -Millie trabalha no entreposto como arrumadeira e garçonete.


Hanna teve certeza de que ele não mencionara todas as funções da mulher, mas meneou a cabeça educadamente na direção dela.


- Prazer em conhecê-la, Millie.


A garçonete, ao que demonstrou, não teve o menor prazer em conhecê-la. Lançou um olhar fulminante à mão que Hanna lhe estendeu, jogou a cabeça para trás e girou nos calcanhares, afastando-se bruscamente.


Cale forçou um sorriso.


- Hã... Millie é um tanto temperamental. Lamento por isso.


Apesar do ciúme que corroía Hanna por dentro, sentiu-se um pouco melhor com o fato de Cale não ter tentado defender a amiga e ainda se mostrar preocupado por ter criado uma situação embaraçosa para a esposa.

Caçador Do Amor( Concluido)Onde histórias criam vida. Descubra agora