Quando acordou, Hanna deu-se conta de que se aninhava junto a Cale, sua perna curvada por sobre a coxa dele, o braço apoiado naquele peito forte como se seu lugar fosse ali. Recolheu-se rapidamente de volta a seu próprio espaço. Ela concluiu que a proximidade de ambos e sua inevitável admiração pelas habilidades do homem... sem mencionar a crescente atração, que não conseguia controlar... estavam se intensificando gradativamente.
Arriscando um olhar na direção de Cale, notou que ele a estudava com os olhos semicerrados. Perguntou-se se o homem notara a sua necessidade inconsciente de estar perto dele. Se havia percebido, quando ela o fitara, que fantasiara a seu respeito, imaginando-o inclinar-se sobre ela para beijá-la novamente, despertando-lhe mais uma vez aquelas tentadoras sensações que experimentara no final da cerimônia de casamento de ambos.
Sabendo que Cale era um homem honrado, apesar da idéia equivocada da sociedade a seu respeito, duvidava que ele faria quaisquer investidas românticas. Não, refletiu Hanna enquanto lhe abria um sorriso sonolento. Se fosse para acontecer mais algum beijo, previa que teria de ser ela a instigá-lo.
Contudo, Cale avisara-a, repetidamente, a ficar atenta ao que acontecia a sua volta. Não poderia fazê-lo se continuasse pensando em beijá-lo outra vez e especulando sobre o que acontecia entre marido e mulher... atrás de uma porta fechada. Mesmo que os relatos indicassem que a paixão não fosse assim tão prazerosa para uma mulher, Hanna estava adquirindo uma curiosidade insaciável. Sabia que, quando Cale a beijara, as mais incríveis sensações tinham-na dominado. Tinha uma idéia de que aqueles arrepios pela espinha e as repentinas ondas de calor que a envolviam eram resultado direto de sua atração física por ele.
Aquelas sensações intensificavam-se cada vez mais. Bastaria tomar a noite anterior como exemplo. Quando tinham estado junto ao rio, perguntara-se o que ele teria feito se tivesse saído detrás dos arbustos nua como estivera e o deixado tocá-la, beijá-la. Teria sido uma atitude extremamente ousada e imprópria para uma dama, mas sentira-se tentada a testar a reação dele.
A simples idéia do que poderia ter acontecido deixava-a com as faces afogueadas, o corpo vibrando com um inexplicável anseio. Olhou para o lado para notar que Cale arqueara uma sobrancelha espessa e a observava curiosamente. Franco e direto como sempre era, ficou surpresa que ele não lhe perguntasse por que, de repente, ficara vermelha feito um pimentão.
Embaraçada, levantou-se e desapareceu por entre as árvores para ir atender suas necessidades. Foi um alívio ver Skeet seguindo-a para se assegurar de que não se perderia, nem se meteria em apuros novamente.
Depois que levantaram acampamento naquela manhã e ela despediu-se educadamente de Julius e Pierce, retomou a jornada com Cale, notando que se mantinha demasiado taciturno a seu lado no assento da carroça. Desconfiava que, tendo sido um solitário durante anos, cansara-se da conversa dela, de suas observações e perguntas incessantes. Daria a ele seu próprio espaço... uma vez que parecia querê-lo. Naquele meio tempo, tiraria a si mesma do abismo emocional em que ia se precipitando e pararia de desejar mais daquele casamento de conveniência do que podia.
O fato era que gostava de seu marido... extremamente. Era um problema que não previra. Sentia uma atração forte demais por Cale. Talvez fosse tempo de iniciar sua campanha para transformá-lo num cavalheiro... o exato tipo de homem ao qual era imune.
Ela ponderava sobre um meio de conseguir conter aquele indesejável apego ao homem quando ouviu disparos reverberando pelo vale a oeste. Antes que se desse conta, Cale parava a carroça e saltava, indo desamarrar rapidamente o seu baio detrás do veículo. Depois de meter a espingarda na bainha presa ao dorso do animal, entregou a ela um dos revólveres de seu cinturão de couro.
— Leve a carroça até o arvoredo perto do riacho. Ali — instruiu, apontando para a direita. — Fique quieta até que eu vá buscá-la.
— Mas...
— Sem discussão. Apenas faça o que lhe digo — grunhiu ele, montando o baio e seguindo colina abaixo, abrindo sua própria trilha por entre as árvores. — Skeet!
O cão saltou da parte detrás da carroça, seguindo rapidamente seu dono.
A saraivada de balas e as pequenas nuvens de fumaça pairando no vale deixaram os cavalos agitados. Hanna falou-lhes suavemente e sacudiu as rédeas, começando a guiá-los. Era a primeira vez que Cale lhe confiava aquela tarefa e não tinha a intenção de deixar a parelha sair desgovernada. Cale tinha problemas de sobra a sua espera no vale sem precisar da incompetência dela para preocupá-lo mais.
Ficou dizendo a si mesma que, em se tratando de enfrentar o perigo, ele era incrivelmente capaz e sua reputação era prova o bastante do fato. Aquilo, contudo, não a impediu de seu preocupar com ele, enquanto ouvia os disparos dos rifles e gritos na distância.
Estava decididamente preocupada com a segurança e o bem-estar de Cale. E não era porque precisava de um marido vivo para manter seu pai longe. Era porque se afeiçoara a ele muito mais até do que gostaria de admitir.
Cale praguejou por entre os dentes enquanto avaliava a situação a sua frente. Choctaw Tom, um velho e corajoso fazendeiro indígena que ganhava a vida criando ovelhas e umas poucas cabeças de gado, estava cercado perto de sua cabana, lutando contra renegados que descarregavam suas armas na direção dele. Pior, ele reconheceu as montarias de Julius e Pierce amarradas a uma coluna junto à cabana.
Pelo que podia avaliar, provavelmente os agentes tinham parado para perguntar a Choctaw Tom se tinha visto algum sinal do bando de foras-da-lei. Sem dúvida, os Markham tinham estado à espera. Julius Tanner estava estendido na relva, imóvel. Pierce Hayden tinha se escondido atrás do bebedouro dos animais, que agora apresentava várias perfurações. Mantinha fogo cruzado com os bandidos, que tinham a vantagem de contarem com as densas árvores para se protegerem.
— Skeet. — Cale fez um gesto na direção do renegado que atirava rapidamente detrás de um arvoredo a oeste.
O cão avançou naquela direção a fim de deixar mais equilibrado o número de oponentes em cada lado. A espingarda na mão, Cale desmontou e adiantou-se sorrateiramente até o fora-da-lei à sua esquerda. O membro do bando estava de joelhos, atirando em Choctaw Tom e, então, recarregando o rifle depressa. Com o silêncio de uma sombra, Cale saltou em cima do homem antes de deixá-lo saber o que o atingira. Golpeou-o com o cabo da espingarda, deixando-o desacordado. Usou os cordões de sua camisa de couro para amarrar-lhe as mãos e os pés.
Atirou várias vezes bem acima da cabeça de Choctaw Tom para que os comparsas do malfeitor inconsciente não percebessem que um de seus homens fora tirado de ação. Rapidamente, ele esgueirou-se pela vegetação rasteira na direção do segundo fora-da-lei. Na distância, ouviu uma rosnadura feroz e um grito de dor. Ótimo, Skeet estava desarmando um dos homens que mantinham Pierce acuado atrás do cocho.
Agindo depressa, Cale imobilizou o segundo bandido, dando-lhe também um golpe certeiro com o cabo da espingarda que o fez cair feito uma árvore tombada. Usou o cinto do próprio homem para atar-lhe as mãos e arrancou-lhe as calças, improvisando uma maneira de prender-lhe os tornozelos com elas.
Confiscando o rifle do segundo renegado, disparou-o algumas vezes por precaução e, então, foi se aproximando, sorrateiro feito um felino, do terceiro membro do bando. Como previra, o homem se dera conta de que estava em apuros e tentou correr na direção de seu cavalo. Ele surpreendeu-o em seu caminho, saindo detrás de um arbusto e batendo-lhe com o cabo da espingarda no peito, fazendo-o cair para trás abruptamente em sua corrida. Antes que o homem tivesse chance de se recobrar, atingiu-o na cabeça também, fazendo-o perder os sentidos. Usando o cinto e as calças dele, repetiu o procedimento para mantê-lo prisioneiro.
Faltava apenas um, pensou ele, seguindo na direção de gritos e rosnaduras na distância. Como de costume, Skeet não dera trégua. O fora-da-lei recebera várias mordidas e desmaiara momentos antes de Cale chegar. Amarrando rapidamente o último fora-da-lei, avisou Pierce de que a situação estava sob controle.
— Puxa, Chefe, fico feliz em vê-lo — disse o colega com um profundo suspiro de alívio. Ergueu-se detrás do cocho de água e adiantou-se para examinar Julius, que fora baleado na coxa. — Você está bem, parceiro?
— Já estive melhor — resmungou Julius, fazendo uma careta. — Isto dói para diabo, se quer saber. Um drinque seria bem-vindo.
— Num minuto. — Choctaw Tom foi depressa até sua cabana e voltou momentos depois com uma garrafa de uísque caseiro.
Julius tomou um longo gole e lançou um olhar a Cale.
— Um pouco daquela sua magia indígena viria a calhar agora, Chefe. Onde está aquele cataplasma milagroso de que todos falam tanto?
— Na carroça com Hanna — respondeu ele. — Pierce, se fizer um torniquete em torno da perna de Julius, buscarei Hanna e estarei aqui o mais depressa possível.
Cale montou no cavalo mais próximo e saiu a galope. Para sua surpresa, quando chegou ao arvoredo, Hanna correu em sua direção, uma expressão aflita no rosto bonito.
— Oh, felizmente, você está bem! Eu estava tão preocupada! — exclamou, atirando-se nos braços dele no instante em que desmontou.
A saudação cheia de entusiasmo deixou-o tocado e divertido. Nunca recebera recepção tão calorosa de ninguém. Sentiu-se lisonjeado e pouco à vontade ao mesmo tempo. Por certo, não sabia lidar com o emaranhado de sentimentos que a mulher lhe evocava.
— Por que estava preocupada comigo? — perguntou. — Porque seu pai poderia levá-la de volta se ficasse viúva de repente? Ou porque precisa de mim para que eu a conduza por território selvagem?
— Cale Elliot, para um homem excepcionalmente brilhante e competente, às vezes você consegue ser incrivelmente obtuso — retrucou ela, zangada, batendo-lhe no ombro. — Eu gosto de você. Não se deu conta disso ainda?
Cale conteve um sorriso enquanto ela subia no assento da carroça, cruzava os braços sobre o peito e empinava aquele nariz delicado e aristocrático.
Ele amarrou o cavalo na parte detrás da carroça e, então, subiu no assento para pegar as rédeas.
— Gosto de você também, Flor de Magnólia — admitiu num tom manso.
O sorriso que ela lhe abriu quase o fez derreter. Ele franziu o cenho, lembrando a si mesmo mais uma vez que não poderia ficar à mercê das emoções, baixar sua guarda, distrair-se ou, de fato, ela acabaria ficando viúva. E certamente suscetível ao controle do pai dominador outra vez.
Ele não conhecia Walter Malloy, mas não gostava do sujeito por ter podado tanto aquela mulher que possuía tamanho entusiasmo pela vida.
Não, ele faria tudo o que fosse necessário para garantir que Hanna realizasse seus sonhos de liberdade e independência!
Mal Cale havia parado a carroça e Hanna desceu, ajoelhando-se ao lado de Julius num instante para examinar-lhe o ferimento. Durante o breve percurso até a cabana de Choctaw Tom, Cale lhe contara a versão resumida do tiroteio, e ela ficou surpresa com o fato de ele ter conseguido desfazer a emboscada sozinho. Então, deu-se conta de que aquilo não deveria surpreendê-la em absoluto; as habilidades do homem eram lendárias.
Sentiu uma peculiar onda de orgulho quando Pierce ajoelhou-se a seu lado e murmurou:
— Nós podemos ter provocado seu marido impiedosamente por ter-nos deixado surpreendê-lo ontem, mas, quando se trata de fazer o serviço, não existe ninguém melhor do que Cale Elliot. Às vezes, quando o vejo em ação, fico roxo de inveja.
— Somos dois — sussurrou Hanna de volta.
Um pouco mais tarde, ela ainda teria mais uma habilidade inesperada de seu marido para admirar. Foi ele quem extraiu a bala da perna de Julius e cuidou do ferimento. Existia alguma coisa que aquele homem não sabia fazer? Sua abrangente capacidade nunca cessava de aturdi-la e inspirá-la. Aquele era decididamente o homem que queria a seu lado quando as coisas se complicassem. Ali, naquela região bravia, aquilo parecia ser uma ocorrência diária.
Hanna deu-se conta de que passara a venerar o homem como a um herói recentemente. Somando-se aquilo a sua inevitável atração física seria, por certo, bastante difícil resistir ao charme de seu marido. Quanto mais tempo passava com Cale, mais se sentia tentada a explorar aquelas recém-descobertas ondas de desejo que a tomavam se assalto.
Não havia dúvida do que sentia por Cale.
Só restava saber se teria coragem para fazer algo a respeito.
Terminando de enrolar as ataduras em torno da perna de Julius, Cale observou Pierce saindo do meio das árvores com os quatro bandidos atravessados sobre o dorso dos próprios cavalos. Pela primeira vez, apreciou a companhia de outros homens da lei. Com toda a certeza, precisava de algo que o ajudasse a manter seu distanciamento de Hanna. A cada vez que a observava, suas fantasias tornavam-se mais eróticas e parecia não conseguir controlá-las.
— Se você não se importar, Julius e eu iremos com vocês até o Entreposto Bennigan — disse Pierce, aproximando-se. Lançou um olhar ao colega ferido. — Seria melhor se ele fosse na parte de trás de sua carroça. O homem se julga forte feito uma rocha, mas não deve se arriscar a contrair uma gangrena.
Cale assentiu. O entreposto comercial, que fora estabelecido no local de uma antiga instalação militar, incluía uma prisão onde os homens da lei regularmente prendiam bandidos antes de transportá-los até o acampamento base para, então, colocá-los no carroção dos prisioneiros e escoltá-los até Fort Smith. Levando em conta quanto o bando dos Markham era impiedoso e sanguinário, Cale sabia que quanto mais guardas houvesse vigiando os prisioneiros, melhor. Preferiria não ter de expor Hanna aos cruéis malfeitores, mas Julius precisava de assistência e de tempo para se recuperar de seu ferimento.
Uma vez que Cale e Pierce amarraram firmemente os prisioneiros aos cavalos, colocaram Julius com cuidado na parte de trás da carroça. Enquanto o pequeno comboio seguia, Cale censurou a si mesmo mais uma vez por estar arrastando Hanna por território perigoso, para enfrentar situações que uma sofisticada herdeira não deveria ter que encontrar. Mas tinha de admitir que sua esposa possuía mais fibra do que imaginara. Até então mostrara esforço, empenho para aprender, prontificando-se a fazer o que fosse necessário, nunca manifestando uma queixa. Ela estava fortalecendo seu caráter, ganhando confiança em suas habilidades e enfrentando todos os tipos de desafios.
Preocupado, lembrou a si mesmo que ela ainda precisava de muita experiência se queria seguir seu sonho de aventura no Oeste. Infelizmente, quanto mais a conhecia, mais gostava dela. Quando Hanna saísse de sua vida, ele imaginava que passaria seu tempo livre se perguntando onde e como ela estaria, enquanto buscasse seus sonhos.
Droga, para um solitário estava se acostumando depressa demais à presença de Hanna, a seu sorriso, a suas ocasionais explosões de raiva. Quando a visse partir, Cale temia que fosse sentir terrivelmente a falta dela.
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Caçador Do Amor( Concluido)
FanficHanna Malloy estava desesperada para ir para o Oeste... E Cale Elliot era a escolha perfeita para lançá-la numa vida de aventura. Agora, marido e mulher, o lendário caçador de recompensas a desafiava diariamente a tentar coisas novas. Mas seria sens...