Usando as calças de couro folgadas, os cabelos loiros metidos no chapéu, Hanna desceu a escadaria a tempo de ver os passageiros da diligência esvaziando a sala de jantar a fim de tornarem a embarcar. Ignorou o olhar letal de Millie e, então, seguiu os viajantes até o lado de fora. Seus passos vacilaram quando viu Cale parado junto à carroça, olhando diretamente para ela. O rosto desprovido de emoção, ele olhou para a diligência à espera e, depois para ela. Tinha o corpo másculo rígido, como se estivesse preparado para enfrentar problemas.
Hanna desviou dos passageiros, notando, enquanto o fazia, que Cale soltou um pequeno suspiro de alívio. Embora o homem tentasse não deixar transparecer a menor indicação daquilo, a impressão de Hanna foi a de que ele esperara vê-la embarcando naquela diligência e deixando-o para trás.
— O que fez você mudar de idéia? — murmurou Cale quando Hanna atirou seu alforje na parte de trás da carroça deles.
Ela virou-se para encontrar-lhe o olhar atento.
— No meio da noite, quando eu deveria estar dormindo em vez de ficar me revirando na cama, lembrei mim mesma que nós fizemos um trato. Gosto de pensar que sou honrada o bastante para cumprir minha palavra.
Ele sustentou-lhe o olhar.
— Não foi a mesma coisa, Mags. Não em absoluto.
O que, obviamente, nada tinha a ver com o comentário dela. Cale não sabia quanto ela ansiava por acreditar nele e não havia dúvida de que parecia determinado a convencê-la de que falava a verdade.
Abruptamente, ergueu-a em seus braços bronzeados e depositou-a no assento da carroça. Seu toque evocou visões da paixão que haviam partilhado, e, sem poder conter sua reação, Hanna estremeceu.
Apesar do número de pretendentes que a haviam cortejado e de todo seu dinheiro, a despeito da confusão e da incerteza que ela sofrerá na noite anterior, era aquele homem que a afetava de várias maneiras diferentes. Era um fato concreto, inegável.
Ela franziu o cenho, pensativa. Admitia que não tinha muita experiência em se tratando de paixão. Perguntou-se se, afinal, Cale lhe dissera mesmo a verdade. Era possível que sentisse uma certa afeição por ela? Que a união de ambos tivesse sido especial para ele também? Que mesmo com sua falta de experiência o tivesse tocado de alguma maneira em seu íntimo? Teria julgado equivocadamente o encontro amoroso de ambos por causa de seu campo limitado de referência? Teria reagido exageradamente na noite anterior?
— Agora, o que há de errado? — resmungou ele.
Hanna desviou de imediato sua atenção para Cale, que se sentara a seu lado para apanhar as rédeas da parelha. O homem era tão alerta e atento que nada lhe passava despercebido.
— Eu só estava pensando.
— Não sei se é uma boa idéia, Mags. Isso não ajudou em nada a situação de ontem à noite. — Ele fez um gesto para Skeet para saltar na parte detrás da carroça. — No que está pensando?
Hanna só retomou a conversa depois que Cale manobrou a carroça, colocando-a atrás da diligência, cujos cavalos partiram a um trote rápido.
— Quantas amantes você já teve? — perguntou à queima-roupa.
Cale quase se engasgou.
— Droga, Flor de Magnólia. Por que temos de falar sobre isso a fim de superarmos o que houve ontem à noite?
Ela curvou os lábios quando lhe notou o rosto bronzeado corando. Não soube dizer seja testemunhara algo de enternecer tanto em sua vida.
— Porque estou tentando entender uma coisa. E quero uma resposta sincera.
— Não quer sempre?
Ela observou a diligência desaparecendo por uma curva na estrada de terra antes de virar-se para fitá-lo.
— Menos de uma dúzia?
Cale limpou a garganta, tornou a corar e continuou olhando fixamente para frente.
— Bem menos — respondeu.
A admissão tranquilizou-a.
— Certo, vamos deixar as coisas assim.
— Ótimo. Nem posso dizer quanto fico contente em ouvir isso.
— E não foi a mesma coisa com o restante delas. Com toda a franqueza? — Hanna tinha de saber, pois aquilo importava imensamente.
— Não, Magnólia, não foi — respondeu Cale, fitando-a desejando fazê-la acreditar em sua palavra.
Ela o estudou por um longo momento e, então, meneou a cabeça e sorriu. Cale foi tomado por uma onda de puro alívio. Numa questão de minutos, haviam superado o problema que o mantivera acordado a noite toda. De um momento para o outro, voltava às boas graças de Hanna. Por quê? Porque acreditava nele. Porque nunca mentira para ela.
A tensão dissipou-se, e Cale deu-se conta de que a noite sem dormir deixara-o esgotado. Precisava de uma soneca para compensar.
— Fui ver como estava Julius esta manhã — comentou Hanna. — Pareceu estar se sentindo bem melhor.
Cale também fora ver Julius e fora um alívio constatar que o ferimento não mostrava sinais de infecção.
— Pierce foi me falar para nos desejar boa viagem — acrescentou ela. — São bons homens, aqueles dois. Espero ter a oportunidade de revê-los algum dia.
Cale entregou-lhe as rédeas.
— Mantenha uma distância de uns três quilômetros da diligência — instruiu.
— Por quê? — De repente, Hanna meneou a cabeça, pensativa, e respondeu a própria pergunta: — Porque, se eles depararem com algum problema, nós estaremos perto o bastante para ajudar, mas longe o bastante para usar o elemento surpresa.
Sem poder se conter, Cale depositou-lhe impulsivamente um beijo nos lábios rosados.
— Você aprende depressa, Mags. Bom para você.
Um brilho travesso brincou nos olhos dela, enquanto observava Cale ajeitando-se no meio dos suprimentos para tirar uma soneca na parte detrás da carroça, Skeet saltando para se acomodar a seu lado no assento.
— Esta jornada tem sido uma experiência bastante elucidativa em vários aspectos.
Cale e Hanna seguiram a diligência durante dois dias sem contratempos. No final do terceiro dia, nuvens ameaçadoras formaram-se no horizonte, ao pôr-do-sol, indicando que uma violenta tempestade estava prestes a desabar. Hanna aninhou-se ao lado de Cale no assento da carroça para se proteger do vento frio, enquanto relâmpagos cortavam o céu na distância e a trovoada parecia sacudir a terra.
— A tempestade está a aproximadamente cinco quilômetros — relatou ele.
— Como sabe disso?
— Vivi em imensos espaços abertos durante anos. As culturas indígenas fazem um estudo da mãe natureza. Para cada cinco segundos entre o clarão do relâmpago e o estrondo do trovão, pode-se calcular uma distância de um quilômetro e meio entre você e a tempestade.
Hanna perguntou-se por que seus estudos de física na escola de moças não haviam revelado aquela útil informação. Era, sem dúvida, algo que precisaria saber durante suas viagens.
Até então, Cale fora uma fonte inesgotável de informações úteis, e ela lhe dera apenas algumas dicas sobre o comportamento de um cavalheiro ao longo da jornada. Precisava iniciar para valer suas instruções sobre etiqueta, pois Cale lhe dissera que chegariam a Cromwell, no Texas, até o final da semana.
Ele parou a carroça abruptamente, sobressaltando-a-
— O que houve?
— Ouça.
Hanna ouviu-o, então, o alarmante som indicando problemas que se seguiu ao estrondo de um trovão. Tiros! A diligência!
Cale atirou-lhe as rédeas e deixou o assento, passando por cima dos suprimentos para saltar na sela do baio amarrado atrás da carroça.
— Mantenha sua distância, enquanto irei descobrir o que está acontecendo lá adiante. Skeet!
— Mas... — protestou Hanna quando Cale, seguido do fiel cão, saiu a galope, desaparecendo no meio da vegetação densa que ladeava a estrada.
A chuva torrencial desabou, e Hanna virou-se no assento para cobrir os suprimentos com a lona apropriada, prendendo-a rapidamente no lugar. Guiou, então, os cavalos pela chuva copiosa, estreitando os olhos para ver para onde estava indo. Cale dissera-lhe para manter distância de qualquer que tenha sido a calamidade que se abatera sobre os passageiros da diligência, mas aquilo não significava que não podia subir a colina e ver por si mesma o que acontecia no vale abaixo.
Quando o fez, soltou uma exclamação horrorizada ao avistar a diligência virada na beira da estrada... que se transformava rapidamente num lamaçal. De onde estava, pôde ver três cavaleiros mascarados cercando a diligência tombada feito abutres, trocando tiros com o cocheiro e o guarda que estavam agachados ao lado das rodas. Seu primeiro impulso foi o de descer a colina e levar ajuda e alento aos passageiros presos na diligência virada. Conteve-se, porém, lembrando-se dos constantes avisos de Cale.
Sabia que ele estava em algum ponto do vale, esgueirando-se feito uma sombra, destemido em sua intenção de prender os assaltantes que haviam atacado a diligência. De repente, sua necessidade de proteger e ajudar Cale a fizeram agir antes que tivesse tempo para reconsiderar. Foi o puro instinto que a fez tomar uma atitude, não a deixando voltar atrás.
Com um brado primitivo que qualquer bravo guerreiro indígena teria orgulho em saber dar, Hanna sacudiu as rédeas e fez os cavalos descerem a colina em disparada. Apesar do estrondo dos trovões, atraiu a atenção dos três ladrões, enquanto haviam se reunido para confiscar o cofre-forte que fora cair na relva. Hanna não parou de gritar e fazer estardalhaço, apenas freou a carroça na metade da colina e saltou até o chão para agitar os braços em sinal de protesto.
Enquanto Hanna chamava a atenção para si, Cale soltava por entre os dentes cada impropério que conhecia. Não conseguira ensinar nada àquela mulher? Era o dever dela manter-se a salvo, enquanto ele se concentrasse em neutralizar a ameaça à diligência. Embora lhe admirasse a coragem face ao perigo, além de sua tentativa de prover uma distração para ajudá-lo, ele não precisava de uma distração. Já enfrentara diversos oponentes sozinho em mais ocasiões do que poderia enumerar. Ao que parecia, a mulher não achava que ele pudesse dar conta de seu serviço eficientemente. Ou aquilo, ou era, no fundo, uma desafiadora do perigo e somente agora tivera a oportunidade de expor aquela alarmante característica.
— Skeet. — Cale apontou para o bandido mascarado que seguia em direção norte.
O cão saltou do meio da vegetação rasteira, correu em disparada e avançou para cima do cavaleiro. O cavalo assustado ergueu as patas dianteiras, derrubando da sela o cavaleiro que apontara sua arma para Hanna. Quando ele caiu em cheio no chão lamacento, Skeet atacou-lhe a mão da arma.
Cale já agia para imobilizar o malfeitor que cometera o erro de cavalgar perto de seu esconderijo no meio dos arbustos. Ele desarmara o homem desavisado e o derrubara da montaria numa questão de segundos. Balas passaram zunindo acima de sua cabeça e ele atirou-se reflexivamente no chão, rolando o corpo na direção da proteção da diligência tombada.
— Fico contente em vê-lo, Elliot — murmurou o cocheiro, enquanto punha o último bandido na mira de seu rifle.
Cale notou, satisfeito, que o condutor tinha ótima pontaria. Ele atingiu o braço direito do assaltante, fazendo-o virar de lado. Cale pôs-se de pé no momento em que o bandido tentou mudar o revólver para a mão esquerda. Antes de lhe dar chance de atirar, jogou-se sobre o braço machucado dele e o fez cair no chão, onde ficou urrando de dor.
Cale praguejou sem parar enquanto Hanna acabava de descer a colina depressa, as rodas deslizando precariamente na lama. Quase teve um ataque do coração antes que ela recobrasse o controle e impedisse o veloz veículo de tombar.
Deixando o cocheiro e o guarda encarregados dos bandidos capturados, Cale adiantou-se diretamente até ela, determinado a fazê-la ouvir uma boas verdades por não ter seguido suas ordens precisas e por quase tê-lo matado de susto.
— Oh, felizmente, você está bem! — exclamou ela, saltando do assento.
Antes que ele pudesse proferir uma palavra de reprimenda, Hanna deu-lhe um rápido beijo nos lábios e, então, correu na direção da diligência para ver como estavam os passageiros. Resignado em adiar seu sermão sobre a sensatez de se evitar riscos desnecessários e possivelmente fatais, Cale seguiu-a.
Duas cabeças despenteadas apareceram junto à porta, enquanto Hanna subia na diligência virada.
— Todos estão bem? — perguntou.
— Sim, na medida do possível — respondeu um passageiro magro, de bigode. — Tome, pegue a criança. Ela está assustada e sofreu algumas escoriações.
Hanna aninhou a menina trêmula de três anos em seu colo e encostou-lhe o rosto pálido no seu.
— Vai ficar tudo bem, querida. Tiraremos sua mamãe ali de dentro num instante. Cale cuidará disso, não se preocupe.
Cale viu-se imobilizado pela tocante cena de Hanna... encharcada até os ossos, os cabelos loiros grudados na cabeça... consolando a menina abalada. A imensa bondade dela e sua preocupação com os outros nunca deixavam de impressioná-lo. A mulher decididamente tinha um coração de ouro de vinte e quatro quilates.
Lembrando-se do comentário dela de que o valor de um homem era medido pela maneira como servia aos outros, ou algo parecido, Cale subiu na diligência e começou a tirar os passageiros. Um a um, tirou-os para a chuva torrencial e examinou-os à procura de ferimentos. Não soube ao certo o que fazer com a mulher que o abraçou pelo pescoço e o agradeceu uma dezena de vezes por tê-la salvo e a sua garotinha de morte certa. Ele lançou um olhar inquieto a Hanna, temendo que ela pensasse que estava gostando de ser abraçado por outra mulher.
Ela abriu-lhe um sorriso maroto.
— Parece que me casei com um homem do qual as outras mulheres simplesmente não conseguem manter as mãos afastadas. Acho que terei de me acostumar com isso.
Quando a garotinha chorou pela mãe, a mulher soltou Cale e aninhou a filha em seus braços protetores.
— Fico-lhe eternamente grata — disse por sobre o ombro. — Meu marido está em Fort Griffin, no Texas. Estamos a caminho para nos reunirmos a ele. Se algum dia passar pelo forte, será mais do que bem-vindo em nossa casa. Muito obrigada por sua ajuda.
Enquanto Hanna ajudava mãe e filha a descerem até o chão, Cale inspecionou a diligência. Felizmente, parecia não haver danos sérios que impediriam a viagem. Depois que ele amarrou os prisioneiros, ajudou o cocheiro, guarda e passageiros a erguer o veículo. Quinze minutos depois, o pequeno comboio estava a caminho da pequena estação de diligências situada oito quilômetros ao sul.
Depois que Cale amarrou os prisioneiros à parte de trás da carroça, subiu no assento e encarou Hanna de cenho franzido.
— Nunca mais faça isso — ordenou.
Ela sustentou-lhe o olhar fulminante.
— Eu só estava provendo uma distração.
— Não me importa. Continue tentando me matar de susto desse jeito a cada poucos dias e não viverei o bastante para chegar ao Texas.
Hanna tocou-lhe o braço e abriu um daqueles sorrisos encantadores que tinham o poder de fazê-lo derreter. Droga, estava aborrecido, contrariado com ela, mas aquele toque sempre era capaz de acalmar a fera selvagem rosnando dentro dele.
— Agradeço sinceramente sua preocupação, mas não é de minha natureza ficar só olhando de braços cruzados quando você precisa da minha ajuda. Estamos nisto juntos e não deve se esquecer do fato.
Cale suspirou com resignação, enquanto rumava para a estação de diligências. Tentou se lembrar se já vencera alguma discussão contra a obstinada mulher que desposara. Lamentava dizer que achava que não.
Hanna ficou satisfeita com o resultado da aventura daquela noite. Ajudara a pôr um fim a um assalto a diligência e Cale não a repreendera... tanto. Sua necessidade de ser útil fora atendida mais uma vez e lembrou a si mesma que vivera mais intensamente numa semana do que fizera em vinte anos sob o jugo de seu pai dominador.
Também tivera tempo para refletir sobre a embaraçosa discussão que iniciara no Entreposto Bennigan. Estava aborrecida consigo mesma por ter-se deixado magoar tão facilmente. Acontecia apenas que ficara sensível demais em relação à intimidade que partilhara com Cale. Mas, talvez, o momento tivesse sido especial para ele também. Afinal, nunca fizera amor com uma esposa antes. Aquilo teria tornado a noite de ambos diferente das que tivera com Millie e outras mulheres.
Disse a si mesma para não ficar analisando aquela noite memorável exaustivamente. Devia apenas aceitar o prazer erótico pelo que era. Cale insistira que fora algo diferente para ele, e ela deveria encerrar o assunto ali. Além do mais, Cale não era do tipo dado a sentimentalismos e que oferecia compromissos permanentes. Não podia. Não em sua perigosa linha de trabalho. Era compreensível por que vivia o momento e não olhava muito adiante no futuro. Seu mundo consistia da sobrevivência do dia-a-dia.
Apanhando seu novelo de lã e agulhas de tricô, Hanna desceu as escadas até a sala de jantar da pequena estalagem da estação de diligências para se reunir aos passageiros. Cale saíra uma hora antes para se certificar de que o porão que serviria de cadeia improvisada para os bandidos era seguro. Também a informara de que precisaria ir falar com um de seus ex-colegas, que possuía uma fazenda dez quilômetros a oeste da estação. Enquanto Cale tomava providências para que os bandidos fossem entregues aos agentes federais no Entreposto Bennigan, Hanna decidiu descobrir se levava jeito para o tricô.
Mary Watkins, cuja filha ela tirara da diligência tombada, oferecera-se para lhe ensinar a tricotar, enquanto os passageiros descansassem perto da lareira. Mary, Hanna não demorou a perceber, era excepcionalmente habilidosa com as agulhas de tricô: o belo xale que estava fazendo rapidamente para a filha, Elaina, era a prova de seu talento.
Hanna, no entanto, teve de usar profunda concentração para aprender as técnicas básicas e não lhe pareceu que o tapete que estava começando a tricotar para Skeet ficaria tão bom. Disse a si mesma que melhoraria com a prática e, de fato, manteve-se empenhada em seu novo projeto, mesmo depois que se recolheu ao quarto.
De qualquer modo, soube que não teria conseguido conciliar o sono enquanto Cale não chegasse. Estava surpresa com sua intensa necessidade de se ver nos braços dele novamente. De repente, tudo o que impor, tava era o anseio por reviver aqueles incríveis momentos em que se sentira viva, livre e totalmente desinibida com ele.
Sentada diante da janela, avistou-o abaixo, enfim quando Cale chegou em seu baio, e deixou o quarto ansiosa para ir ao encontro dele no estábulo. Enquanto descia a escada da estalagem silenciosa, ocorreu-lhe que a liberdade não era algo que se encontrava num determinado lugar, numa parte específica do país. Era uma sensação que existia dentro de uma pessoa. Cale Elliot presenteara-a com aquela sensação única e ansiava por retribuir. Prometeu a si mesma que, de algum modo, aprenderia a dar prazer a seu marido da mesma maneira que ele lhe dera. E não deixaria que o orgulho e a vaidade se pusessem em seu caminho novamente. Ele era tudo o que um homem devia ser: forte, capaz, destemido e confiável. E fora surpreendentemente terno e gentil quando lhe desvendara um mundo de paixão.
Hanna contornou o canto do estábulo... e foi puxada de encontro ao peito sólido de um homem, a lâmina fria de um punhal rente a seu pescoço antes de ter tempo de reagir.
— Droga, Magnólia — uma voz contrariada murmurou-lhe ao ouvido. — O que está fazendo aqui fora? Deveria estar na cama a esta hora.
Cale soltou-a de imediato. Ela virou-se para fitá-lo e abraçou-o pela cintura.
— Tem razão. Eu deveria estar na cama — disse-lhe, atrevida. — Mas eu não queria ir para a cama sem você.
Ficou na ponta dos pés para beijá-lo nos lábios e se viu sendo erguida do chão rapidamente. Cale tomou-lhe os lábios com um beijo faminto, quase desesperado, e ela correspondeu com o mesmo ardor, o desejo percorrendo-a enquanto era moldada de encontro àquele corpo viril.
A gentileza que ele demonstrara na primeira vez se fora, mas Hanna não se importou, sabendo que todo aquele ímpeto e impaciência eram prova de que Cale a queria com a mesma paixão que a dominava.
Ele ergueu-a em seus braços, encaminhando-se até a estalagem.
— Não aqui fora. Não com você, Mags — disse, rouco. — A primeira coisa que comprarei quando chegarmos a Cromwell será a maior e mais macia cama com um colchão de plumas que eu puder encontrar. É o que você merece.
Hanna sorriu quando ele a depositou na varanda.
— Ora, eu me casei bem, não foi? Tenho um marido que coloca o meu conforto acima de tudo...
Mal teve tempo de terminar o comentário em tom de gracejo quando Cale pegou-lhe a mão e quase a arrastou escada acima em seu anseio por privacidade.
Trancando a porta atrás de ambos, não perdeu tempo em começar a despi-la, nem fez tentativa alguma de ocultar seu prazer em banquetear os olhos com os encantos dela.
— Oh, você é linda — murmurou, rouco. — Se isso a ofende, Mags, desculpe-me. Mas você é.
— Vindo de você, tomo isso como um elogio — respondeu Hanna, ocupada em livrá-lo da camisa.
Cale deitou-a nua na cama, contemplando-a sob a luz do lampião que ficara aceso, ansiando por tocar e beijar cada pedacinho daquele corpo sedutor. Passara os dias anteriores tentando manter seu autocontrole, mas ele se dissipara por completo quando ela aparecera no estábulo e o beijara como se estivesse louca para estar em seus braços.
Ele estava enlouquecendo, desejando-a cada vez mais, tomado por uma paixão insaciável por aquela mulher que, pouco a pouco, ia tomando por completo o seu coração cuidadosamente guardado.
— Ensine-me a lhe dar prazer da maneira como fez comigo — sussurrou Hanna, correndo as unhas pelo peito dele. — Gosta disto?
Fazendo-o deitar de costas, percorreu-lhe o tórax com lábios úmidos, descendo até o abdome.
Cale soltou um gemido, mal encontrando a voz:
— Sim, gosto muito — murmurou.
— E disto?
Ela deslizou a mão espalmada pela cintura da calça dele e, quando a ponta de seus dedos roçou sobre o couro que lhe cobria a rija masculinidade, Cale teve a impressão de que o ar lhe faltava.
— Hanna...
— Gosta? — persistiu ela, acariciando-o de maneira ousada.
— Sim, mas...
— Quero minha vez com você. Quero que saiba como é estar tão irremediavelmente fora de controle que nada mais no mundo importa. Da mesma maneira que aconteceu comigo porque eu não me importei com nada mais além do prazer do seu toque.
Ele a fizera sentir-se daquele modo? A sinceridade dela e os pensamentos que expressou agradaram-no imensamente. Mas não teve tempo de refletir sobre aquilo porque Hanna livrara-o das calças e o afagava agora com abrasadora intimidade. Quando ela se ajoelhou na cama e ministrou-lhe carícias tentadoras, substituindo o toque mágico de suas mãos pelo dos lábios macios, Cale estremeceu de prazer diante da doce tortura. A mulher o estava matando... e ele estava adorando cada instante de suas eróticas carícias.
Mais um vez, lembrou a si mesmo que os talentos ocultos dela como uma sedutora nata eram inigualáveis. O fogo do desejo percorria suas veias feito lava incandescente, o coração batendo alucinadamente no peito.
Não conseguiria manter seu controle por muito mais tempo e a idéia de não tocar Hanna, de não trazer à tona a paixão que lhe despertara naquela primeira noite, foi-lhe intolerável.
Segurando-a pelos ombros, puxou-a para si e tomou-lhe os lábios com um beijo faminto, sôfrego, que atestou quanto a desejava.
— Quero você mais do que quero ar para respirar. Preciso tocar você outra vez. Agora.
Deitando-a de costas na cama, inclinou-se para proporcionar-lhe o mesmo prazer que ela lhe dera até então. Quando a tocou intimamente com suas mãos e lábios ansiosos, comprovou que a intensidade do desejo que a percorria igualava-se à sua.
Mas não se daria por satisfeito enquanto não a acariciasse até levá-la aos limites da sanidade. Até enlouquecê-la com a mesma doce tortura que lhe proporcionara. Queria ouvir seu nome nos lábios dela, queria ouvir aqueles gritos e gemidos suplicantes que lhe assegurariam que exercia o mesmo poder sobre Hanna que ela exercia sobre ele.
Ela podia escravizá-lo com sua ternura e sua determinação a lhe dar prazer. Podia fazê-lo tremer de desejo e perder todo seu controle. Ele jamais conhecera tamanha vulnerabilidade, tamanha entrega, e não achara que gostaria muito daquilo. Mas quando Hanna o seduzia e o enlouquecia de desejo, não se importava com nada além de estar naqueles braços macios.
— Cale... — gemeu Hanna, estremecendo de prazer.
Ele sorriu quando, enfim, ela o puxou para si para capturar-lhe os lábios com os seus. Partilharam da paixão um do outro num beijo que falava de desespero, de um conhecimento íntimo e mútuo que não dividiam com mais ninguém.
Cale interrompeu o beijo para lhe observar o rosto belo e inebriado de paixão sob a luz do lampião, os cabelos loiros espalhados pelo travesseiro. Ela o queria com todo o ardor e se entregava com abandono a ele naquele espaço de tempo, até que os termos do trato de ambos fossem cumpridos. E até que a liberasse para ir em busca de seus sonhos, seria sua esposa, sua amante e sua amiga mais íntima.
Segurando-a pelos quadris, penetrou-a, maravilhando-se com o incrível senso de enlevo, desfrutando o indescritível calor de estar envolto pela maciez e o calor dela. Hanna acompanhou-o em seus movimentos cadenciados, ondulando e arqueando os quadris, intensificando a união de seus corpos. Era como se tivessem sido amantes por toda uma eternidade, como se soubessem instintivamente como satisfazer um ao outro.
O ritmo de seus corpos tornou-se frenético, a paixão consumindo-os num crescendo, até que, dizendo o nome dele sem parar, Hanna sentiu os deliciosos espasmos percorrendo-a. O eco de seu prazer reverberou pelo corpo de Cale, desencadeando um êxtase igualmente avassalador que não demorou a arrebatá-lo.
Ele abraçou-a com força, beijando-lhe os cabelos fragrantes.
— Nunca foi desta maneira, doçura — disse-lhe, ofegante. — Acredite.
Hanna roçou-lhe o ombro com seus lábios e curvou-os num sorriso.
— Acredito em você.
As palavras tocaram-no até o fundo da alma.
Sempre tivera o respeito relutante das outras pessoas, porque o temiam e à sua reputação. Aceitara o isolamento de ser diferente e indesejável na sociedade. Mas nunca antes encontrara o tipo de confiança inabalável de Hanna e aquilo o enaltecia. Ela o fazia sentir-se desejado, digno e especial.
— Você me faz precisar demais de você — murmurou. — Isso é algo perigoso.
— Você me faz querer você demais. É algo perigoso. Mas estou descobrindo que adoro viver perigosamente.
Cale sorriu, irônico.
— Provou isso com suas ousadas peripécias durante o assalto à diligência. E chamam a mim de destemido?
Virou-se para o lado e, então, estreitou-a em seus braços. Jamais passara uma noite inteira com uma mulher antes. Nunca quisera. Sempre fora movido pela necessidade de seguir em diante, de manter seu estilo de vida de lobo solitário. Mas, quando Hanna entrara em sua vida com aquela espantosa proposta, tocara a emoção profunda que fora reprimida em seu coração cinco anos antes. Fizera-o querer mais da vida, coisas que nunca considerara dentro do leque de possibilidades. Coisas perigosas demais para considerar mesmo agora.
— Boa noite, marido — murmurou Hanna, aninhando-se mais em seus braços.
— Boa noite, esposa.
Cale teve certeza de que adormeceu com um sorriso tolo nos lábios. Aquilo estava se tornando um hábito que não teve certeza de que queria quebrar... até o dia em que cumprisse o acordo de ambos e a deixasse seguir seu caminho.
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Caçador Do Amor( Concluido)
FanfictionHanna Malloy estava desesperada para ir para o Oeste... E Cale Elliot era a escolha perfeita para lançá-la numa vida de aventura. Agora, marido e mulher, o lendário caçador de recompensas a desafiava diariamente a tentar coisas novas. Mas seria sens...