— E então, papai? O que você está achando? — Do alto do assento da carroça, Hanna sorriu com admiração na direção da casa de fazenda que se tornara seu novo lar.
— Tem certeza de que é o que você quer? — perguntou Walter, enquanto inspecionava o vale com ar crítico. — Isto decididamente não é Nova Orleans. É o meio do nada.
— Não quero Nova Orleans — retrucou ela e, então, abriu-lhe um sorriso indulgente.
Ah, que diferença três dias tinham feito em seu relacionamento com seu pai. Haviam chegado a um entendimento uma vez que ela percebera por que ele mantivera uma distância emocional entre ambos no decorrer dos poucos anos anteriores. Tocava-a a fundo o fato de o pai nutrir uma afeição tão forte e inabalável por Clarissa. Apesar de todo seu autoritarismo, Walter Malloy era um homem passional que amava profundamente e voltara-se para os negócios para preencher o vazio em sua vida.
E não é o que você está fazendo também?, perguntou-se Hanna. Estava à procura de um lugar para o qual transferir seu imenso amor por Cale. Buscava um novo propósito para sua vida. Aquela fazenda recentemente abandonada perto de Cromwell seria o lugar onde ela poderia dar sua contribuição ao mundo. Não era tão distante de Nova Orleans a ponto de ela e o pai não poderem se visitar regularmente, e poderia encontrar o bastante de causas nobres para apoiar em Cromwell.
Dois dias antes, Hanna pedira a Arliss para enviar um telegrama ao filho dos antigos proprietários da fazenda que Pryor tomara. No dia anterior, recebera a resposta de que a fazenda era dela pelo generoso preço de compra que oferecera. Tinha toda a intenção de transformar em algo honesto e bom aquele lugar que tinha se tornado um covil de criminosos.
Além disso, comprara de Arliss o imóvel onde fora montada a loja de armas e pretendia supervisionar o negócio... com a ajuda de um assistente. Lidar com armas, afinal, parecia ser seu talento oculto. Ela se tornara uma espécie de heroína, uma inspiração para as outras mulheres da cidade, após sua participação na batalha que pusera um fim no reinado de terror de Pryor.
A cidade de Cromwell se tornaria o novo lar de Hanna, que sabia que não precisava olhar mais além para encontrar seu lugar no mundo.
— Este lugar precisará de considerável trabalho — comentou Walter. — Aquela mobília terá de ser trocada. Providenciarei para que os móveis e ornamentos apropriados sejam entregues aqui depois que eu retornar a Nova Orleans.
Quando a filha lhe dirigiu um olhar de aviso, ele soltou um profundo suspiro.
— Oh, está bem, faça as coisas a sua maneira — disse, cedendo. Hanna inclinou-se para beijar-lhe a face. — Obrigada, papai. Fico contente que você esteja Começando a perceber que tenho estado no controle da minha vida nos últimos tempos.
— E eu me vejo preso à incômoda tarefa de informar Louis Beauchamp de que você não quer se casar com ele. — Walter massageou as têmporas e franziu o cenho. — A simples perspectiva de ouvi-lo emitindo mais ameaças me deixa com dor de cabeça.
— Não tenho dúvida de que você conseguirá lidar com aquele aristocrata pomposo — declarou Hanna, confiante. — Você sempre conseguiu lidar com qualquer pessoa.
— Exceto com você e com aquele seu marido cuspidor de fogo — resmungou Walter. — O que, afinal, você fará em relação a ele?
A pergunta apagou o sorriso provocador dos lábios de Hanna. Olhou para a distância, tentando se recompor, tentando não deixar transparecer sua dor e saudade.
— Você já admitiu que está apaixonada por aquele grande bruto — lembrou-a o pai. — O que vai fazer a respeito?
— Nós tínhamos um trato e ambos cumprimos a nossa parte — afirmou Hanna, enquanto guiava a carroça de suprimentos para sua nova casa.
— E você não é filha de seu pai se vai desistir do que quer assim tão facilmente — declarou Walter. — Suborne o homem para que fique. Isso dá certo comigo.
Hanna soltou um riso, e o pai sorriu, espirituoso.
— E mais — prosseguiu ele —, como conseguirei netos para mimar e paparicar se você estiver casada sem estar realmente casada no verdadeiro sentido da palavra?
A perspectiva de nunca ter seus filhos para amar fez com que o sorriso de Hanna morresse em seus lábios. A imagem de um filho de cabelos pretos e olhos da cor da meia-noite surgiu em sua mente. Bem, nem todos os sonhos destinavam-se a se tornar realidade, lembrou a si mesma. Teria de se contentar em montar um lar naquela fazenda e dirigir a loja de armas.
— Acho que eu poderia me oferecer para pagar o homem para engravidar você, nos intervalos das andanças dele por território indígena — sugeriu Walter.
— Papai! — Hanna encarou-o, boquiaberta, escandalizada.
— Oh, pelos céus, não me olhe desse jeito — resmungou Walter. — O homem fará obviamente qualquer coisa que você lhe peça. Você o está mantendo sedado com láudano há três dias para que não se levante durante tempo o bastante para se recuperar da bala que recebeu no seu lugar. Não posso imaginar que dormir com uma linda mulher que é legalmente sua esposa seja uma imposição pavorosa.
— Não falaremos mais sobre esse assunto — declarou Hanna, parando a carroça ao lado da varanda da frente. — Você prometeu me ajudar a abastecer a casa, não dirigir minha vida. Farei com que cumpra a promessa.
Embora Walter resmungasse e objetasse ao fato de que Hanna não contratara ninguém para assumir a tarefa da mudança para a casa, levou uma caixa atrás da outra para dentro.
Foi um alívio para Hanna que o pai tivesse deixado de lado o delicado assunto em torno de seu marido e da separação definitiva de ambos. Precisava desesperadamente de tempo para aceitar o fato de que Cale não queria um futuro a seu lado.
Cale Elliot não a amava. Era um homem honesto e teria dito aquilo com toda a clareza se tivesse sido o caso. Sempre pudera contar com a sinceridade dele.
Ela, como o pai, obviamente apaixonara-se somente uma vez na vida, e nada poderia alterar ou diminuir aqueles sentimentos que vinham do fundo da alma. Bem, ao menos seu pai tivera vários anos com Clarissa. Infelizmente, a Hanna fora concedido apenas um pouco mais do que um mês com Cale. Talvez o breve tempo de ambos juntos tornasse mais fácil esquecê-lo... mas ela tinha sérias dúvidas a respeito.
Hanna respirou fundo para se recompor e olhou ao redor de seu novo lar nos arredores da civilização. Comprometia-se a tornar aquela fazenda próspera e a levar melhorias a Cromwell. Aquela era sua vida agora e a preencheria com as recentes amizades, causas nobres e atividades comunitárias. Encontraria dezenas de projetos para ocupar seus dias e noites depois que o único grande amor de sua vida se recuperasse dos ferimentos e partisse para retomar seus deveres para Parker.
Cale levaria o coração dela consigo quando fosse embora. Hanna não podia imaginar como sobreviveria sem seu coração. Sem ele.
Cale gemeu enquanto despertava lentamente. Abriu os olhos, satisfeito em notar que suas pálpebras moviam-se normalmente. Ora, que surpreendente diferença uma noite de sono fizera! Olhou para o braço, percebendo que um novo curativo fora feito sobre o ferimento à bala. Um preparado de sálvia cobria o ferimento de raspão deixado pela primeira bala da qual não conseguira desviar completamente durante o ataque que sofrera na rua.
Lançou um olhar na direção da forte claridade que adentrava pela janela e foi tomado por um imenso senso de perda. Sabia que Hanna partira havia muito e que jamais tornaria a vê-la. O pensamento fez com que um nó lhe contraísse o estômago vazio.
Sabia que fizera a coisa certa quando dissera a Hanna para partir, mas já sentia sua falta terrivelmente. Bem, simplesmente teria de se manter ocupado. Escoltaria Pryor e seu bando até Fort Smith e, então, seguiria com mais uma remessa de mandados de prisão para limpar o território indígena. Aquele era seu trabalho, afinal. Era o que sabia fazer bem.
O rangido da porta do quarto de hotel colocou-o em alerta de imediato. Estendeu a mão reflexivamente até seu revólver, mas não o encontrou à cinta, nem debaixo do travesseiro. Bem, se o intruso atacasse, ele teria de apelar para um combate corpo-a-corpo e ainda não se achava em condições para tanto. Ainda sentia dores por todos os lados.
Para seu grande alívio, a cabeça ruiva de Arliss Fenton apareceu no vão da porta.
— Bom dia — saudou-o ele animadamente. — Vou enviar alguns garotos para encherem a banheira para que você possa tomar um banho e se barbear.
Cale apreciou o gesto de consideração. Aguardou enquanto o grupo de garotos entrou e se retirou e, enfim, mergulhou o corpo devagar na banheira de água quente. Sentindo-se bem melhor, vestiu as roupas limpas que alguém deixara no encosto da cadeira.
Minutos depois, Arliss retornou, carregando uma bandeja com o café da manhã. Cale arregalou os olhos quando notou a estrela de xerife no peito de Arliss.
— Quando foi que isso aconteceu?
— Os moradores da cidade me indicaram como seu xerife — contou Arliss, orgulhoso. — Embora eu não me enquadre na mesma categoria de herói que você e Hanna, fui nomeado por Julius e Pierce. Ambos alegaram que, uma vez que fui o único homem na cidade disposto a ir contra Pryor, o emprego deveria ser meu.
Cale observou a insígnia, a qual fora polida até brilhar. Mais uma vez, era um símbolo prestigiado de lei e ordem.
— Os moradores da cidade fizeram uma sábia escolha.
Arliss sorriu amplamente enquanto colocava a bandeja no colo de Cale.
— Obrigado. Felizmente, não haverá mais atividades criminosas aqui agora que Otis Pryor e seus comparsas foram escoltados até Fort Smith. Não tenho de dividir muito o meu tempo entre o telégrafo e o escritório do xerife.
— O quê? — disse Cale, incrédulo. — Quem escoltou o bando de Pryor? Julius e Pierce? Droga, esse era o meu trabalho.
Precisava daquela preocupação para tirar Hanna dos pensamentos, para não passar cada minuto se perguntando onde ela estaria, em que apuros teria se metido sem ele por perto para protegê-la e quantos homens estariam na fila para que um tomasse o seu lugar na cama dela.
— Julius e Pierce ainda estão na cidade. Foram os detetives da Pinkerton que se ofereceram para transportar os prisioneiros até Fort Smith. Eles enviarão o dinheiro da sua recompensa para Cromwell — informou o novo xerife local. Então, piscou-lhe um olho. — De acordo com Julius e Pierce, você ganhará uma vultosa soma.
— Não quero o dinheiro — resmungou Cale antes de atacar o bacon crocante e os pãezinhos macios. Ora, estava faminto. Tinha a impressão de que não comia havia uma semana.
— O dinheiro da recompensa é seu, assim mesmo. — Arliss cruzou os braços sobre o peito magro e recostou-se descontraidamente na parede.
— Você providenciou para que Hanna embarcasse na diligência da manhã sem que o pai exigisse que ela retornasse para Nova Orleans? — perguntou Cale. Estreitou os olhos com ar preocupado quando viu o outro mudando o peso do corpo de um pé para o outro, denotando inquietação. Largou o garfo abruptamente. — Droga, Arliss, eu lhe pedi apenas um favor.
Ele meneou a cabeça.
— Sim, pediu, e, tecnicamente, eu não o neguei. Você disse e eu repito na íntegra: "se algo me acontecer, providencie para que Hanna embarque na diligência rumo ao oeste".
— Bem, algo me aconteceu — quase gritou Cale em sua frustração. — Fui surrado feito um saco de pancada e levei dois tiros ontem à noite!
Um sorriso irônico surgiu nos lábios de Arliss, os olhos castanhos brilhando.
— Na verdade, não foi ontem à noite. Foi seis dias atrás.
— Seis dias! — exclamou Cale com incredulidade. — Eu dormi durante seis dias?
— Bem, sim, com a ajuda do láudano que Hanna fez você tomar para se certificar de que ficaria na cama por tempo o bastante para se recuperar. Ela também barbeou e banhou você regularmente, além de ter trocado seus curativos.
Cale praguejou por entre os dentes. Sua esposa, a Sra. Desafio em Pessoa, não embarcara na diligência para ir em busca de seus sonhos. Ela tramara para sedá-lo da mesma maneira que fizera com os guardas de Pryor. Ele criara um monstro quando ensinara a Hanna os truques de sua profissão.
— E onde está minha querida esposa agora? — perguntou, exasperado.
Arliss cocou o queixo, os lábios curvando-se ligeiramente.
— Não posso dizer ao certo.
— Você é o novo xerife. Faz parte de sua função manter-se a par do que acontece na cidade. Se o pai de Hanna se recusou...
Arliss silenciou-o com um gesto.
— Não precisa ficar se preocupando com Malloy. Da última vez que observei, era Hanna que o estava fazendo dançar conforme a música dela.
— E onde, eu gostaria de saber, ela está tocando seus novos "instrumentos musicais" atualmente? — perguntou Cale, irritado.
— Bem, Rip van Winkle...
— Nunca ouvi falar do sujeito — grunhiu Cale com impaciência.
— Rip é um personagem fictício que dorme durante vinte anos e acorda para descobrir que o mundo mudou — explicou Arliss, solícito.
Cale estreitou os olhos, zangado. A atitude jovial do rapaz não o estava ajudando em nada.
— E o que mudou tão drasticamente por aqui enquanto eu estava drogado?
Arliss foi contando as mudanças nos dedos.
— Primeiro, sou o xerife, como já mencionei. Segundo, Julius e Pierce retornaram recentemente, depois de terem ido comprar um rebanho de gado para Hanna.
Cale viu-se de queixo caído de repente.
— Hanna decidiu tornar-se uma baronesa do gado?
— Sim. Terceiro, ela comprou a fazenda de Pryor do legítimo dono e está mantendo a loja de armas. Contratou um assistente, um rapaz precisando desesperadamente de trabalho para sustentar a esposa grávida. Hanna alugou a moradia em cima da loja para ambos.
Arliss coçou o queixo, pensativo.
— Vejamos, o que mais ela tem feito? Ah, sim, Hanna nomeou a sra. Hensley como presidenta do Comitê de Embelezamento de Cromwell e encomendou uma infinidade de flores para enfeitar as calçadas e a praça da cidade. Além disso, fez o pai doar dinheiro para melhorias na escola.
— Por quê? — A expressão de Cale era de visível incredulidade.
— Porque ela está se estabelecendo aqui e quer ter uma participação ativa no aprimoramento da nossa comunidade.
Cale estava estupefato. Por que Hanna decidira criar raízes ali quando seu sonho fora o de se aventurar até o Oeste e ver tudo o que havia para ser visto, experimentar tudo que a vida tinha a oferecer?
— Oh, sim, e você ficará aliviado em saber que Skeet está se sentindo bem melhor também — relatou Arliss. — Hanna sedou-o para que ele não a ficasse seguindo por todos os cantos feito um dedicado cão de guarda.
Ouvindo passos no corredor, Cale olhou para a porta. Meneou a cabeça num breve cumprimento quando Pierce e Julius entraram no quarto.
— Ora, você parece mil vezes melhor do que a última vez em que o vi, Grande Chefe — comentou um sorridente Julius. — Embora, talvez, você precise de ajuda para chegar até a fazenda para se estabelecer.
Intrigado, Cale encarou o ajudante da lei de traços fortes.
— Quem disse alguma coisa sobre eu me estabelecer na fazenda?
— Apenas presumimos isso — respondeu Pierce. — Afinal, é onde a sua esposa está.
— Vocês presumiram errado. Vou para Fort Smith, tão logo tiver reunido minhas coisas, meu cachorro e meu cavalo.
Julius fitou-o com perplexidade.
— O quê?
— Você me ouviu. — Cale deixou de lado a bandeja vazia e testou a firmeza das pernas. Ótimo. Estavam mais fortes do que a vez anterior em que se apoiara nelas.
— Bem, acho que falo por todos aqui quando digo que você perdeu o juízo — declarou um enfático Julius. — Você ama Hanna, e ela, a você. Cumpriu o seu dever para Parker durante anos. É tempo de prosseguir com sua vida.
— Essa é minha vida — retrucou Cale. — E o que eu faço.
Seus colegas não entendiam, pensou ele, enquanto calçava as botas desajeitadamente e tentava não forçar o braço e as costelas. Hanna precisara dele para guiá-la e ensiná-la, mas agora que conquistara a própria independência não precisava ser marcada pelo estigma que sempre estaria atrelado a ele. Cedo ou tarde, os moradores da cidade descobririam quem e o que ele era e passariam a evitá-lo, a excluí-lo. Além do mais, se estivesse fora do caminho, algum cavalheiro digno e merecedor apareceria para atrair a atenção de Hanna. Eventualmente, ela tornaria a se casar. Ele próprio era apenas uma fase passageira de sua vida, nada mais.
— Bem, você irá ao menos lhe dizer adeus antes de partir? — indagou Pierce.
— Já fiz isso. Ontem à noite... ou melhor, seis noites atrás.
Julius encarou-o.
— Droga, homem, não percebe do que está desistindo?
Era evidente que sim. Ele amava Hanna. Sempre a amaria. E sempre seria um mestiço o qual tinham feito sentir-se como menos do que humano, inaceitável e indigno do respeito da sociedade. Sua única salvação era o fato de ser hábil com armas de fogo, facas e os punhos. Podia travar batalhas que outras pessoas não eram capazes de travar por si mesmas. Fora treinado como um guerreiro cujo único valor e contribuição para a sociedade era limpar um território onde os criminosos andavam à solta.
E o que Julius dissera sobre Hanna amá-lo não era verdade. Obviamente, ela fora acometida por um caso grave de veneração a herói, enquanto tentara imitá-lo em suas técnicas de sobrevivência. Também se sentia grata pelo fato de ele ter-lhe tornado possível escapar do controle do pai. E, claro, fora envolvida pela novidade da paixão que explodira entre ambos. Mas tudo aquilo não se equiparava ao amor. Não do tipo que sentia por ela, e ele não podia se contentar com menos, levando em conta a maneira como a amava.
Além do mais, se Hanna realmente o amasse, teria dito aquilo, porque era uma mulher honesta que falava o que sentia. E não dissera que o amava. Bem, exceto por aquela vez em que ficara tão contente por ter descoberto sua aptidão para armas. Mas fora apenas o uso banal de uma frase e ela não quisera dizer aquilo literalmente.
Cale levantou os olhos de repente quando a porta foi escancarada e Walter Malloy adentrou sem ter se feito anunciar ou sido convidado.
— Saiam agora — disse, dispensando os outros três homens no quarto. — Quero falar com Elliot a sós.
Quando os homens se retiraram, Walter tirou várias cédulas do maço de dinheiro em sua mão e atirou-as na cama.
Cale olhou furiosamente para o sogro.
— A resposta ainda é não, Malloy — declarou por entre os dentes. — Pretendo continuar casado com Hanna por quanto tempo ela desejar. Não existe dinheiro o bastante no Tesouro Federal para me comprar e, portanto, pare de me fazer perder tempo.
Walter sacudiu a mão no ar.
— Esqueça o divórcio. Estou de acordo com o casamento.
Cale encarou-o, boquiaberto.
— Por quê? Desde quando?
— Desde quando? Desde alguns dias atrás. Por quê? Por causa de sua lendária reputação por estes lados. É algo que dá proteção a minha filha. As pessoas se dão conta de que, se mexerem com Hanna, terão de se entender com você. O seu nome serve como guardião o bastante.
Ainda perplexo, Cale alternou o olhar entre o dinheiro oferecido e Malloy.
— O que é que está querendo a ponto de estar disposto a pagar de modo tão extravagante para obter? — perguntou, desconfiado.
— Um neto — anunciou Malloy, o choque roubando a fala de Cale. — Falhei em minhas tentativas de criar Hanna e quero a chance de me redimir. Além disso, acumulei uma fortuna e pretendo vê-la sendo passada para outro herdeiro.
— Você quer me contratar para... — Cale sentiu a garganta se obstruindo.
Malloy conseguira apanhá-lo completamente de surpresa.
— Exatamente — confirmou o magnata da navegação num tom comercial. — Você é legalmente o marido de Hanna, afinal. É o seu dever me dar um neto. Estou envelhecendo, como sabe, e quero que você se apresse nisso.
— Mas eu sou metade...
Malloy interrompeu-o com um aceno impaciente de mão.
— Concluí que isso não trará a menor consequência para meu futuro neto. Ele será um quarto cheroqui, um quarto francês e metade de descendência mista americana. Resolvi que essa não é uma má linhagem e dará a ele uma grande variedade de importantes ligações sociais. Além do mais, o menino será tão podre de rico que ninguém ousaria ofendê-lo. E então?
— Malloy — disse Cale quando, enfim, recobrou a fala —, você é um cretino prepotente e autoritário.
— O roto rindo-se do esfarrapado, não é? — retrucou o homem com sarcasmo. — Minha filha ama você.
Era do que todos tentavam convencê-lo, pensou Cale. Ainda achava que era uma grande tolice.
— O porquê de Hanna achar que ama você foge completamente a minha compreensão. Não é que ela esteja desesperada — prosseguiu Walter. — Afinal, poderia ter qualquer homem que quisesse. Você é ofensivo, direto demais...
— Agora, quem é o roto rindo do esfarrapado? — interrompeu-o Cale igualmente sarcástico.
— Está certo, ambos somos cretinos, mas se você não tiver juízo o bastante para ir até a fazenda de Hanna, um lugar que comprou só para se manter ocupada para não sentir sua falta quando você partir, então talvez eu mesmo deva bater com uma clava na sua cabeça! — esbravejou Malloy. — Você arrancou a verdade de mim quando me atirou aquele maldito medalhão. Estive solitário e amargurado durante anos e descontei isso na minha própria filha. Agora, você ama minha filha, ou não? E, diabo, não ouse mentir para mim, Elliot!
Cale soltou um profundo suspiro, fitou Malloy diretamente nos olhos e disse:
— Sim, eu a amo, quer isso seja o melhor para ela ou não.
— Bem, ao menos concordamos em algo. — Malloy apontou na direção da porta. — Mas, a despeito disso, quero que você vá até lá e diga a ela como se sente, ou acabará ficando exatamente como eu. Perdi o amor da minha vida e sofri durante anos. Se tivesse a chance de fazer tudo outra vez, eu não teria perdido um único minuto de um único dia que eu poderia ter passado a mais com Clarissa — declarou com sinceridade. — Se você ama Hanna, então certamente tem coragem para lhe dizer isso. Parece tê-la para fazer qualquer outra coisa!
Cale não sabia se era a coisa certa a fazer e duvidava que Malloy entendesse completamente a dinâmica do relacionamento. Mas talvez o homem tivesse razão. Talvez devesse a si mesmo a chance de perseguir o sonho proibido de amar e ser correspondido.
Malloy abriu a porta.
— Agora, vá!
Cale caminhou pelo corredor, sentindo-se mais incerto e inseguro de que jamais estivera em sua vida. Nunca dissera aquelas três palavras a ninguém antes, e a idéia de arriscar seu coração fez com que se sentisse como se estivesse entrando num tiroteio sem uma arma.
Hanna amava-o? Cale ainda não conseguia acreditar naquilo, mas achou que simplesmente teria de cavalgar até a fazenda e descobrir por si mesmo.
Hanna olhava os três garotos que contratara para erguerem uma cerca de madeira em torno da casa, mas desviou o olhar para o cavaleiro solitário que surgiu no alto da colina e começou a descer até o vale.
Cale... Seu coração parou por um instante e, então, bateu descompassadamente no peito. Ele a fez lembrar de um magnífico centauro, movendo-se em ritmo perfeito com seu cavalo. A camisa de linho branca oferecia um grande contraste a seu rosto bronzeado. As calças pretas moldavam-se às coxas musculosas, e observá-lo foi algo que a deixou sem fôlego. Foi tomada por uma pontada de intenso anseio que foi direto até seu coração.
Teria de resguardar seus sentimentos cuidadosamente e conter suas reações instintivas quando o confrontasse, avisou a si mesma. Não podia deixá-lo saber que estava morrendo lentamente por dentro porque ele não correspondia ao seu amor.
Houvera um tempo, não tão distante, em que Hanna se desfizera de toda a inibição e simplesmente fora ela mesma perto dele. Mas, agora, havia emoções conflitantes demais formando um turbilhão dentro de si e controlá-las era impossível. Teria apenas de tomar cuidado com o que dissesse e tratá-lo como não mais do que um amigo, não como o marido e amante que queria ter a seu lado para o resto da vida.
Evidentemente, duvidava que aquela fosse uma visita amistosa. Era mais provável que Cale estivesse indo até ali para repreendê-la por tê-lo sedado. Mas fizera-o para o próprio bem dele. Agora, teria forças e disposição para partir a fim de testemunhar no julgamento de Pryor em Fort Smith.
Também se lembrou de que a última coisa que Cale lhe dissera fora: Embarque na diligência e vá ao encontro de seus sonhos.
Desafiara aquela ordem, era evidente. Era uma mulher com sua independência financeira agora e adquirira a autoconfiança necessária para lutar pelo que queria.
Hanna manteve-se firme no lugar quando Cale se aproximou a cavalo e, então, percorreu-a com o olhar. Estudou-o com ar pensativo, comentando em seguida:
— Você parece bem melhor. Bastante descansado.
— É bom eu estar mesmo — respondeu ele, enquanto demonstrava. — Alguém me fez apagar por seis dias com láudano e assumiu o controle da minha vida sem meu consentimento.
Hanna não achara mesmo que ele aceitaria bem aquilo.
Cale lançou-lhe um breve olhar e, então, observou os garotos pregando as ripas na nova cerca.
— Acho que é como você se sentiu quando seu pai tentou lhe dizer o que fazer e quando. Não é à toa que você se rebelou, Magnólia. É frustrante demais estar à mercê de outra pessoa.
— Sim, de fato. Mas depois de ter visto você cambaleando, ferido e sangrando em profusão, achei que precisava de um repouso forçado. Assim sendo... — Hanna deu de ombros e, então, desviou o olhar, hesitante em sustentar o dele por mais de um momento. — Você veio para se despedir? — Se veio, por favor, faça-o depressa e sem dor. Ver você faz com que eu me lembre de que certos sonhos são impossíveis.
Cale deslocou o peso do corpo de um pé para o outro, pouco à vontade.
— Na verdade, eu vim para me certificar de que você está feliz e que isto é realmente o que quer ser.
Hanna meneou a cabeça e sorriu.
— Estou satisfeita aqui.
Aqueles perscrutadores olhos de ônix fitaram-na, buscando os segredos de sua alma.
— Não foi o que perguntei, Mags. Você está feliz?
Não, porque você não está aqui comigo e eu te amo demais, droga!
— É claro que estou feliz — declarou ela, ao contrário de seus pensamentos. — Você me propiciou uma reconciliação com meu pai e agora minha vida me pertence. Tenho o que sempre quis. E você conseguiu o que queria. Justiça. Imagino que sua satisfação seja imensa.
O que era imensa era a necessidade obsessiva de Cale de tocar Hanna, de estreitá-la junto a seu coração, sentir-lhe a fragrância e recordar aqueles dias e noites incríveis quando tudo parecera certo no mundo, quando estivera realmente em paz consigo mesmo.
Vá em frente, diga, seu grande covarde. Diga-lhe como se sente. Descubra se ela ama você realmente e se quer tornar esse um casamento de verdade, não apenas um trato temporário já encerrado.
— Hanna, eu...
— Não! — Ela comprimiu-lhe os lábios com a ponta de seus dedos, lágrimas enchendo-lhe instantaneamente os olhos azuis. — Apenas vá. Por favor. Não torne isto mais difícil do que já é. Não percebe que está me matando o fato de ter você aqui, de saber que irá embora para nunca mais voltar?
Cale tirou-lhe os dedos de seus lábios e segurou-lhe a mão na sua. Fitou-a, enquanto lágrimas brilhantes rolavam-lhe pela face afogueada.
— Você quer que eu fique? E por que, Mags?
Hanna empurrou-lhe o peito, bateu o pé com força e explodiu:
— Droga, Cale, eu amo você, é por isso! Pronto, já disse. Nem posso lembrar qual era a sensação de não amar você. — Fez um gesto amplo com a mão livre. — Isto é apenas trabalho para me manter ocupada. Entendo perfeitamente por que meu pai mergulhou nos negócios depois que perdeu minha mãe e meu irmão. Estava tentando superar a dor do amor perdido e se recuperar do tipo de ferida que nunca sara.
— Também amo você, Hanna — revelou Cale num tom manso, tocado pela coragem dela de ter falado do fundo do coração, enquanto ele ficara fazendo rodeios e testando as águas... apenas para o caso de Malloy, Arliss e os colegas agentes terem se enganado em relação aos sentimentos de Hanna por ele. Não estivera seguro o bastante de si mesmo para acreditar, não até ter ouvido as palavras dos lábios dela.
Hanna abriu os olhos marejados, a expressão atônita.
— O que você disse?
— Que também amo você. — Era mais fácil dizer as palavras pouco familiares pela segunda vez. Cale achou que, talvez, com a prática, ficasse até melhor naquilo.
A despeito das lágrimas, um sorriso radiante iluminou o rosto dela.
— Oh, minha nossa! Você me ama? De verdade? — Ela o abraçou com força pelo pescoço.
— Sim, amo. De verdade. — Ele contraiu o rosto. — Ai.
— Desculpe. — Hanna soltou-o depressa. Pegou-lhe a mão e puxou-o na direção da casa, para longe dos olhares curiosos de seus jovens trabalhadores. — Deixe-me mostrar a você o que fiz com o lugar. Se não aprovar, é claro que nós o mudaremos porque...
— Flor de Magnólia — interrompeu-a ele, sorrindo feito um completo tolo que, de tão apaixonado, praticamente flutuava no ar.
— Quero que este seja o nosso lar — prosseguiu ela, ignorando-lhe a tentativa de inserir um comentário.
— Mags...
— Meu pai sugeriu mobília importada, mas eu insisti no estilo prático e confortável em primeiro lugar. E então... o que acha?
Cale parou na soleira da porta, admirado com as drásticas mudanças. As novas cortinas coloridas estavam abertas para oferecer a grandiosa vista de espaços abertos. Uma dezena de vasos de flores do campo enfeitava a ampla sala. Sofás de estofamento confortável e cadeiras tinham sido dispostos em torno da lareira de arenito, onde Skeet cochilava num tapete que obviamente não fora feito por Hanna. Parecia bom demais para ser um de seus trabalhos de tricô.
— O lugar parece esplêndido — comentou com aprovação. '
— Venha, quero que veja o que fiz com o quarto principal — insistiu ela, conduzindo-o até o andar de cima.
Cale parou abruptamente, observando a imensa cama de casal de aspecto confortável e convidativo, coberta com uma alegre colcha.
— Isso, sim, é uma cama — falou no mesmo tom de aprovação e lembrou-se de que uma vez dissera a Hanna que a primeira coisa que queria comprar quando se acomodassem no quarto acima da loja de armas era uma grande cama com colchão de plumas. Infelizmente, a investigação das atividades criminosas de Otis Pryor tomara todo o seu tempo.
Arregalou os olhos quando, enfim, deu-se realmente conta do que Hanna fizera. Ela comprara o sonho dele, mobiliara-o com ele em mente. Aquela era a fazenda que não pudera partilhar com seu meio-irmão. Aquele não era o sonho de Hanna. Era o seu!
— Por que você faria isto? — perguntou, os olhos perscrutadores estudando-a.
Ela abriu-lhe um sorriso.
— Porque pensei que, se algum dia você passasse por aqui, num intervalo de suas missões delegadas por Parker, este poderia parecer o lar que você sempre quis e nunca teve. Mesmo que você não pudesse ficar para sempre, eu quis que percebesse que sempre seria bem-vindo aqui.
Cale inclinou-se para cobrir-lhe os lábios com um beijo terno. Ninguém nunca jamais chegara a tais extremos por sua causa. Ninguém nunca levara seus desejos e necessidades em consideração. Apenas Hanna, que tinha o hábito de colocar as necessidades dos outros na frente das suas.
Céus, ela o surpreendia e maravilhava. E, ao mesmo tempo, fazia com que se sentisse importante o bastante para merecer aquele tipo de tratamento preferencial. Ainda assim, a voz profundamente arraigada do complexo de inferioridade ficava sussurrando que ele não fizera nada para merecê-la e não tinha o direito àquela chance de felicidade.
Quando os braços dela subiram depressa por seu peito para enlaçá-lo pelo pescoço, tomando cuidado com o ferimento à bala e machucados numerosos demais para mencionar, Cale afundou o rosto naqueles macios cabelos loiros. Inalou o inesquecível perfume dela, saboreou a satisfação de tê-la em seus braços.
— Quero que você fique comigo para sempre — sussurrou Hanna.
Cale sorriu, irônico.
— Num mundo perfeito, eu poderia ficar aqui mesmo e poderíamos amar um ao outro. A sociedade poderia aceitar eventualmente.
— A sociedade pode ir para o diabo — retrucou ela, abraçando-o com força. — E porque amamos um ao outro é um mundo perfeito. Você é o meu sonho se tornando realidade.
— Nunca me imaginei como o sonho de alguém, Mags. Quando as pessoas tratam você como se fosse apenas metade humano e um ser inferior durante toda a sua vida, você começa a pensar que talvez seja mesmo, que talvez não mereça ter os mesmos sonhos que as outras pessoas almejam. Eu estava com medo de lhe dizer como me sentia porque achei que você ficaria melhor sem mim.
— Oh, eu gostaria de encontrar todas essas pessoas que fizeram você acreditar que era inferior e indigno e puni-las de algum jeito. Você é o homem mais admirável que já conheci.
— Quando sua própria mãe olha para você como se fosse o pior pesadelo dela encarnado é difícil não pensar que você não pertence realmente a lugar algum exceto a um ambiente selvagem com as outras criaturas não-humanas da natureza — disse Cale, admitindo as inseguranças que o atormentavam havia tanto pela primeira vez em sua vida.
Abraçou-a com força, surpreso com todos os sentimentos e pensamentos profundamente enterrados que, de repente, vinham à tona, como se não pudesse ter um novo começo com Hanna enquanto não a deixasse conhecê-lo completamente.
Ela chorava agora, derramando lágrimas por ele. E foi quando soube, sem sombra de dúvida, que realmente tinha o coração dela. Hanna amava-o da mesma maneira que a amava... Amava-o tanto que estivera disposta a viver o sonho dele em seu lugar, mesmo quando ele estivera com medo de se permitir acreditar em todas aquelas possibilidades mágicas.
Cale sentiu lágrimas nos próprios olhos... Um acontecimento sem precedentes que o teria humilhado se alguém além de Hanna o tivesse testemunhado. Mas ela era a outra metade de sua alma, a pura luz que o tirava da escuridão e sombras. Não era mais inferior, não mais apenas um acidente de nascimento jogado no mundo para viver e morrer, indesejável e não amado. Ele importava porque Hanna o amava. Ela o tornava especial, digno.
— Bem, esse é um ótimo começo.
Hanna e Cale separaram-se ao som da voz de Malloy ecoando pelo quarto.
— Tente bater da próxima vez — disse Cale, franzindo o cenho. — E quando aparecer para visitas futuras, insisto em um aviso de pelo menos uma semana de antecedência.
Malloy encarou-o significativamente.
— Temos um acordo, ou não, Elliot? — interpelou.
Hanna soltou uma exclamação ultrajada, enquanto alternava o olhar entre os dois homens.
— Você o subornou para vir até aqui, papai?
— Não vá ficando toda magoada e na defensiva, garotinha — disse Malloy, imperturbável diante do olhar de reprovação da filha. — Não subornei o homem para vir até aqui. Apenas o subornei para me dar um neto... ou três.
Ela o encarou, boquiaberta.
— Eu lhe juro, papai, a sua audácia nunca deixa de me aturdir. Num minuto, acho que nos reconciliamos e, no minuto seguinte, você está tentando ditar minha vida novamente.
Sorrindo, Cale inclinou-se na direção dela.
— Certamente você me conhece bem o bastante para saber que eu não aceitaria um suborno, Mags.
— Ora, eu espero que não, mesmo!
— Eu estava planejando dar a ele um neto... ou três... de graça — acrescentou Cale, confiante, enquanto pousava a mão com familiaridade no quadril dela, apertando-o com jeito maroto. — Eu me comprometo a realizar a incrivelmente prazerosa tarefa quantas vezes forem necessárias para produzir resultados.
Enquanto Hanna corava até a raiz dos cabelos, Malloy aproximou-se para beijá-la na fronte.
— Estarei de partida para Nova Orleans dentro de poucas horas, agora que me certifiquei de que tenho tudo correndo a minha maneira aqui nos confins da sociedade. Mas eu voltarei. Podem contar com isso.
— Era o que eu temia — disse Cale, fingindo pesar.
Se a verdade fosse dita, Malloy começava a conquistar seu apreço... numa espécie de maneira exasperante.
— Seja feliz — murmurou Walter afetuosamente para a filha. — Eu amo você, embora tenha demorado anos para lhe dizer. — Franziu as sobrancelhas grisalhas quando pousou um olhar severo em Cale. — E quanto a você, Elliot, é melhor fazer a minha garotinha feliz, ou eu me tornarei uma figura permanente nesta casa para garantir que você o faça!
Quando o pai se retirou, Hanna mexeu nos botões da camisa de Cale.
— Suponho que ainda não esteja disposto a praticar a... "técnica" de se fazer bebês.
A perspectiva de ficar despido com Hanna fez com que o fogo do desejo se avivasse em Cale com espantosa rapidez. Não tivera certeza de que se recuperara o bastante depois do sofrimento de seis dias antes, mas, ao que parecia, sim, porque a sugestão dela exerceu-lhe efeito imediato.
Abriu um largo sorriso enquanto a guiava até a cama.
— Com o incentivo certo, eu poderia ser persuadido — assegurou-a, malicioso.
— E que incentivo seria esse? — perguntou ela, enquanto o ajudava a despir a camisa.
— O que aconteceu com aquele pequeno traje obsceno e vermelho cor de paixão que você assegurou a seu pai que eu não aprovaria?
Hanna arqueou uma sobrancelha com ar divertido.
— Você gostou dele, não foi?
— Em você, Mags, eu o adorei. — Cale curvou os lábios sugestivamente. — Até tive algumas fantasias a respeito durante os meus sonhos induzidos por láudano.
Ela abriu-lhe um sorriso maroto.
— Bem, eu não iria querer desapontá-lo, caro marido. Afinal, eu vivo para satisfazê-lo. — Adiantou-se até a cômoda para pegar o traje escandalosamente sedutor e, então, colocou-se atrás do biombo para vesti-lo.
Cale jamais se despira tão depressa em sua vida. Embora ainda estivesse com o corpo cheio de marcas de escoriações, fora completamente convencido de que Hanna o amava pelo que era bem no fundo como pessoa. Sua aparência externa não era o que mais importava para sua esposa.
Ele estava deitado na cama, aguardando em crescente expectativa, quando Hanna reapareceu naquele minúsculo traje que elevou instantaneamente sua temperatura em muitos graus. Céus, ela era incrivelmente sedutora.
E seu coração pertencia a ele. Não tivera de lutar pelo respeito, afeição e lealdade daquela mulher tão especial. Ela os oferecera incondicionalmente, e ele nunca entendera o que aquilo significava até que Hanna entrou em sua vida como um sopro revigorante de ar.
Quando ela se aproximou da cama, fazendo sua divertida imitação do jeito de requebrar os quadris de Millie Roberts, Cale banqueteou os olhos admirando-a. Hanna certamente tinha sua total atenção e amor eterno. Quando se inclinou acima dele, os seios estiveram perigosamente perto de escapar daquele traje de renda vermelha. Cale soltou um gemido rouco.
— Você gosta, Sr. Agente da Lei Durão? — perguntou ela, provocadora.
— Eu adoro — murmurou Cale, enquanto lhe removia os grampos dos cabelos e deixava as sedosas mechas loiras cascatearem por sua mão. — É a minha primeira vez no amor. Nunca entendi o que era o amor até que você adentrou na minha vida para me propor casamento.
Hanna acomodou-se ao lado dele, cobrindo-lhe o peito com o braço levemente. Os lábios úmidos roçaram-lhe o ombro largo e, depois, o pescoço.
— Eu estava em busca do marido perfeito e o encontrei em você — sussurrou.
— Você disse que havia duas coisas que me impediam de ser o marido perfeito — lembrou-a ele num tom rouco. Deslizou a mão pelas curvas exuberantes dos seios dela, sentindo-lhe a reação imediata. — A primeira: aprender a quando manter a boca fechada. Qual era a outra?
— Você me amar para sempre. — Hanna fitou-o com intensidade nos olhos. — A segunda coisa é imensamente mais importante do que a primeira. Seu amor é tudo o que preciso para ser feliz.
— Então, acho que isso me torna absolutamente perfeito para você, Flor de Magnólia — falou ele, imitando-lhe o sotaque sulista. — Ninguém jamais a amará da maneira como a amo. A começar de agora. Até bem depois de para sempre.
E, então, Cale fez amor com sua esposa com uma gentil reverência que apenas ela conseguia lhe evocar. Sussurrou seu amor sobre cada pedacinho do corpo receptivo de Hanna, dando tudo de si... o melhor de si... a ela para sempre.
Possuiu-a com ternura, paixão, arrebatamento. Tornou-se uma parte vital de Hanna, e ela, a parte mais vital dele. Aquela mulher incrível o fazia acreditar que, entre todos os homens sobre a face da terra, ele era o exemplo vivo do marido perfeito. Soube quando se manter silencioso e como amá-la com cada pulsar de seu coração, até o fundo de sua alma.
Poderia chamar aquilo de sorte. De destino, pensou Cale, enquanto ele e Hanna eram enlevados pelo sublime êxtase. Mas, sim, fora algo predestinado. Porque apenas agora, apenas com Hanna, Cale entendia e aceitava completamente a pessoa que ele era. Ele era, refletiu, enquanto descansava saciado e seguro nos braços afetuosos de sua esposa, o marido perfeito para Hanna.
E aquilo era tudo o que realmente importava na vida.
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Caçador Do Amor( Concluido)
FanficHanna Malloy estava desesperada para ir para o Oeste... E Cale Elliot era a escolha perfeita para lançá-la numa vida de aventura. Agora, marido e mulher, o lendário caçador de recompensas a desafiava diariamente a tentar coisas novas. Mas seria sens...