「Capítulo Dezesseis」

512 45 11
                                    

Sofia Carson POV
San Onofre Beach, Califórnia
15 de Julho de 2022

Inclino minha cabeça para trás gargalhando alto, não me importo que algum vizinho ou turista me olhasse estranho. Ao meu lado, a garota também gargalha mas um pouco baixo, Lina acabou de contar sobre algo engraçado da sua infância, o dia que caiu de bicicleta e machucou a mão. Recupero o fôlego, parando de rir aos poucos, sinto meus olhos arderem levemente com o ataque de riso, volto a me encostar no parapeito de madeira. Encarando a vasta imensidão do oceano à minha frente.

Após uma semana inteira de correria na empresa, Scarlett decidiu ser um pouco boazinha com nós e acabou liberando a sua casa da praia para nós, por um final de semana. Segundo ela, queria que o Dave estivesse em um ambiente um pouco similar no dia do seu aniversário, que será amanhã. Mas decidimos vir hoje, após o pequeno encontro da Dove com alguns acionistas. Graças a Deus, o jantar com o design de interiores havia sido cancelado; possibilitando que viéssemos no meio da tarde.

Solto um suspiro ao me lembrar da Dove. Ficamos tão próximas nos últimos dias, dentro da empresa e fora dela também, às vezes saímos para almoçar nos meus restaurantes favoritos; naquelas poucas horas de almoço, nós compartilhamos várias histórias das nossas vidas, nos conhecendo um pouco mais. Porém, mesmo assim, algo nela parece me incomodar, ainda vou descobrir o motivo.

— Está tudo bem? — direcionei o olhar para Lina, observando seu cenho franzido.

— Está sim, apenas estou com algumas perguntas sem respostas — comentei, abaixando a cabeça.

— Pode fazer, responderei a medida do possível — comentou, atraindo minha atenção novamente. Encaro seus olhos tentando criar coragem para fazer a primeira pergunta.

— Não quero ser invasiva, mas faz algumas semanas que venho notando que nenhum de vocês mencionam ou ligam para sua irmã, que no caso é esposa da Dove — vi a sua expressão mudar, desviando o olhar para a praia e os poucos vizinhos que aproveitavam o restinho do sol para se bronzear — Porque ela não veio com vocês?

— Não está sendo meses fáceis para nós, para a nossa família — respirou fundo — Logo em Janeiro tivemos uma das notícias que abalaram a nossa família, minha irmã foi dada como desaparecida. Ninguém sabia onde ela estava, para onde tinha ido. Ninguém, nem mesmo a Dove que vivia 24 horas por dia com ela. Foram dias difíceis, a Dove foi a que mais sofreu, sentiu desde o início. Passamos um longo tempo sem nenhuma pista, nenhum sinal dela, até que a polícia descobriu que a minha irmã tinha um compromisso em uma clínica de fertilização. Ultrassom para saber se o procedimento havia dado certo, se ela estava grávida ou não — continuou a olhar para frente, sem querer me olhar. Permaneci calada, encarando-a — Novamente a Dove sofreu. Sofreu com a incerteza do desconhecido. Os meses passaram, não tinha nada de novo, daí a polícia descobriu sobre um gravíssimo acidente e uma única pessoa sobreviveu. O carro da minha irmã estava no meio. Só de imaginar que minha irmã estava morta me deixou desesperada. Eu devia proteger ela, cuidar dela e tudo isso de irmã mais velha — suspirou trêmula, ela estava prestes a chorar — A polícia parou de procurar um tempo depois, mas descobrimos que a minha irmã está viva. Porém, pouco tempo depois, veio essa oportunidade única para a Dove, então viemos para cá. Nós a encontramos — voltou a me olhar. Lhe lancei um olhar confuso, fazendo-a sorrir de lado — Nós encontramos minha irmã. É só isso que posso lhe dizer.

— Ok, é o suficiente para entender um pouco do motivo de vocês não tocarem no assunto — respondi — Eu também sofri um acidente, no Brasil, foi muito grave ao ponto de me fazer perder toda a minha memória. Não me lembro de muita coisa, apenas lembro de acordar em um hospital de Los Angeles, com a Scarlett ao meu lado. Fiquei sabendo por alto da gravidade do meu estado, também descobri que estava grávida no acidente — sua expressão mudou para surpresa e abatida — Está tudo bem. Fiquei abalada por meses, mas acho que foi o melhor. Eu não teria condições para cuidar de um bebê sem memória, sem apoio, sem família. Eu sei que tem a possibilidade da minha família estar por aí, me procurando, sofrendo por meu desaparecimento — olhei para o meu pulso, no caso, para minha tatuagem.

 𝐉𝐮𝐫𝐚 𝐉𝐮𝐫𝐚𝐝𝐢𝐧𝐡𝐨 Onde histórias criam vida. Descubra agora