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Dove Cameron POV
São Paulo, São Paulo
1 de agosto de 2022

O cheiro de café recente feito invade minhas vias respiratórias, logo o copo personalizado com a logomarca do RITA cafeteria que fica perto da minha empresa, surge na minha mesa. Agradeço à minha secretária, sem tirar os olhos do documento aberto no notebook a minha frente. A semana passou voando, mal notei quando uma nova semana iniciou, significando que estou há uma semana longe do meu filho e da Sofia, no qual tive que deixar nos EUA para resolver algumas coisas da empresa e outras demandas.

Apenas não imaginei que as demandas da minha empresa seriam o suficiente para me prender no Brasil por mais de três dias, muito menos por mais de duas semanas, é o que vai acontecer se eu não terminar tudo antes de sexta-feira. Fico me perguntando como a empresa chegou naquele estado catastrófico, como deixaram acumular tanta papelada e demandas no tempo que fiquei fora? Acho que irei enlouquecer.

Praticamente estou vivendo 24 horas dentro da empresa nos últimos dias, tem roupas minhas no pequeno closet e produtos de higiene no banheiro, o lixo dos outros dias denunciaria que eu passei a fazer minhas refeições ali. Sequer tive tempo de visitar meus pais e meus sogros, algo que prometo desde que pisei no Brasil e eu não quero que eles se locomovem para a empresa me ver e eu mal dar atenção a eles, por estar atolada de papelada e demandas de todos os setores, até mesmos de clientes. Os únicos momentos que parei de trabalhar, foram quando meu filho obrigava a Sofia ou a Scarlett para ligar pra mim dizendo que quer falar comigo urgentemente. Claro que seu urgentemente é na verdade a saudade que está sentindo de mim. Eu estou morrendo de saudades dele, de estar pertinho dele, não é costumeiro ficarmos muito tempo separados e, após o acontecimento da Sofia, ele não gosta de passar mais do que um ou dois dias longe de nós.

Algumas vezes Sofia liga de madrugada usando desculpa de que está com insônia, sendo que na verdade sente a minha falta ao lado dela na hora de dormir, para saber como estão as coisas aqui e certificar se irei passar mais uma noite na empresa. Ela mostrou interesses nos assuntos que eu estava resolvendo, sempre pedia para explicar a ela como funcionava cada um, às vezes soltava algumas ideias de como eu poderia resolvê-los. Ela também me deixava a par do andamento do projeto, mas está meio parado ultimamente, por que estamos esperando o aval dos engenheiros.

Solto um suspiro pesado ao ler a última cláusula do documento, mas um que deixará meu cabelo em pé. Retiro o blazer, jogando de qualquer jeito no sofá localizado no meu lado direito. Dou um longo gole no café, fazendo uma breve careta ao sentir o amargor da bebida, mas aquilo é o menos que me preocupa agora. Pego o controle do ar-condicionado para diminuir o volume para amenizar o calor que está fazendo dentro do escritório, ao contrário do que pensei, já está no volume mínimo e continua quente. Meu deus, quantos graus está fazendo em São Paulo em pleno inverno? Abro os primeiros botões da minha blusa social, pego uma caneta no porta-lápis e amarro meu cabelo em um coque bagunçado e mal feito com a caneta.

Ajeito os óculos de grau no rosto, pego um caderninho para tomar notas das mudanças que precisava fazer no documento todo e que, deveria ter passado pelo setor financeiro, RH e ter chegado nos clientes há três meses atrás, entretanto, esqueceram de fazer isso. Certamente Cameron e Booboo irão receber reclamações minhas, onde já se viu deixar isso acontecer? Bufo só de pensar no que eles fizeram na minha empresa.

Escuto três batidinhas na porta, porém não respondo nada ou levanto o olhar para saber quem está tentando tirar o restante da minha paciência, sendo que deixei claro que eu não queria ser perturbada. Escuto a porta ser aberta e alguns passos quase inaudíveis invadem o ambiente. Coço suavemente minha bochecha, antes de quebrar o silêncio:

— Cíntia, falei para você que não quero ser interrompida até terminar de ler, fazer as modificações, revisar e assinar esses documentos, que são muitos. Aliás, já que está aqui, faça um favor... pode enviar para o meu e-mail os documentos que solicitei? Veja também se foi marcada a reunião com os colaboradores do projeto da reforma da mansão em Alphaville e também com os parceiros da empresa. Pelos relatórios, ambos estão aguardando resposta há meses, eu mandei semana passada explicando a situação e tentando marcar a reunião para essa semana. Preciso da confirmação — falei em um único fôlego — Aproveite para saber se está tudo certo para as reuniões de hoje a tarde, quero que sejam perfeitas e produtivas. Sei que estou passando muita coisa para você verificar, é porque tem muita demanda mesmo! Mas prometo que irá receber bonificação pelo seu trabalho nos últimos dias. Voltando, pode verificar se os materiais que solicitei antes de me afastar da empresa chegaram e estão no estoque? Não vi nenhum relatório falando sobre a entrada deles, muito menos a notinha. E, por favor, veja se...

— Meu Deus, eu estou com dó da secretária com tanta demanda. Aliás, seus pais não lhe ensinaram a receber corretamente a visita? — aquela voz. Eu reconheceria mesmo se estivéssemos no meio de cem mil pessoas.

Antes que eu pudesse reagir, outra voz sobressai a anterior e só aí que me toco o tamanho da minha saudade.

— MAMAAAAA — o grito infantil e inconfundível me faz parar o que eu estava fazendo.

Deu tempo de levantar a cabeça a procura de local que veio a voz, antes de um pequeno vulto vir na minha direção, de braços abertos e com o cabelo castanho se movendo de acordo com a corrida. Meu intuito foi afastar a cadeira o máximo que consegui da mesa, para que não haja acidentes, logo ele se joga nos meus braços e me escalando para sentar no meu colo. Sinto meus olhos lacrimejar ao sentir os bracinhos pequenos do meu filho rodearem meu pescoço em um abraço apertado, enquanto o cheiro dos produtos de bebê e o perfume idêntico ao da Sofia invadem minhas vias respiratórias.

Ele está ali. Nos meus braços. Ele está comigo. Não somente ele, a outra mãe também. Olhei na sua direção ainda com os olhos lacrimejados, flagrando-a com um sorriso enorme no rosto e os olhos fixos em nós. A chamo com o dedo, para que ela se aproxime de nós e participe do abraço.

— Meu deus, como eu senti saudades de você, campeão — indago enchendo o ombro dele de beijos, observando Sofia aproximar-se de nós. De um jeito desajeitado abraçou nós dois, fazendo nosso filho ficar no nosso meio.

Sorri, algumas lágrimas desceram pela minha bochecha. São lágrimas de alegria e de saudade. Algumas pessoas podem achar exagerado a minha reação mediante a situação, portanto, após o que aconteceu no início do ano, com o sumiço da Sofia, todas as situações, por mais simples que sejam me deixam emotiva.

Após longos minutos de abraço, nos quais aproveitei bastante, Dave começa a reclamar que está sendo amassado, obrigando Sofia a nos soltar aos risos. Sinto falta dos braços dela e o calor do seu corpo perto do meu, mas guardo para mim. Dave ajeita a postura, permanecendo ainda sentado no meu colo e de frente pra mim. Seguro seu rostinho gordinho entre minhas mãos, amassando suas bochechas, analisando a região antes de enchê-lo de beijos, arrancando risadinhas dele, enquanto ele tenta de algum jeito fazer cócegas em mim.

— Mas como...? — perguntei olhando diretamente para a mulher à minha frente. Ela está com o quadril apoiado na minha mesa, as mãos descansando na superfície, o sorriso permanece nos seus lábios e os olhos estão fixos em nós. Beijo a ponta do nariz de Dave, o libertando das minhas mãos.

Ele deita a cabeça no meu colo e fica em silêncio, começo a acariciar suas costas e cabelo, esperando uma resposta da morena.

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