15 de Outubro de 2018 — Londres — Inglaterra
— Então você vai sair com ele mesmo? -Juan pergunta fazendo malabarismo com as bolinhas das crianças. Eu estava arrumando a sala após mais uma aula que eu dei e Juan veio me ver porque estava passando aqui perto. Ele vai ir ao cinema com a Kiara, assim tão rápido em marcar um encontro depois de um sexo casual. Mas Kiara tem mesmo algo viciante e ao mesmo tempo apaixonante em seus olhos. Um brilho cheio de vida e intensidade, que talvez não querer mais dela seja errado. E talvez seja exatamente por isso que Juan vai se encontrar com ela novamente, assim tão rápido.
— Acho que vou. Ele se desculpou, apesar que ele deveria ter se desculpado com você. -Falo e Juan sorri e deixa as bolinhas caírem em seu colo. Ele estava praticamente deitado na pantufa.
— Você ficou brava por mim? -Juan pergunta divertido e eu olho para trás vendo uma porta aberta que ia de encontro a um corredor vazio. Eu acabo me desviando da resposta e meu amigo nota isso.
— Ficou mesmo. Eu me sinto lisonjeado por tal carinho. Mas tudo bem eu dei motivos para ele. E me ver como alguém marginal nunca foi difícil. -Juan fala e dá de ombros. Eu respiro fundo e termino de recolher os papéis coloridos de tinta e os guardo em uma gaveta.
— Você agora é um marginal que vai conseguir diploma e talvez uma noiva.
— Não exagera Khola! É só um cinema. Vai passar um filme legal e ela quis vir comigo. -Juan fala e olha para o relógio. — Aliás eu tenho que ir.
— Nossa vai passar um filme legal no cinema e você vai chamar seu contatinho de dois dias? -Falo chocada e Juan se levanta e me abraça.
— Não fica com ciúmes, Koh. -Juan fala me abraçando e eu tento sair do abraço dele mas Juan continua me abraçando. — Você sabe que as manhãs no Green Park vão continuar sendo suas e da Beca.
— Até a Kiara ter ciúmes. -Resmungo e Juan ri.
— Ela não vai ter ciúmes. Ciumenta. -Juan fala e beija minha testa. — Até amanhã, Koh.
— Até amanhã, Juan. E vou querer saber tudo sobre o cinema e por favor use camisinha. -Falo e pisco e Juan ri.
— Para uma professora de crianças você é muito safada, Khola. -Juan fala e eu acabo rindo e empurro ele para fora.
— Tchau Juan!
Cheguei em casa, bem no início da noite, eu me sentia cansada fiquei um bom tempo com as crianças e só por ser uma turma com mais de uma criança isso já significa que foi cansativo, elas são divertidas, isso é verdade, mas são absurdamente energéticas e me cansam. Só que apesar de estar cansada, foi um dia normal no sentido de que felizmente nada saiu do eixo e todas as crianças foram para casas alegres — cansadas também — e eu espero que com algum aprendizado no espanhol. Mas eu acho que estou fazendo isso certo, digo, na medida do possível, Sophia, uma das minhas alunas mirins estava com dificuldade quando fazia a pronúncia para ir ao banheiro, hoje ela fez tão bem que eu tive abraçá-la. Isso me fez sentir realizada de certa forma, ver crianças aprendendo e aprendendo comigo é como um sonho.
Eu não sei ao certo, onde foi que esse sonho começou se foi quando eu brincava de professora com minhas pelúcias. Ou se foi no meu trabalho do ensino médio em que minha turma visitou um projetos para crianças que viviam em favelas. A importância da educação caiu para mim naquele momento, vendo crianças sorrindo, se divertindo e de alguma forma adquirindo conhecimento, sendo resistência por não deixarem que somente as mazelas de onde viviam as definissem. De certa forma, eu acabei me vendo nelas. Eu sou uma mulher negra e facilmente sou marginalizada, facilmente sou encontrada em áreas marginalizadas e ver crianças na sua maioria negras aprendendo, se educando para irem contra um sistema isso realmente me atingiu. Porque eu percebi, como meus pais foram contra um sistema, que eles me tiveram e me deram uma vida boa, cheio de privilégios de classe. Mas existem pessoas que não, sobretudo, crianças como a mim. Educar elas, ensinar elas, ser algum fator positivo na vida delas é uma vitória para mim, uma vitória para elas. Uma vitória para uma resistência que soa silenciosa mas que eu sei que incomoda.
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Stronger || H.S || Complete
FanfictionUm relacionamento tóxico que aconteceu na vida de Khola, corroendo sua alma e seu espírito vitalício. A única saída que ela vê para se salvar, é sumir da pequena cidade que ela vivia na Colômbia. Rumo ao Panamá, um país na América Central, um lugar...