Chapter Forty

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15 de Março de 2019 — Londres — Inglaterra

Acabou. Foi o que Tio Miguel me disse, foi o que os policiais me disseram após ouvirem o meu depoimento, depois de eu contar como Hans chegou no quarto até quando eu atirei nele. Levaram ele para sala de cirurgia, a bala atingiu o coração.

Quando perguntei para médica, na verdade eu implorei, ela disse que ele ainda está na sala de cirurgia mas que havia perdido muito sangue. Isso já faz uma hora e meia.

Meu tio disse que acabou, os policiais também e a médica também disse isso, que eu não deveria me preocupar. Que acabou, mesmo se ele sair vivo, eu iria ficar bem. Ela disse com certeza que nada disso iria se repetir e eu quero acreditar profundamente em suas palavras.

Eu não sinto que acabou, mesmo se ele tivesse morto — talvez ele morra mesmo —, eu não me sinto aliviada, sinto-me quebrada e frágil. Não é a mesma sensação de quando eu acordei no hospital na Colômbia sentido que meu mundo inteiro se despedaçou, que todos aqueles que eu amava e estavam perto de mim se foram, partindo-me e me magoando. Não é esta sensação, no entanto, é uma sensação ruim.

Eu não queria ver Hans nunca mais, queria que ele nunca mais me procurasse ou me culpasse como ele fez. Não queria vê-lo por perto, tão real e sendo meu pesadelo. Tudo o que eu queria, tudo o que eu quero é continuar minha vida, alimentar minha força, ser alguém, ficar com a minha família. Preocupar-me em conhecer a mãe do meu namorado e não ter que lidar com o fantasma do meu passado.

Um fantasma que veio, tocou, assustou e feriu. Entretanto, que se foi, como se um sopro tivesse o dissipado, mas este fantasma voltou a deixar marcas em mim, voltou a me afetar.

Me sinto farta.

— Khola?

A voz rouca do inglês me chama. Não olho para ele, não porque não quero, vê o rosto dele agora seria ótimo. Contudo, sinto vergonha também. Vergonha de ter uma parte da minha história tão confusa e dramática, que o fez sair de onde estava com sua mãe para vir aqui.

Não me viro porque me sinto farta de estar em um quarto de hospital, uma soma de Hans com um erro fisiológico do meu corpo

Não me viro porque não quero que nada disso seja real.

— Khola. -Ele me chama novamente, desta vez o som da sua voz está mais perto e antes mesmo que eu me vire sinto a mão dele tocar a minha.

— Isso poderia ser um pesadelo. -Sussurro. Viro o meu corpo encarando o homem ao meu lado, seu olhar está triste e uma lágrima escorre do meu rosto. — Só um pesadelo inútil.

Ele me abraça com cuidado mas do mesmo jeito meu ombro dói, não é culpa dele, a ferida ainda é recente. Harry beija o topo da minha cabeça.

— Lembra do Panamá? -Pergunta. Ele se afasta um pouco de mim e fica me olhando.

— Uhun.

— Você tinha acabado de sair de um pesadelo também, igual a mim. -Harry diz calmo, seus dedos tocam minha bochecha com delicadeza e eu olho fixamente para seus olhos verdes. Os olhos verdes dele olham para meus olhos castanhos. — Foi horrível, eu sentia medo e tenho certeza que você também sentia. Só que uma coisa curiosa aconteceu, a gente se conheceu. -Ele segura minha mão com mais força.

— Harry...

— Qual foi a sensação que você teve quando estávamos lá no alto quando fizemos a trilha?

— Eu me senti renascida.

— Vai se sentir assim de novo, eu prometo.

Mais lágrimas escorrem do meu rosto.

Stronger || H.S || CompleteOnde histórias criam vida. Descubra agora