Prólogo

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Quando finalmente o aparelho celular avisou o recebimento de uma notificação de um aplicativo de rede social, Valentina sentiu o coração palpitar. Era uma mulher desconfiada e temia qualquer tipo de coisa que não estivesse dentro de seus calculados planos, por isso, vivia olhando por sobre os ombros e controlava tudo ao seu redor – jamais poderia ser pega desprevenida, isso poderia lhe custar sua liberdade.

As mãos tremeram para retirar o aparelho desatualizado e antigo de dentro da bolsa, a vibração ressoando novamente pelo cômodo escuro e silencioso.

"Valentina di Fiore?

Estou sonhando?

Por onde você anda, mulher?

Quase nem acreditei quando recebi a sua mensagem, sério, você desapareceu da face da terra há anos, para todo mundo da época da escola que eu perguntava sobre você, diziam que tinha mesmo se casado com aquele ricaço, o Ferri, e que devia estar morando num castelo em algum lugar da Itália!

Falaram que até mesmo sua mãe e irmãos se mudaram da cidade e eu não tive meio de te encontrar amiga!

Seu perfil não tem nenhuma foto nem nada, não vai dizer que somente agora se rendeu ao vício das redes sociais?

Custei a acreditar que era mesmo você amiga, sério, aquele nome que você colocou no perfil não ajudou em nada na sua identificação! Rsrs – acho que preciso te dar umas dicas sobre o facebook.

Como você deve ter visto no meu perfil, estou firme na Ilha Dalgliesh, onde voltei com o meu pai que trabalhava para a família (sim, eles são donos da Ilha e de tudo por aqui!) logo que terminei o ensino médio, e ele, o curso que foi fazer na nossa antiga cidade.

Também estou trabalhando para a família há há mais de um ano, sou babá de um menininho adorável, filho do atual chefão Dalgliesh.

É por isso que somente hoje estou respondendo a sua mensagem – estou de folga, os patrões proíbem o uso de celular particular pelos empregados dentro da mansão, e como moro lá seis dias por semana, só posso usar o meu quando saio do portão pra fora – coisa de gente rica com mania de perseguição!

Se bem que no caso deles, já rolaram altas tretas com fotos da intimidade da família tiradas por funcionários, então, acho que esse rigor foi mesmo necessário...

Mas enfim, perdoe pela demora, adorei receber notícias suas, me manda um telefone que eu possa entrar em contato, cara, quero muito saber de você, nunca esqueci a nossa amizade na época de escola e imagino que muito deve ter acontecido na sua vida pra você sumir do mapa assim!

Anota aí o meu número, vou estar disponível até as nove horas de amanhã, depois, somente no próximo sábado..."

Valentina teve que interromper as mensagens assim que o viu o número da amiga na tela. Ligou imediatamente:

___ Natália, que saudade, amiga. – sua voz estava trêmula, também um pouco rouca porque não era usada há muitas horas, fazia dois dias que ela não deixava aquele quarto de pensão e não falava com ninguém.

___ Puta que pariu mulher!!! – a italianinha era sempre muito escandalosa e engraçada na escola, pelo jeito não tinha mudado nada! – Por onde você anda?

___ Estou num vilarejo do principado de Mônaco, mas precisando voltar para a Itália. Pelo que entendi, essa ilha onde você mora fica perto daqui, não é?

___ Sim... – ela pareceu bem confusa – Fica há umas duas de carro de Monte Carlo, um pouco mais de trem por causa das paradas e aí você precisa pegar um barco até a ilha, mais alguns minutos, mas... o que você está fazendo num vilarejo? Deixou Messina?

___ Natália é uma longa história, que não pode ser contada pelo telefone. Estou vivendo precariamente num lugar nada legal, minha grana está acabando, acho que mal dá pra chegar até aí e se precisar mostrar o documento para chegar até a ilha, eu não sei como...

___ Não, eu estou no continente, na casa do meu noivo, não vai precisar ir até lá, mas Valentina, você... – O disparo foi ficando lento e preocupado conforme as palavras iam saindo - Está me assustando... – foi o que concluiu diante da voz chorosa e dolorida da amiga, sua animação indo ao chão, surpresa e choque dominando suas reações.

____ Desculpe... – ela lamuriou e conteve as lágrimas – Eu realmente preciso da sua ajuda, Natália, não tenho mais a quem recorrer, minha situação está insustentável, preciso de um lugar para ficar por uns dias, meus documentos foram roubados, eu... eu estou em perigo, amiga.

A italianinha imediatamente se mobilizou para ajudar a velha amiga de escola que não via há quase uma década – ela era boa a esse ponto.

___ Tudo bem, fique calma, se você precisa de ajuda Valentina di Fiore, acabou de encontrar! Escuta direitinho o que você vai fazer...

Ilha Dalgliesh - Livro 1 - O Senhor da Ilha (Degustação - 10 capítulos)Onde histórias criam vida. Descubra agora