1. Porto Continental

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Já era alta madrugada quando Valentina deixou a pensão no vilarejo de pescadores e usou seus últimos trocados para pegar um trem até o Porto Continental, a única área de embarque para a Ilha Dalgliesh

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Já era alta madrugada quando Valentina deixou a pensão no vilarejo de pescadores e usou seus últimos trocados para pegar um trem até o Porto Continental, a única área de embarque para a Ilha Dalgliesh.

Estava na costa da França já fazia algum tempo, encontrando bicos em bares e restaurantes frequentados por marinheiros e pescadores, passando desapercebida por qualquer autoridade – francesa ou italiana, mas tudo mudou nos últimos dias.

Suas suspeitas de que alguém estava pela cidade fazendo perguntas demais sobre ela dispararam seus alarmes, e ela se isolou na pensão, que já tinha pago pela semana, planejando quais seriam os seus próximos passos.

Sua vida tinha sido assim nos últimos anos: tinha que estar sempre um passo a frente, era questão de sobrevivência.

Então ficou por ali o tempo que podia, sabendo que se saísse logo em seguida, por qualquer meio que fosse, certamente seria encontrada.

Para esfriar o rastro, permaneceu entocada na pensão e foi quando descobriu que alguém tinha invadido o quarto e roubado todo o dinheiro que ela tinha guardado dentro de uma de suas botas – as mesmas também tinham desaparecido, junto com um casaco de forro grosso que ela tinha comprado recentemente, cansada de passar frio naquela maldita época do ano.

Nem se deu o trabalho de reclamar com a dona da pensão – o lugar era um pardieiro frequentado por prostitutas e viciados e claro que ela sabia que não estava segura lá.

Já fazia algum tempo que ela tentava encontrar a única amiga que fez quando frequentou o ensino médio, época em que ela ainda tinha algum tipo de liberdade.

Sabia que a família de Natália Medina trabalhava para os Dalgliesh, a garota sempre falava com carinho da ilha onde tinha crescido, por vezes, até discorria de modo sonhador sobre a beleza de deuses gregos dos cinco irmãos herdeiros, que nada tinham de gregos, mas sim, eram uma das famílias mais antigas e tradicionais inglesas, com raízes nobres, que fizeram da costa italiana seu lar centenas de anos antes.

Mas como tinha muito medo de usar o telefone – mesmo que tivesse trocado de número quase mensalmente no último ano e internet era uma novidade pra ela, que mal sabia usar, ficava muito difícil procurar aquela que fora sua única amiga.

Desde que tinha deixado sua cidade natal ela procurara falar o mínimo possível sobre si para qualquer pessoa, aceitava receber migalhas pelos piores trabalhos, desde que fosse paga informalmente, em dinheiro e sempre ficava nas pensões mais suspeitas e mal frequentadas, tudo para não se identificar.

A última era um buraco sujo de paredes tão finas que ela podia ouvir as prostitutas e seus clientes, praticamente, dia e noite em ação, que grande surpresa ter sido furtada!

Esse foi o motivo pelo qual se permitiu adquirir um celular um pouco mais moderno – colocar fones de ouvido e ouvir música pelo menos enquanto estivesse no quarto – mas mesmo assim, temia que usar qualquer tipo de tecnologia a denunciasse, a fizesse ser pega em qualquer das redes que Mássimo Ferri com certeza tinha espalhado por aí para capturá-la.

Ilha Dalgliesh - Livro 1 - O Senhor da Ilha (Degustação - 10 capítulos)Onde histórias criam vida. Descubra agora