7. Obrigações e responsabilidades

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Obrigações e responsabilidades

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Obrigações e responsabilidades

Já era a terceira noite que Henry passava longe de seu filho – e ele simplesmente odiava quando isso acontecia.

Em função de seus horários nada ortodoxos de trabalho, ele havia combinado com Natália que sempre deixasse, não importando que fosse um pouco tarde para uma criança, que ele desse banho em Justin e o colocasse pra dormir quando estava em casa.

E já era terça feira e ele não tinha podido fazer isso em nenhuma das noites anteriores, desde domingo.

A frustração pela ausência do filho só se somava aos problemas mal resolvidos nos negócios.

Há cinco anos ele estava a frente dos vários negócios da família, diversificação era o nome do meio de Colton Dalgliesh e ele expandiu o dinheiro antigo a novos ramos, como os da tecnologia e desenvolvimento sustentável, levando o que chamava de seu "pequeno burgo" ao século XXI.

O problema é que agora tudo tinha dimensões tão astronômicas, que era simplesmente impossível para um homem só, gerir tudo.

Logo no início Henry planejou subdividir os negócios em cinco ramos e que cada um ficasse sob a supervisão de um dos irmãos. Talvez Kit ainda levasse um tempo, até concluir seus estudos, já que ele tinha somente vinte anos quando o velho Colton se foi, tendo convivido com aquele somente dois anos.

Sim, após o divórcio mais escandaloso da história dos Dalgliesh, Veronica ficou com a guarda dos quatro filhos mais novos, recebendo em troca uma pensão astronômica. Eles voltariam a ilha aos 18 anos, prontos para enfrentar as responsabilidades do sobrenome.

Mas o filho mais velho, esse Colton fez questão de criar para ser senhor de tudo. E Henry sofreu esse tratamento desde que se entendia por gente.

Jamais iria querer fazer o mesmo com o seu filho, mas ao mesmo tempo, não queria que Justin fosse irresponsável como seus tios.

Toda a fortuna dos Dalgliesh não sobreviveria à gastança dos quatro irmãos, uma geração e tudo poderia ser colocado a perder se as coisas continuassem do jeito que estavam.

Somente Peter tinha se interessado em participar mais do braço imobiliário da empresa, mas mesmo assim, ele ainda tinha que revisar todos os passos do irmão para ter certeza de que ele não estava arriscando mais do que deveria – ele sempre gostou de apostar.

Henry não sabia como controlar adultos que se comportavam como adolescentes cheios de hormônios, desde que o patriarca se foi e o mais velho dos irmãos foi obrigado a assumir todas as responsabilidades, não havia ninguém capaz de coloca-los na linha e ele já começava a pensar seriamente em cortar acesso a fundos de investimentos, como as pessoas fazem com filhos menores que foram presos por dirigir embriagados.

Não que seus irmãos não fizessem isso, claro, a exceção de envolvimento com drogas, os quatro Dalgliesh mais novos se metiam em todo o tipo de encrencas, que geralmente, era ele quem tinha que resolver.

E ele estava tão cansado... Tudo o que queria era passar um fim de semana normal com seu filho, em paz, sem interrupções, aproveitar um passeio a cavalo, curtir um mergulho na piscina, droga, daria milhões para poder levar o garoto para a ilha tropical onde os seus digníssimos irmãos tinham o privilégio de estar agora, fugindo do inverno rigoroso.

Justin estava crescendo e logo se ressentiria de não poder fazer com o pai as mesmas coisas que os outros garotos normais faziam.

Ele ainda não sabia o que era normal – sua vida de luxo e empregados era normal pra ele, conviver mais com a babá do que com a família era normal pra ele, mas logo teria que ir pra escola e Henry sabia como era complicado quando todos os seus amigos queriam ter a sua vida de herdeiro gazilionário, mas tudo o que você queria era ter a vida comum deles.

Ainda tinha o problema da ausência de uma figura materna na vida do garoto. Ele sabia que Justin via em Natália o amor que não tinha da mãe e ela fazia o máximo para tentar separar as coisas, especialmente agora que teria o próprio filho, mas seria muito difícil quando ela se ausentasse.

Ele só podia torcer para que a nova babá fosse tão boa quanto, e esse era o problema que estava no topo da sua lista, o que estava impedindo que ele dormisse, mesmo depois de ter conversado com Justin e Natália e do garoto lhe contar empolgado como a babá flor-coruja era esperta e engraçada – não entendia a fixação que o garoto tinha desenvolvido pelo bicho, primeiro com a moça do galpão que ele ainda não sabia quem era, agora com a nova babá.

Os pensamentos de Henry se voltaram para a estranha que estava trabalhando para os Shriver. Bonita, mas triste. Era olhar pra ela e sua roupa larga e fechada demais e quase se podia sentir a desolação, a vida sofrida que levara.

Seus traços eram rígidos, mas a forma como ela sorriu para Justin lhe pareceu tão sincera. Não que ela tivesse estendido a cortesia de sorrir pra ele também, não, suas feições voltavam a ficar apáticas assim que os grandes olhos que mudavam de cor cruzaram com os dele. Como se ela tivesse medo de homens adultos.

Henry achou graça do próprio pensamento – que ridículo, ficou cinco minutos perto da mulher e julgava que tinha entendido tudo isso sobre ela!

Era madrugada mas seu telefone não parava de vibrar, ele sabia muito bem de quem se tratava.

Droga, levar uma mulher qualquer pra casa era errado e ele sabia disso. Sempre tomava todas as providências para que nenhuma delas cruzasse com Justin ou as empregadas de dentro, Misses Robinson em especial, só Deus sabe que tipo de sermão teria que ouvir se ela pegasse alguma de suas acompanhantes por ali.

Ele tinha chegado ao cúmulo de revistar o próprio quarto em busca de algum indício de que uma mulher esteve por ali, só para não ter sobre si, logo pela manhã, o olhar reprovador de Enola Robinson.

Ela era o mais perto que Henry teve de uma figura materna – Veronica partiu da ilha quando ele já era um adolescente, mas mesmo quando estava lá, ela nada tinha de maternal.

Era a Misses Robinson quem realmente se importava o suficiente para dar as broncas e foi assim que ele aprendeu que ser o herdeiro principal do senhor da ilha não lhe dava passe livre para tudo na vida.

Talvez se seus irmãos tivessem sido criados por ela, tivessem finalmente aprendido algo de bom...

Ele recusou a chamada novamente, um arrepio maligno lhe subindo pela coluna. Não queria nem imaginar o que Riva Andreoli faria com ele se conseguisse voltar para a sua cama, céus, por que pelos infernos tinha caído nas garras daquela mulher venenosa, ele não sabia.

Talvez pudesse culpar o whisky em excesso que bebeu na recepção dos Manor, onde a herdeira italiana estava lhe rondando, a raiva que estava sentindo de Darryl por tentar boicotar seus projetos junto ao novo braço tecnológico da Dalgliesh, a frustração por não poder dar ao filho uma festa de três anos que só tivesse gente que o amasse, não a horda de interesseiros de sempre, mas no fundo, sabia que a oferta de sexo sem compromisso com uma mulher de físico bonito é que tinha fechado o acordo. E a promessa de uma joia cara em retorno, óbvio – Riva Andreoli era rica, mas as mulheres como ela sempre queriam mais.

Desde de que se conhecia por gente Henry nunca conheceu uma mulher desinteressada. Sabia que tinha um bom físico e um rosto másculo, passou os trinta e seis anos da sua vida ouvindo elogios à sua beleza clássica, mas podia mesmo afirmar que qualquer desses galanteios tinham sido sinceros?

Certamente, quase nenhum.

Todas as mulheres que olhavam pra ele viam o herdeiro Dalgliesh, não Henry.

E ele já estava tão cansado de tudo isso que tinha decidido, era melhor pra Justin crescer criado por babás do que por uma mãe igual a dele.

Que os anjos digam amém para a possibilidade de Amber colocar as garras em outro herdeiro rico e nunca mais voltar, era a última fofoca que ele tinha ouvido a respeito da ex-namorada.

Ambos estavam muito melhor sem ela!

Ilha Dalgliesh - Livro 1 - O Senhor da Ilha (Degustação - 10 capítulos)Onde histórias criam vida. Descubra agora