Quatro

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Ainda na 2° semana de 22 restantes, 5 meses e duas semanas. 15:59

No consultório do doutor Spencer, Miguel encarava a parede vermelha cheia de prêmios destinados ao jovem médico que falava ao telefone em sua frente. Ele deve ter uns trinta anos, no máximo vinte e nove, pensou Miguel.

— Obrigado, dra. Lu, falamos depois. — colocou o telefone no gancho e observou Miguel do outro lado da mesa. — Aconteceu alguma coisa com Annie?

— Não, não! Eu vim pelo que conversamos pelo telefone, quero fazer aquela doação para o instituto de pesquisa do Missouri.

O doutor Spencer abriu um grande sorriso calculado, ele se lembrava que na semana passada havia comentado sobre o Missouri. A faculdade estava disposta a fazer pesquisas sobre o câncer raro que Annie possuía, o único problema era a verba, eles já haviam conseguido uma boa quantia mas, se quisessem seguir com o projeto, eles precisariam de muito mais. Miguel havia ficado tão entristecido com o ocorrido com a filha que se esquecera por vários dias o que Spencer havia lhe dito.

— Eu vou custear tudo, os equipamentos, os cientistas, a clínica...Eu...

— Não é pra tanto! — o dr. Spencer levou uma mão a frente, acalmando os ânimos de Miguel. — Já temos alguns equipamentos, só precisamos de mais pessoas capacitadas, queremos trazer especialistas de diversos países e pra isso...

— Minha filha vai ficar bem, não é? — Miguel o interrompeu.

— É necessário que você não crie esperanças. Entenda, entre cem pessoas esse câncer atinge uma...

— Mas você já viu muitos casos como esse...— foi interrompido.

— Casos tratáveis. O senhor sabe que eu não posso operar Annie, não dá, ela morreria na mesa de operação. Por isso não crie tantas esperanças, o Missouri vai fazer de tudo para achar a cura, só fique... mais calmo! Não quero ser um troglodita, mas estou tentando ser o mais sensível que posso.

— Certo...

— O que me alegra saber, é que se tudo der certo, várias pessoas que sofrem do mesmo problema que Annie vão ser curadas graças a sua ajuda!

— Sim... é, você tem razão.

Spencer parou por alguns segundos pensativo, parecia cansado e triste, logo Miguel entendeu o porquê.

— Sabe, nesse hospital existem trinta pacientes com câncer que estão sobre minha supervisão. É um trabalho exaustivo, mas ver o quadro clínico deles melhor não tem recompensa. — Miguel ouvia tudo atentamente, impressionado. — Desses trinta, dois casos é pancreático. Annie e Lia Conuol...

— Tem mais um caso igual o de Annie? Quanto tempo Lia Conuol está se tratando? Elas podem se conhecer e encontrarem ajuda uma na outra.

Miguel parecia empolgado, queria fazer Annie se enturmar.

— Lia vinha se tratando há dois meses, morreu hoje, de manhã. Você deve ter percebido o silêncio incomum hoje, ela deixava esse lugar agitado... o pior de tudo era que hoje ela estava dançando uma valsa com o pai, ninguém achou que...seria hoje. Me desculpe por estar falando isso, você não merece...

— Tudo bem! — Miguel interrompeu.

Na saída do hospital, encontrou os pais de Lia, o dr. Spencer citou Annie e o senhor e senhora Conuol mesmo arrasados desejaram a cura para ela. Miguel não conseguiu ficar mais tempo para ouvir, partiu para o carro e chorou entristecido, era de partir o coração.

Na volta pra casa Annie ficou impaciente com o silêncio sôfrego que Miguel fazia. Ele estava péssimo, ela se sentiu culpada.

— Onde esteve? — perguntou tentando acabar com aquilo.

Quando Annie for Onde histórias criam vida. Descubra agora