Vinte um

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Três semanas depois.

— Ela não quer falar comigo, mas vamos continuar insistindo. — dizia o psicólogo a Miguel. — Você sabe que pacientes com câncer possuem uma enorme probabilidade para a depressão. E com tudo o que você me contou…. — o médico suspirou. — Vamos tomar medidas drásticas, tire da vida de Annie quem não lhe faz bem.

— O senhor…

— Sim, falo da sua ex mulher, da sua sobrinha. De preferência, mantenha o vizinho longe...

— A culpa pelo vizinho é minha, Doutor, e ele fez mais bem a Annie do que até eu poderia fazer.

— Ela não me pareceu gostar quando citei o nome dele…

— Por que ela gosta dele. E a maneira que eu o envolvi nessa história foi muito precipitada e errada. Acredite Doutor, eu sinto que esse rapaz pode fazer muito pela vida da minha filha.

— Eu entendo. Mas evite que ela tenha aborrecimentos, evite estresse e preocupações.

— Certo.

Nessas três semanas que se seguiram, Annie parecia querer não existir, e se esforçava para que isso acontecesse. Ficava calada o tempo inteiro, não respondia as provocações de sua prima e às vezes parecia não ouvir, os pratos de comida ficavam enfileirados na beira de sua cama e Blush ficava ao pé da porta, esperando que sua dona a qualquer momento levantasse e fizesse carinho em seu pelo.

Mas durante aquelas três semanas aquilo não aconteceu. A única coisa que ela fazia era olhar para a janela, enquanto ficava deitada em sua cama. Na primeira semana, Miguel aparecia todos os dias e tentava conversar, mas Annie não queria conversa. Na segunda semana passou a trancar a porta do quarto, pra que o pai não entrasse mais. Blush não saiu de trás da porta em nenhum momento.

Ela ainda estava sobrevivendo e não sabia como, comia uma vez ou outra, o tratamento não estava reagindo como o esperado, e o médico havia sido bem claro: — Se o tratamento não diminuir o inchaço, não vamos conseguir fazer a cirurgia em você, e no final, terá que voltar para a quimioterapia, que não trará a cura, somente uma qualidade de vida melhor até você morrer.

Na terceira semana, Annie falou. No entanto, Deby não esperava que fosse daquela maneira.

— Não precisa voltar mais. E dessa vez não vou tolerar os seus escândalos.

Luana conversou com Annie, pediu a ela que cedesse ao pedido de seu pai e fosse ao psicólogo. Ela aceitou, mas agora sabia que era perca de tempo.

Acordou cedo e caminhou até a janela, agora era sete e quinze. Ela fitou a casa dos vizinhos e então encontrou Cloé com a mochila da escola nas costas, de todos, Annie sentia mais falta daquela garotinha. O ônibus do colégio da região passou e parou em frente à casa dos Livens, Cloé virou-se para trás como sempre fazia para dar tchau ao seu irmão, mas seus olhos encontraram os de Annie.

As duas se olharam por segundo e então Annie fechou a cortina, voltando para a cama.

As duas se olharam por segundo e então Annie fechou a cortina, voltando para a cama

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