Três

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2° semana de 22 restantes, 5 meses e duas semanas. 3:15 am

Aquela noite Annie não conseguira dormir, as dores eram tão fortes que ela podia jurar estar alucinando. Ela não fez nenhum barulho, o pai precisava dormir porque Annie sabia que ele já não dormia há noites, ela se virou na cama e a dor no abdômen atingiu as costas com ímpeto fazendo Annie gemer.

— Hoje não doença idiota! — ela bradou em um sussurro. — Você não vai me levar hoje!

Alcançou a gaveta ao lado da cama e tirou uma injeção de 5-fluorouracil, aplicou em si mesma e tomou um comprimido para dormir. A combinação forte dos remédios fizeram Annie dormir até o meio dia.

Ela acordou com o som da voz doce e tranquila de Shiru, acorde meu bem, ele dizia em seu ouvido. Ela abriu as grandes orbes azuis e forçou-se sorrir para ele, mas ele sabia que ela não estava bem, uma semana de quimioterapia já não havia feito bem a ela.

— Eu trouxe seu café! — Shiru falou orgulhoso de si, Annie se equilibrou nos cotovelos e olhou a bandeja com comidas bem temperadas dentro, Annie costumava comer coisas sem graça, sem sal demais, sem açúcar demais, sem tempero também.

— O meu pai não te viu entrar com isso viu? — aquele banquete estava muito tentador, mas o estômago de Annie se revirou ao olhar a comida suculenta.

— Ele que pediu que eu trouxesse, a minha mãe fez pra você e veja só, ainda está quente.

Annie suspirou.

— Obrigada, Shiru, mas acho que não estou com fome.

— Você disse isso o dia todo ontem, eu tenho certeza de que hoje você está com fome! — ele falou mais perto, de uma maneira carinhosa.

— Eu posso tentar!

Ela forçou o sorriso novamente.

Annie se forçou a comer, ela comeria tudo aquilo quando estava bem, no entanto, hoje ela não conseguia nem sentir o cheiro, achava que nunca havia comido aquilo na vida. Com um pouco de verdura na boca ela começou a chorar, o quarto ficou em silêncio e Shiru, bom, ele se esforçou muito para dizer as palavras certas, mas nada se parece certo quando estamos prestes a morrer, não é mesmo?

— Não é justo, Shiru! — soluçou. — Vocês não mereciam isso eu... eu...

— Você não merecia isso, Annie. Mas vai ficar tudo bem não é? Você vai sair dessa...

Annie não havia contado todos os prós e contras, ela havia omitido uma pequena parte, mas a mais importante, ela não queria que os amigos ficassem presos a ela por pena, por mais que agora Shiru e Deby só fiquem em sua casa. Mas Annie se forçou a contar, ela tinha. Não era certo com eles.

— Shiru... — os olhos minúsculos de Shiru perderam o brilho assim que Annie se rendeu ao choro profundo. Mas ele não entendia, Shiru achou que Annie estava sentindo algo e imediatamente chamou Miguel, o pai abraçou a filha na cama e enxugou suas lágrimas, pediu a Shiru que esperasse por ele na sala de estar, e ficou consolando sua menininha, "vai ficar tudo bem" ele dizia isso a si mesmo, por que as palavras não funcionavam mais com Annie. Está tudo bem, Annie pensou, essa é a segunda semana é normal se descontrolar um pouco.

Antes de Miguel ir, ela pediu para que ele contasse a verdade aos amigos e pediu também, que eles não voltassem mais. Ela sabia que era um pouco cruel para o pai fazer isso, mas ele também sabia que ela não conseguiria, e ele o fez, seu coração se partiu ao ver Shiru chorar, Deus, aquilo era o momento mais difícil que ele passara a vida inteira, o pior foi pedir para que ele não voltasse. Shiru entendia, mas assim que ele contasse a Deby, Annie sabia que ela invadiria a casa atrás dela.

Quando Annie for Onde histórias criam vida. Descubra agora