Entre Dois Mundos

Cinco

A viagem seguiu. Enfrentaram um mar instável, algumas tempestades, nos dias mais difíceis tiveram que ajudar com algumas coisas no navio. Os trinta dias pareciam uma eternidade, até que essa aflição chegou ao fim. 

Era de manhã, Theo ainda estava dormindo e Julieta estava na cabine do Capitão Léo, ajudando-o a organizar seus mapas e livros. A jovem, sempre disposta a ajudar e a aprender, acabou passando muito tempo com o Capitão, aprendendo a analisar os mapas e a velejar.

Por um momento ele parou, pegou sua luneta e observou o mar pela janela de sua cabine. 

-Senhorita Julieta, tenho boas e más notícias para você.

-Começa pela boa. Quem sabe não muda a má notícia? - tentou ela ser otimista.

-A boa notícia é que estamos perto de Londres. A má notícia é que vem uma tempestade forte por aí.

-Acha que chegamos ao porto antes do temporal?

-Eu não acho, eu tenho certeza. O problema vai ser sair do porto depois que a gente embarcar. -exclama o Capitão preocupado. - Vou ter um bocado de prejuízos.

-Se você não ancorasse o barco, daria para você voltar? - diz Julieta pensando alto.

-Julieta se fosse só você que eu devia entregar, eu te levaria de bote até o porto. Mas eu tenho uma entrega grande que deve chegar sem atraso hoje. De qualquer forma terei que ficar alguns dias em Londres. - Julieta fica um pouco desanimada, perdida em seus pensamentos, nas memórias, nos lugares, até que ela tem um estalo:

-O senhor já rodou o mundo, não é?...

-Isso é verdade.

-E conhece muita coisa! - nesse momento floresceu na jovem uma possibilidade de encontrar respostas.

-Sim... - concordou ele sem entender o raciocínio de Julieta.

-Eu já volto! - diz ela saindo da sala como um raio.

Ela foi correndo até seu quarto mas quando viu que seu irmão ainda dormia, tentou parar antes que fizesse alguma trapalhada. Abriu a porta com todo o cuidado do mundo e andou pela sala na ponta dos pés até a cabeceira da sua cama onde estava pendurada sua mochila vermelha. Ela pegou a mochila e saiu do quarto do mesmo jeito que entrou. Quando estava quase fechando a porta, foi surpreendida.

-O que está fazendo? - perguntou Theo se levantando em um pulo. Ele só estava fingindo. O piso de madeira range muito...

-Que susto garoto! - falou Julieta ofegante. - Eu preciso de respostas.

-Não me diga que vai fazer o que eu acho que vai fazer.

-Essa é a única maneira de entender o que está acontecendo! - diz ela quase sem esperança.

-Mostrando a um estranho as nossas coisas mais preciosas? Você ficou doida de vez, só pode ser!

-Eu não ia falar da mamãe e do papai. Só queria perguntar a ele sobre o leão...

-Ah não! Essa história de novo não! Julieta, pelo o amor de Deus, isso não passa de paranoia da sua cabeça! - exclamou Theo bem devagar como se ela fosse uma criancinha. - Não venha tocar mais nesse assunto.