Nove

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-Onde está o Professor Digory? - pergunta a mulher se sentando na poltrona no meio da sala.

-Ele está lá em cima. - responde Julieta com a voz desanimada e extremamente envergonhada. -Logo irá descer.

As garotas cochichavam baixinho encolhidas uma na outra no pequeno sofá. Riam, trocavam olhares e encaravam Julieta por alguns segundos, depois voltaram a rir.

Se ainda me sobra um pouquinho de juízo na minha cabeça e um pouco de amor próprio, eu prometo a mim mesma que não vou trocar uma palavra sequer com essas duas!

-Bem...  Se me concedem a licença, eu tenho algumas tarefas a cumprir... -diz Julieta toda encabulada, saindo de fininho pela porta da frente.

-Então você é uma nova empregada?  -pergunta o garoto.

-Tão nova e já está trabalhando! Coitada! - lamenta a mulher.

-É verdade! Olhem a mão dela. Pelo visto ela não deve só limpar. - comenta a garota mais velha olhando curiosa para a mão de Julieta.

-Não... Eu sou não... Quer dizer... - Julieta se enrolava em sua própria língua e as palavras não saíam com clareza de sua boca. E por baixo daquela farinha toda, estava começando a ficar com o rosto vermelho de vergonha. - Eu tenho que ir. - diz ela saindo rápida e discreta como o vento.

Ela sai pela frente, bate a enorme porta de madeira atrás de si, encostando suas doloridas costas nela, como se estivesse fugindo da vergonha.

A primeira coisa que vem a sua cabeça é chorar, mas corria o risco de ser ouvida, ou nesse caso, vista.

-Julieta! - grita alguém ao longe, correndo em sua direção. Ela no conseguia enxergar quem era, mas seja lá quem fosse, não seria agradável ficar em sua presença naquele estado, então passou sebo nas canelas e saiu correndo dali, com a cara cheia de farinha e com a mão e o coração mais doloridos do que nunca.

Se estivesse ficado mais um pouco em frente a porta do casarão, descobriria que quem gritava pelo seu nome era seu irmão, que carregava uma bela margarida em sua mão.

-O que será que aconteceu...? - reflete Theo olhando para a flor, que seria um presente para a irmã.

~*~*~

Depois de dar a volta na casa, entrar pelos fundos e chegar até seu quarto, ela fecha a porta bruscamente e escorregando devagar pelos seus pés se apoiando pela parede, ela se encontra no chão, em meio a lágrimas, farinha e toda a vergonha e decepção que havia ganhado de presente.

Presente...

Ao se lembrar de seu aniversário, a jovem esfrega as lágrimas de seu rosto exageradamente esfarinhado e segue até a sua mochila, para ver os presentes deixados pelos seus pais.

Primeiro, ela retira a mediana caixa retangular, embalada em jornal velho. Depois de analisá-lo, de ter sacudido e depois de tentar adivinhar o que era, rasgou os cadernos de notícias, revelando um estojo em tom de marrom chocolate, muito similar a uma mala.

A jovem olha surpresa e curiosa para o presente. Ela o gira no chão e vê uma fechadura. Com medo de queimar a mão como da primeira vez, ela pega mais um pedaço do vestido, enrola na mão, com os olhos fechados e olhando para o lado oposto da tranca, ela aproxima sua mão direita da fechadura. Quando a toca, se surpreende por não ter se queimado, fazendo-a se virar para saber o que havia ganhado.

Abrindo a pequena fechadura, é revelado uma memória muito boa de seu tio: seu ukulele alienígena, o Beto.

-O ukulele do Tio Marcelo. - cochicha alguém atrás da porta. Ao ouvi-lo, Julieta sorri, porque gritar não seria uma boa ideia.

Entre Dois MundosOnde histórias criam vida. Descubra agora