Seis

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Depois de horas de brincadeiras bobas, de risadas e de caminhada naquela chuva forte e na pouca luz do Sol poente, encontraram a tão aguardada esperança deles.

Janelas compridas e vitrais coloridos enfeitavam aquela massa pura de concreto e barro. Árvores altas e verdes cercavam o casarão, como se fossem a fortaleza de um castelo. A porta enorme de madeira maciça, que era procedida de uma escada de mármore branco, era cheia de detalhes impressionantes, parecia concentrar uma floresta inteira só naquela porta. Chegava a ser angelical para os irmãos, que nunca haviam visto algo do porte inglês.

-Bem, deve ser aqui. - fala Julieta subindo os degraus.

-É. Ele descrevia bem a sua "humilde casa" nas cartas. - diz Theo olhando para a altura da casa. - E se não for aqui? 

-Pedimos informações e continuamos a procurar. - responde Julieta calmamente. Theo encarava a casa como se fosse um monstro. Olhava para cima e aquilo lhe dava arrepios.

-Não me sinto muito bem aqui. - diz Theo com a voz baixa e triste.

-Tudo vai se ajeitar. Aliás, o professor deve ser uma pessoa incrível! 

-Bem, acho que está certa. - diz ele dando um sorriso de lado.

-Pronto? - fala Julieta estendendo o punho para bater na enorme porta de madeira.

Theo apenas assente com a cabeça.

Julieta está prestes a bater a porta, quando um detalhe curioso na porta lhe surpreende: um leão bem esculpido no canto da madeira lhe prendeu a atenção por alguns segundos.

-Tudo bem Julieta? - pergunta Theo sem entender o que aconteceu.

-Sim. Só estava admirando a porta. - diz ela toda brincalhona. Assim ela bate a porta três vezes sucessivamente, e os dois irmãos recuam alguns passos esperando serem atendidos.

Por alguns segundos, não ouviram nada de dentro da casa. Pensaram que não havia ninguém, e isso já estava desanimando Theo.

-Fique calmo. Logo alguém aparece. - Só que ninguém apareceu. - Vou tentar bater de novo. - Ela bateu novamente na porta, e desta vez, deu para ouvir alguma coisa de dentro da casa.

-Marta! Tem alguém na porta! - grita uma voz forte e jovem, que ficou abafada pelas paredes e pela chuva. Não deu para ouvir muito bem.

-Estou muito ocupada! Atenda você! - respondeu uma voz estridente e com mais idade. Era de doer os ouvidos!

-Eu também não posso atender! Estou estudado! - gritou de volta a primeira voz.

Em meio a essa discussão dentro da casa, os dois irmãos ouviram passos se aproximando, fazendo os dois recuarem mais um pouco.

-É agora. - cochichou Theo.

A porta se abriu, e de trás dela surgiu um senhor não muito alto, com uma barba branca comprida e poucos cabelos brancos sobre a cabeça. Trajava roupas finas e tinha um cachimbo na boca. Óculos redondos marcavam algumas rugas e os olhos caramelo que se arregalaram ao ver Theo e Julieta.

-O senhor seria o Professor Digory... Kirke? - perguntou Julieta gentilmente. Quase esquecera o nome do homem.

-Pelas barbas do profeta! Vocês são... filhos do Tavares, correto? - pergunta o senhor como se tivesse visto fantasmas. - Julieta e Theobaldo!

-Somos sim senhor. - respondeu Julieta surpresa.

-Como sabe os nossos nomes? - pergunta Theo desconfiado.

-Entrem que eu explicarei melhor. - diz o idoso abrindo um pouco mais a porta e deixando os dois passarem. - A chuva está horrível.... Minha nossa! - fala ele olhando para Julieta. - Marta! Prepare um banho quente lá em cima! Tem alguém precisando.

Entre Dois MundosOnde histórias criam vida. Descubra agora