11° Tesoura

103 27 226
                                    

Caminho calmamente pela entrada do castelo. Hoje o dia parece tedioso, o vento não bate e até mesmo o sol está tímido entre as nuvens, tudo banhado em uma eterna monotonia.

Subo a escadaria em passos largos, encontro um corredor forrado por um longo tapete vermelho. As paredes são repletas de janelas grandes e majestosas. Olho através de uma delas e vejo o jardim, ele está coberto por uma espessa camada de neblina, onde mesmo forçando os olhos, não consigo distinguir o que é flor e o que é árvore. Ou talvez eu esteja ficando cego, como meu pai.

— Louis!—Grita alguém, atrás de mim.

Viro rapidamente na direção de voz. É Ludovica, em seus braços ela carrega o futuro rei, August Voüfreant Alwisk, ou como eu costumo chamar, o berrão. Toda madrugada são gritos e mais gritos, não consigo decidir o que é pior: choro de uma criança desesperada ou os passos apressados das criadas e amas de leite. Pobres mulheres, elas deveriam ganhar mais, aposto que é um tormento aguentar toda a gritaria noite a dentro.

Também é um tormento pra mim, que não durmo direito a dias.

—Oi. Meu pai está na sala do trono.— Já adianto, enquanto ela se aproxima e eu me viro para continuar o trajeto.

—Seu pai? Oh! Não, quero falar com você.— Sabe, eu estava pensando...—Ela balbucia, olhando para o teto, sempre distraída —Não quer ficar com seu irmão hoje?—

—O quê?—Exclamo, franzindo a testa, sem entender nada.

— Olha, eu sei que não somos tão próximos, mas você era uma criança muito inteligente e boa. Mesmo com toda sua...vida fora do castelo. — Ela explica, com cuidado. — Eu quero isso para August, você seria um bom exemplo para ele. —De como ser um rei sábio que também pensa no povo.

—Eu fico muito feliz que ache isso, mas por enquanto ele é só um bebê, não tem muita coisa que eu possa ensinar, entende?—

— Sim, eu entendo.— Mas a Helena me contou que é ótimo quando os bebês ficam familiarizados com as pessoas dês de cedo. Coisa de socialização,sabe.—

— Não,não sabia. É só que...desculpe, eu não sou muito chegado a bebês.—

— Vamos lá! Por favor, prometo que ele não vai dar trabalho. — Não é? Gorduchinho da mamãe — Ela brinca com o filho, passando os dedos em sua barriga, o fazendo gargalhar.
— E eu vou sair com o seu pai, não tem aquele duque que ele brigou?—

— Qual duque? Duque Thomas? O dos vinhos?—

— Esse mesmo. A esposa dele vai fazer uma comemoração por terem adquirido novas terras em Heyhole. — E eu convenci Edgar de que seria bom irmos. Talvez eles se reconciliem.

Suspiro, me dando por vencido.
— Certo, Ludovica. Mas só hoje, poderia chamar Helena? Ou alguém para me ajudar a ser babá.—

—  Hahaha! Não mesmo. Quero saber como vai se sair como irmão mais velho. — Ela deixa escapar, rindo.

—  Nossa. Não me culpe se ele não sobreviver no processo ou for comido por lobos!— Respondo, tentando entrar na brincadeira.

— Ãn...haha. Hum...eu espero que não! -Ela murmura apertando levemente a bolota de carne contra si, sem jeito, deixando o clima estranho.

— Eu estava brincando, relaxe.— Digo constrangido, coçando a cabeça e desviando o olhar.

— Sim,sim,eu sei que estava. Você nunca faria uma coisa dessas.—  Ela enfatiza quase interiormente, tentando me convencer ou se convencer disso.

Que diabos! Por que eu sempre acabo falando merda? Agora ela deve estar arrependida de me chamar e me achando um louco. Quem é que faz piada com matar bebês? E ainda pior, com a mãe dele. Burro, burro, burro. Parabéns por ter dois neurônios, Louis.

AscençãoOnde histórias criam vida. Descubra agora