9° Helix

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—Bom dia, alunos. —Vejo o diretor subir os degraus do palco. Bem ao centro da sala. —Hoje, venho dar uma ótima notícia para vocês, estão curiosos? —

—Outra boa notícia, ein? Bem estranho, não acha?—Cochicho virando levemente o rosto para Alisha, que estava com o canto da boca sujo da tortinha de morangos, que ela por sinal, devorava.

—Hum? Ah, eu acho estranho sim,mas a gente sai ganhando, então tá tudo certo.—ela responde, lambendo os dedos com satisfação.

—Até que faz sentido, ei! Deixa as minhas tortinhas! Estou guardando pra mais tarde. —Aviso, puxando o pacote de sua mão. —Sua esfomeada.

—Só uma...por favor?— Ela suplica, com seu melhor olhar de cachorro molhado, fazendo biquinho.

—Não. Minha torta. Entendeu?
—Respondo semicerrando os olhos.

—Sua chata! —Ela esbraveja, batendo as mãos na perna, frustrada, finalmente desistindo.

—Como vocês devem saber,estamos em parceira com outro grupo de mercenários, do reino de Helix.
—Explica o diretor, ao caminhar pelo palco, gesticulando.—E,como há boatos,alguns deles são capazes de conjurar entidades.

—Meu santo Deus da guerra! Estou começando a ficar com medo. —Alisha fala para os ventos, se queixando.

—Os melhores alunos poderão se candidatar para invocar um familiar, mas só dez serão escolhidos. Lembrando que, os familiares invocados não serão de suas escolhas, a essência deles deverá se adequar a de vocês. Portanto, não quero ouvir possíveis reclamações.

—Agora, vou chamar o grupo de elementais que fará o procedimento.— Ele encerra sua fala, se afastando do meio do palco e sentando em uma das grandes poltronas pretas no final da sala.

Um grupo de quatro pessoas adentra o recinto, todos os alunos se calam, imediatamente, espantados.

Estou impressionada com sua beleza, seus corpos esbeltos, e sua pele me lembram um tom fechado de bronze antigo. O que mais me impressiona são seus olhos, com cores totalmente exóticas e únicas. Consigo detectar algumas, como rosa, laranja e até mesmo vermelho. A energia que eles exalam é assustadora, uma áurea sombria e supulcral, me causa arrepios.

—Olá,alunos. Me chamo Évora, vou explicar como funciona o ritual.—Ela se apresenta, sua postura é impecável e seus olhos vagam de rosto em rosto, impassível.

—Primeiro, preciso salientar que é provável que alguns de vocês morram no processo, então pensem bem nas consequências e não sejam imaturos.—Segundo, vocês deverão estar de jejum por 48 horas, para que se seu corpo seja devidamente purificado e crie uma linha direta com o mundo inferior. Terceiro, o familiar invocado não lhe pertence. Eles são devotos a você, os ajudam em sua jornada, mas não o vejam como um criado ou animal de estimação, e sim como um amigo e companheiro. Quarto, para finalizar. O vínculo é eterno, só pode ser quebrado com a morte de uma das partes. Então, sugiro que façam a escolha correta e não se arrependam.—

—Estou em choque.—

—Eu também. Respondo Alisha, ainda olhando para Évora.

—Vai participar?—

—Não sei, e você?—

—Eu definitivamente não vou participar desse...ritual! Ficar dois dias sem comer? Não é pra mim isso não.—Ela ressalta, arregalando os olhos.

—Realmente, não é o tipo de "ritual"— falo fazendo aspas nos dedos—que você participaria. —Mas, e se eu participar?—

—Você não pode estar falando sério. Alto risco de morte,  lembra?—Ela protesta.

—Eu sei, mas é uma oportunidade muito boa. Alguma pessoa pra me ajudar a concluir as missões.—

—Vocé quis dizer alguma coisa, não é? Por que duvido muito que iria precisar desse ritual macabro pra invocar um ser humano. —

—Vai saber, talvez um super humano voador e mega forte? Mas falando sério, eu não vou morrer, olha só pra mim —Digo subindo e descendo a mão pelo corpo, evidenciando meu excelente porte.

—Não sei se vale a pena, Bella. E se você morrer? Você é minha única amiga, não posso te perder também. —Ela lamenta, uma das poucas vezes que a vejo angustiada.

—Olha,eu te prometo que vou ficar viva e bem.—

—Você não pode me prometer isso, sua mentirosa.—

—Posso sim. E eu não sou mentirosa.—Rebato dando um pequeno sorriso, tentando a tranquilizar.

—Já vou logo avisando, se você morrer, eu juro que vou até o submundo e vou te bater tanto que você vai voltar a vida deformada e careca. —Ela fala olhando no fundo dos meus olhos, seria.

—Nossa! Pra que tanta ameaça?— Digo rindo, mas sem duvidar dela.

Naquela hora, o misterioso povo de Helix sai da sala, acompanhados de alguns professores e do diretor.
No mesmo instante, a balbúrdia se instala, todos entusiasmados conversando entre si, como um grande mercado de peixes.

Me levanto com Alisha indo para o quarto. Ao chegar lá, tomo um banho apressado e sigo em direção ao salão principal, onde estão sendo recolhidos os dados dos alunos participantes.

—Oi! —Chamo a senhora com a planilha. Ela olha para mim e me ignora completamente.—...Senhora?— Chamo novamente, com uma ligeira irritação na voz.

—O que é?—Ela responde, de cara fechada.

—Quero deixar meus dados. —

—Pode preencher a folha que está ali — Ela aponta para pilha enorme de papéis. —Depois coloque ali. —Fala abaixando os óculos, ao me mostrar outra enorme pilha.— A fila está enorme, então iria me fazer um enorme favor se adiantasse e saísse da minha frente.

—Certo. Muito obrigada! Você é realmente muito simpática, um amor. —Respondo ácida, sem uma gota de agradecimento real.

Preencho os papéis. Espero não estar fazendo uma grande burrada.

[...]

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Notas da autora: Espero que estejam gostando! Caso tenham alguma dúvida, podem perguntar.
Pra quem tem curiosidade,o nome Évora é derivado da palavra "Yeborath", que significa encruzilhada.
A indícios de que ela seria uma das mestras do mago Cipriano (ou são Cipriano).

Obrigada pela leitura! ❤️

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