Capítulo 4 ♡ DEGUSTAÇÃO

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Karl Rodrigues

Pensar em como eu levo a vida desde muito novo, me faz enxergar como ela sempre foi vazia, desde meus quinze anos quando entrei no ensino médio e meus hormônios explodiram, fiquei com o rosto cheio de marcas de acne, não sentia vergonha, nada disso, eu achava normal, era apenas uma fase. Mas ai no primeiro dia de aula, várias pessoas me encarando, me julgando, e eu vendo esses olhares para cima de mim, fui me excluindo, me achando uma aberração. Não criei vínculos com ninguém, não tive amigos. Pois os únicos amigos que eu tinha tinham ficado na minha cidade natal. Eu me mudei para a grande São Paulo por causa da melhor opção de emprego para meus pais que eram pobres.

Sofri tanto com os olhares julgadores que ficava nervoso e descontava tudo na comida, e assim passei a engordar. Não tenho mais meu corpo bonito que é o corpo padrão para ser chamado de perfeito aos olhos da sociedade.

Chorei tantas vezes sozinho em meu quarto, pensando em mudar, em emagrecer. Ai veio mais olhares quando eu estava na faculdade de moda, porque agora era meu corpo acima do peso. Eu me odeio, não gosto de nada quando me vejo no espelho. Só vejo um corpo gordo e vazio.

E enquanto eu lidava com tudo aquilo na faculdade, veio a primeira traição do meu pai. Minha mãe ficou arrasada, era gritaria para todos os lados. Ele dizendo que era mentira, e eu vendo que tudo era verdade. Ele era meu pai, o homem que eu mais amava e confiava, mas ele jogou tudo isso no lixo, quando além das traições ele levantou a mão para bater na minha mãe pela primeira vez. Porra, eu era um adolescente de dezenove anos, mas não fiz nada, fiquei parado ali, apenas chorando. A dor que eu estava sentindo por ver aquela situação me paralisou.

Mas minha mãe teve que aguentar aquela situação por mais alguns anos, pois ela não teria condições de cuidar de todas as contas numa cidade onde ela não conhecia ninguém. Mas assim que eu terminei minha faculdade e abri meu site, minha empresa online de roupas e comecei a ganhar dinheiro com isso eu sai daquela casa e a levei comigo. E isso foi a melhor decisão que já tomei. Não vejo meu pai a muito tempo, e nem mesmo ele fez questão de me procurar.

Apesar das lágrimas está descendo agora equanto penso nisso, tudo se dissolve ao ver minha mãe dormindo tranquilamente com a cabeça em meu colo enquanto eu faço carinho em seus cabelos pretos. Hoje é domingo, e virou meio que uma tradição nos sentarmos no sofá ao fim da tarde e ver filmes juntos, sempre acaba assim, com ela dormindo.

Enxugo as lágrimas que ainda desci por meu rosto e chamo por minha mãe.

- Mãe? - Balanço devagar seu corpo magro.

- Huum. - Ela apenas resmunga.

- Pra cama. O filme já acabou e passa das dez, amanhã você tem que ir para a floricultura. - depois que nos mudamos e eu estava ganhando bastante dinheiro, pude realizar o sonho da minha mãe, ela sempre sonhou em trabalhar com flores, então eu comprei uma loja pra ela. Ela tira sua cabeça do meu colo, se espreguiça e deixa um beijo em minha testa.

- Boa noite querido.

- Boa noite mamãe.

Assim ela some pelo corredor. E suspiro. Como eu trabalho em casa mesmo, não tenho horário, já que trabalho para mim mesmo. Apesar de que ontem chegou um email de uma das melhores empresas de moda do país querendo me contratar. Eu queria sim trabalhar lá, seria uma grande oportunidade. Mas não quero ir lá, não quero ter que lidar com os olhares de modelos super lindos e magros em meu corpo. Mas o dono da empresa o tal Damien, insiste em me encontrar para uma reunião pessalmente. E tenho certeza de que quando ele me ver, irá se decpcionar com quem está por trás daquelas roupas que ele tanto gostou.

Eu estou acostumado com isso. Ver o olhar de decepção no olhar das pessoas. Bem no começo quando abrir minha loja online, algumas pessoas insistiam em me conhecer, eu não via muito problema na época, então ia levar algumas peças pessoalmente em algum encontro. Mas olhar daquelas pessoas em cima de mim. Como se eu não fosse o que elas espetavam, me deixou com mais receio ainda de ser visto em público.

Hoje minha pequena loja, já não é mais tão pequena. Tenho bastantes compradores fiéis. Mas eles nunca viram meu rosto. E com certeza se virem, irão me olhar da mesma forma que todos os outros fizeram. E com Damien não seria diferente, porque seria?

Ninguém nunca tentou conhecer o verdadeiro Karl, o Karl por trás de toda a gordura e rosto com marcas de espinhas.

Me pergunto desde quando ser assim, me transformou num mostro, desde quando o ser humano, deixou de SER humano. De ter compaixão e amor ao próximo. Deixou de amar, para julgar a vida e aparência daqueles ao seu redor.

Essas pessoas são felizes ao sugar toda a nossa energia? Como se fossem dementadores se alimentando da nossa felicidade?

Eu só queria ser eu, ser feliz.

Eu, Damien - Livro 1 - COMPLETO NA DREAME - Trilogia Irmãos SantoreOnde histórias criam vida. Descubra agora