não esqueça o batom, Cinderela

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Depois de ter acordado às cinco da manhã para fazer o que deveria ter feito ontem antes que Diana acordasse, eu chamo Hanna para conversar sobre a derrota que foi a noite passada, ela topou vir aqui na mesma hora e, em menos de cinco minutos, a garota já estava comigo. Agora, enquanto termino o almoço das Hays, minha amiga arruma a minha mochila para o show no Hoover Flip.

— Aonde você pensa que vai? — Diana, como de praxe, estraga qualquer plano que tenho.

— Vou para casa de Hanna, eu avisei quando fui limpar seu closet. Disse que tudo bem.

— Não, eu disse que não me importava. Mas agora que preciso de você para guardar as compras que fiz, eu me importo. Você não vai.

Num gesto automático, largo a colher ao lado da panela, saio da cozinha e vou até a sala de jantar, onde Diana lê algum site de fofoca em seu tablet e Natália tira fotos para postar no Instagram, mas ao levar em conta a careta que faz toda vez que analisa a foto que tirou, ela ainda não se satisfez com nenhuma.

— Não pode fazer isso.

— Não fazer o que eu já fiz, querida? — O tom hostil é claro como o dia.

— Hanna está nos fundos, me esperando, já disse a ela que você deixou. Suspeito mudar de ideia tão repentinamente considerando que meu castigo já é fazer o almoço de vocês duas, huh? — digo, com a voz cheia de suposições.

Usar de Hanna como se não soubesse nada é sempre uma boa cartada, quase posse ver as fumacinhas saindo da cabeça da minha madrasta e preciso controlar o sorriso por vê-la assim, sei que pioraria as coisas e, talvez, até estragaria a chance de sair hoje.

— As vezes acho que você brinca com a sorte, garota.

— Posso dizer o mesmo. — digo, erguendo as sobrancelhas e expondo o cinismo em cada canto da minha face.

Apesar de me sentir bem por conseguir estar por cima, também estou irritada como nunca só por ter que passar por toda essa situação, minha madrasta consegue me tirar do sério, eu odeio tanto ela. Acho que pode soar mal, mas são nesses momentos em que sinto mais falta dos meus pais, apesar de evitar pensar neles (talvez soe mal de novo, né?). Mas o ponto é que procuro fugir ao máximo dos meus problemas quando relacionado ao meu emocional e, sendo bem sincera, não sei se até hoje superei a morte do meu pai ou mesmo da minha mãe. É tão difícil viver em um mundo sem as pessoas que são essenciais para a sua vida, aquelas que deveriam cuidar e amar você.

Eu não deveria passar por toda essa merda, eu tinha que está focando apenas na escola, tinha que ter meus pais ao meu lado, me apoiando, me pondo de castigo sempre que fizesse besteira, cedendo as minhas insistências para me deixar sair, aconselhando-me e interrompendo festas do pijama que teria com Hanna e durariam até o dia seguinte para banharmos na nossa piscina e, depois, entrarmos em um churrasco em família

Sei que meus olhos lacrimejam da mesma forma que sinto meu queixo tremer, é por isso que evito pensar, porque não suporto ter que aguentar toda essa dor que estou sentindo agora. Pela primeira vez, agradeço a voz de Diana e sua maldade gratuita por me chamarem atenção quando ela pergunta de maneira áspera:

— Que horas você chega?

— Tarde. Vou ao Hoover Flip depois. — Sou curta com qualquer resposta.

Os olhos de Natália desgrudam do celular e se erguem até os meus, a insatisfação presente em cada expressão da careta feia, o celular pende em uma das mãos enquanto a outra cai em repouso na mesa.

— Ah, não. Você também vai? Urgh, como se já não bastasse aturar você aqui e na escola.

— Pra mim também será um prazer ter a sua companhia lá, não se preocupa que não esta só nessa. — O deboche transborda em cada palavra, minhas feições sérias enquanto minha voz carrega uma falsa alegria e cordialidade.

Até A Meia Noite [EM PAUSA]Onde histórias criam vida. Descubra agora