assessora de campanha, Cinderela

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Acabo de sair do banho, ainda estou enrolada na toalha amarela quando tomo um susto por ver Hanna jogada de bruços na minha cama.

Solto um gritinho assustado que é completamente ignorado pela garota morena de pele escura que morde o canto da unha constantemente enquanto mantém a atenção num papel amassado que tem nas mãos.

— O que tá fazendo aqui? — pergunto, pegando as roupas que havia separado e me vestindo.

— Precisava da sua opinião e não dava para ser por telefone ou se não eu surtaria.

— Opinião com o que? — Minha voz sai abafada por esta passando a blusa justa e azul pela cabeça.

— O primeiro discurso como concorrente a presidência. Não é nada como mostrar nossos planos e blá blá blá, é mais sobre anunciar nossa assessoria, o que nos leva a querer nos candidatarmos e coisas assim. Toma, lê ai. — Ela estende o papel na minha direção.

Pego a folha da sua mão e puxo uma das duas cadeiras amarelas, de frente a uma pequena mesa de vidro, para perto da cama para que possa estar confortável e ler o que ela escreveu.

Controlo a careta como reação espontânea. O discurso ficou uma porcaria. Penso em dizer assim mesmo, como muita vezes fazemos, mas também lembro o quanto isso é importante para ela e que preciso abrandar na hora de dar minha opinião.

— Hanna — minha cabeça caça por todos os eufemismos que conheço —, não tá horrível, mas também não tá bom. Você já fez melhores. — Dou de ombros, querendo passar a ideia de que aquilo não era nada demais.

— Eu sabia, tá uma porcaria, não tá?

— Não — minto, em partes. — É só que isso aqui não é você, por isso não tá bom. Põe o que você quer falar e não o que acha que os outros querem ouvir.

— É a quarta vez que reescrevo isso, talvez concorre a presidência não seja para mim — lamenta, passando as mãos pelo rosto de maneira meio áspera, posso ver de longe o quanto ela está impaciente e chateada.

— O quê? Do que você tá falando? É claro que é pra você, Hanna. Não pode desanimar por um discurso meio bosta.

Ela faz um biquinho, mas recupera ao menos uma parte do ânimo perdido.

— Você me ajuda?

— Eu posso ser sua assessora de campanha? — pergunto sorridente, mesmo já sabendo a resposta.

— É óbvio que sim. — Ela sorri, mesmo que fraco.

— Então é óbvio que sim — respondo a sua pergunta anterior, e diferente dela, minha animação é bem maior. Sorrindo largo, mexo os ombros toda pomposa em comemoração ao novo título.

Como assessora de campanha não oficial, já que serei nomeada apenas amanhã pela manhã, amasso o discurso de Hanna numa bolinha de papel e jogo no canto do quarto, obrigando-a a escrever outro.

Eu me deito ao seu lado, mas do outro lado da cama, apoiando as costas na cabeceira. Enquanto ela se mata de pensar batucando o lápis na cabeça, eu leio o primeiro capítulo de um livro que achei em sua mochila, é legal e provavelmente o pedirei emprestado depois. Hanna me entrega o papel outra vez, que leva o mesmo destino do anterior.

— Tá bem melhor, mas o início tá praticamente igual o outro.

Ela solta um grunhido de frustração e cansaço, checo as horas no meu celular quando ela volta a escrever. Seis e meia.

— Hanna, precisa ir. Tenho que fazer o jantar das Hays e você sabe que Diana precisa acreditar que não te contei nada. — digo, lamentando por ter que fazer isso agora.

Até A Meia Noite [EM PAUSA]Onde histórias criam vida. Descubra agora