até a meia-noite, Cinderela

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*Quem me segue provavelmente viu que eu apanhei desse capítulo e tive o maior trabalhão com ele, uma coisa que me ajudou muito com o bloqueio foi a música Lonely Hearts, do 5SOS. Eu praticamente ouvi ela em todo o processo criativo desse C. 21, então quem quiser entrar um pouquinho mais no espírito de AMN, fica aí a sugestão.

Não me importo com a presença dele.

Também não sinto o tempo passar.

Estou tão presa no meu próprio universo que nada no mundo real me afeta. O que é uma puta ironia considerando que queria estar em qualquer lugar menos dentro dos meus próprios pensamentos, com Alec, Diana e qualquer coisa que envolva o dia de hoje.

— Desculpa, achei que aqui estaria sozinho — murmura.

— Essa era a minha intenção. — Talvez tenha soado um pouco grosseiro, mas nenhum de nós aparenta se importar muito com isso.

Engulo em seco, não desviando nem por um segundo meus olhos do cara mascarado a minha frente, ele tem uma máscara preta, talvez seja azul-escuro, não consigo ver direito quando tudo o que temos é a luz de uma meia lua.

O silêncio segue se arrastando, perco o foco no garoto ainda parado em pé e volto a emergir no mundo paralelo dentro da minha cabeça. Com a brisa fria que bate contra meu corpo, trago para ainda mais perto do peito as pernas flexionadas rodeadas pelos meus braços, se agora, eu me visse de fora, tenho certeza que me acharia patética. Foi para isso que sai de casa hoje?

Talvez, esse seja o meu castigo. O universo jogou na minha cara um aviso para não vir quando minha madrasta me proibiu, eu insistir em ignorar o recado e tcharam!

— Posso ficar aqui?

— O quê? — Sinto a necessidade de ouvir de novo, não entendendo de primeira.

— Perguntei se posso ficar aqui.

Dou de ombros.

— Pode — murmuro no modo automático.

Sem preocupação com espaços ou limites, o garoto se senta ao meu lado, mantendo as pernas esticadas no chão e suas mãos em cima dos joelhos. Consigo quase sentir o fardo que carrega. O olhar do cara se volta diretamente para o céu, sem nenhuma estrela apenas para combinar com nosso estado de espírito, isso me permite uma análise melhor dele, mas, ainda assim, não o reconheço direito, a máscara cobre a maior parte do rosto.

Com a atenção ainda voltada a ele, vejo quando joga sua cabeça para trás, apoiando-a no parapeito, assim como suas costas, e engole seco. Provavelmente, ele sente que estou encarando, porque não demora para trazer os olhos castanhos aos meus, ainda com a cabeça apoiada no muro baixo de tijolos.

Ele se demora ali. E eu também.

O tempo congelado enfim parece voltar a correr, apesar de ser estranho, não sei, sinto como se existisse uma nova definição que valesse apenas para nós dois e para esse momento, porque posso apostar que aqui em cima os minutos se arrastam. Presa as orbes castanhas do garoto, mal consigo pensar com a intensidade que vem deles.

Minha boca se abre para falar qualquer coisa que seja, mas eu me contenho e evito de dizer baboseiras quando pressiono os lábios para formar uma linha fina.

Meu corpo inteiro esquenta enquanto sinto uma corrente elétrica passar desde os meus pés a minha cabeça. É bom. Mas a sensação é cortada por outro vento frio, tirando-nos do filtro sobrenatural que por alguns segundos foi responsável por afastar as merdas que nos permeiam.

Desviando o olhar, passo a encarar o resto do telhado a minha frente, como o piso cinza de concreto com nada além de uma minúscula casinha com porta que nos dá acesso as escadas que levam a escola e, mais para o meio, uma grade que protege fios e elementos essenciais para o funcionamento do lugar.

Até A Meia Noite [EM PAUSA]Onde histórias criam vida. Descubra agora