mãos na massa, Cinderela

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 — Estamos atrás. Estamos bem atrás. — Hanna repete enquanto alterna seu surto em andar de um lado para o outro e parar de frente a mim para mexer freneticamente os braços, enumerando diversos pontos do porquê estamos para trás.

— Foram só a entrega de uns panfletos — ouso dizer entre uma reclamação e outra.

— Só, Cassandra? Eu ainda não fiz porcaria nenhuma e Jeremy está entregando cookies de chocolate para todo mundo. Eddie distribui broches e pins para os alunos com sua cara estampada neles. E Kennan manda mensagens para cada aluno da Dashwere pedindo votos, Holly disse que era tão insuportável que bloqueou o garoto.

E foi por conta disso que Hanna fez com que saíssemos mais cedo da escola com o único intuito de comprar ingredientes para fazer bolinhos, acabamos perdendo uma tarde de aulas por conta de sua presidência.

— E o que Jude está fazendo? — pergunto, notando que ela não comentou sobre o baterista.

Encosto meu quadril na bancada da pia e cruzo os braços, vendo que Hanna parece se acalmar gradativamente com exercícios de respiração.

— Não sei, é esse o meu medo.

— Ele tá preparando algo grande.

— É. E preciso de algo para superar isso.

— Sua ideia dos cupcakes está ótima, Han.

— Mas não é o suficiente — a garota lamenta, deixando os braços pesarem ao lado do corpo, levando a um dos poucos momentos em que ela perde a sua postura impecável.

— Pode aderir isso a, sei lá, uma causa.

— Talvez — diz, cabisbaixa.

— Enquanto pensa podemos começar com os cupcakes, huh? — Tento levantar o astral, a tentativa é totalmente falha, mas ao menos começamos a fazer algo.

Dividimos em quatro porções a massa densa dos bolinhos. Duas para cada em duas remessas. Ainda estamos na primeira e já me vejo cansada.

Hanna tagarela o tempo inteiro sobre absolutamente tudo, e eu ouço atentamente e comento a cada novo assunto. A garota vai desde a vida pessoal de seus atores favoritos e músicas que descobriu a pouco tempo as novas atualizações da sua relação com Karoline (que anda bem fria) e fofocas da escola que soube através da nossa amiga ruiva, o que inclui suspeitas de Ethan e May terem reatado o namoro.

Ouvir sobre eles me faz pensar na aposta que fiz com Dominick, e lembrar disso, me faz pensar no próprio Dominick, levando minha mente a reviver as palavras maldosas dele na minha mente inúmeras vezes.

— O que foi? Por que ficou assim? — Hanna pergunta, parando de mexer na sua massa e me encarando com preocupação.

— Assim como?

— Não se faz de sonsa, eu te conheço, sei quando tem algo errado.

Sem escapatória, respiro fundo esperando absorver toda a coragem do ar para externalizar a confusão que se emaranha em mim. Assim como ela, paro de mexer nos bolinhos e levo o pulso a testa para deixar uma mecha do cabelo castanho que se desprendeu do coque atrás da orelha, evitando usar a mão por estar suja de farinha de trigo.

— Acha que sou abaixo da média?

— Como assim? — Ela franzi o cenho e me encara confusa com a pergunta repentina.

— Abaixo da média, Hanna. Se, não sei, eu não sou boa ou bonita o suficiente para alguma coisa ou, sei lá.

— Você tá se ouvindo? — pergunta, agora que compreende, está até um pouco indignada pelas minhas dúvidas.

Até A Meia Noite [EM PAUSA]Onde histórias criam vida. Descubra agora