Capítulo 1: Santa Maria do Mar

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    — Vai ficar assim a viagem inteira? Os moradores vão te achar tããão insuportável.

— Pedro, me faz um favor?

— Qualquer coisa por você, bebê. - ele não faz nem questão de tirar os olhos do celular enquanto falava comigo.

— Não fale comigo, pelas próximas 24 horas, ok? Antes que eu me arrependa de vir para cá e volte pra casa o mais rápido possível.

— Já vi que hoje não é um dos seus melhores dias.

— Não tenho um dos melhores dias há muito tempo - murmuro.

— O que você disse?

— Nada Pedro, esquece.

Babaca, ultimamente é o que ele tem sido. Um grandíssimo babaca. Já fazem duas semanas que estamos assim, nesse ‘esquenta e esfria’ constante, mas ele permanece aqui. É como se ele gostasse de me ver bravo, instável; enquanto sempre volto para seus braços. Às vezes me sinto alguém tão incapaz que mal consigo me olhar no espelho.
Já a viagem, é tão importante para a minha carreira quanto para o nosso relacionamento — ou seja lá o que isso for — só sei que vamos voltar daqui modificados, e eu espero que para melhor.

— Llegamos. - disse o motorista numa espécie de espanhol ou qualquer outra língua estranha que estivesse falando.

— Graças a dios! Não aguentava mais aquele carro e...

— Bienvenidos al hotel San Diego. ¿Vinieron hacer su reservas?

Meu espanhol não é lá grande coisa, o de Pedro é bem melhor. Então deixo as respostas em suas mãos.

— Sí, en realidad ya lo hicimos.

— Oh sí, por supuesto. ¿De quién es la reserva? 

— En mi nombre. Pedro Tofani.

— ¿Brasileños, verdad?

— Sí, sí. - Ok, eu já estava um tanto irritado de ver aquela enrolação toda. É a porra de um simples check in, não deveria demorar tanto.

— Eu também sou um brasileiro. Se soubesse de início, não teria gasto meu Espanhol - Ele da uma risada estranha, e meu dia não está bom pra esse tipo de coisa - Prazer, senhor Pedro.- Ele estava com os olhos vidrados no garoto em minha frente.
— Me chamo Paulo - Seus olhos brilharam como se tivessem dilatados- Sou o Gerente do Hotel, espero que a estádia dos senhores seja a melhor possível! Por favor me acompanhem, vou mostrar nossas instalações.
         
— Perdão, é… Paulo, certo?

— S-Sim senhor. - Agora ele se torna duro, rígido e perde completamente qualquer traço de felicidade. Não faziam nem cinco minutos que havíamos chegado e aquele cara já me deixava intrigado - Algum problema, senhor?

 — Não, não, sem problema algum.
É que estamos um tanto cansados, e queríamos descansar um pouco. A apresentação do pode ser feita outra hora? Sem querer desmerecer seu trabalho, mas é que foi uma viagem longa, então…

— Sem problemas, senhor! Vou acompanhá-los até o quarto. - Assim, ele saiu de trás do balcão, e nos guiou ao elevador principal, que graças a Deus era grande, assim pude deixar minhas malas no chão.

Nesse momento, pude reparar mais nele, que apesar de estar usando um uniforme de um azul bem peculiar, tinha muita presença. Era capaz de ser notado, com toda aquela elegância, postura, e com um perfume que, uau… que perfume!
Fico tão focado naqueles detalhes, que mal percebo o elevador se abrir.

— Chegamos!- Sua voz, estava bem entusiasmada. Ele provavelmente gostava do seu trabalho, assim como eu gostava do meu - Esse corredor vive sempre cheio. Deve ser por que tem uma linda vista da cidade. Ela é bem ampla.

— Gosto dessas vistas assim! Vou aproveitar muito ao lado do meu namorado famoso.

— Agora você decide bancar o romântico, Pedro? - Essa viagem vai ser interresante.

— Vocês namoram? Que... incrível.- Paulo, me pareceu decepcionado, mas com o que? - Bem, espero que aproveitem a estádia e novamente sejam muito bem vindos. Qualquer coisa que precisarem, será um prazer ajudá-los. Estarei sempre por aqui.

— Obrigado, Paulo!- Pedro e eu falamos em uníssono.

— Não há de que, será sempre um prazer atendê-los. - Ele se virou, entrou no elevador, e nos olhava enquanto a porta fechava.

Aquele cara, ele tem alguma coisa, ele me intriga. Tem uma persuasão que; Isso é muito estranho. Eu vou descobrir o que é  de qualquer forma.
   
— Pedro, você também achou esse cara meio estranho?

— Quem, o Paulo? Olha, você sabe que não sou a pessoa mais observadora do mundo, então pra mim, ele só é um cara, é, como posso dizer… atencioso, diferente?

— Não Pedro, vai muito além disso. Ele tem algo que não sei como explicar, como descrever.

— Você e suas paranóias. - Riu debochado, tirando as botas e suas meias suadas.
    
— Você sabe muito bem que não são paranóias, sempre insiste em falar isso pra que eu esqueça esses assuntos.

— Olha, eu não estou afim de discussão, tá legal? Eu tô cansado, suado, com fome e só quero descansar. E acho que você devia fazer o mesmo, João.

Naquele minuto, me calei. Como pode alguém que a tempos me chama de amor, me chamar pelo nome, ou sequer pelo meu apelido. Tá, você pode se dizer que isso é uma bobagem mas acho que as pessoas não deviam mudar a forma como chamam umas as outras tão rápido.
Bem que falam que não se pode ser tão sensível nos tempos de hoje; você só se fode, se fode e se fode. E o meu principal motivo de fazer essa viagem era pra que isso se resolvesse, deixasse de ser tão superficial. Que passasse a ser sublime, lindo e perfeito. Mas se nosso amor fosse algum tipo de religião, com certeza Pedro o tornaria profano, como muitas coisas que ele fez e faz.
É Jão, nesse rumo essa viagem será uma grande decepção pra você.

Elevador da luz vermelhaOnde histórias criam vida. Descubra agora