Capítulo 17: A última noite

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São Paulo, 18:30 da tarde
        
        João estava em apartamento, tomando seu banho, quando depara com a mensagem de Pedro em seu celular. Era uma mensagem de voz
        _"Olha eu estou quase pronto e- ele esbarra e alguma coisa e solta um aí caralho- bem... Eu estou quase pronto. Espero que você também esteja. Estou passando aí daqui 20 minutos. Beijos, até logo."
       Ele sorri. Já se passaram mais de um mês que eles haviam voltado de Barcelona, e tudo estava correndo bem, como planejado. Barcelona era um pensamento frequente pra ele durante seus banhos. Ele ainda sentia o calor daquele lugar correndo pelo seu corpo, as bocas, Diego, Paulo, Maria. Ele chacoalhava a cabeça pra espantar aquilo e tudo se tornava mais distante por um tempo.
         _ Ué, cadê a toalha que eu deixei aqui? - Ele olha pro suporte que tinha deixado a toalha, e olha de um lado para o outro, e vê que a toalha está no chão.
        _Mas o que? A, vicente.- Ele olha para o chão e vê a cena de Vicente, um de seus gatos enrolando na toalha, brincando com ela. Ele o pega no colo.- Gato safado. Fica sabotando meus planos é? Meu lindinho hihih. Agora, deixa eu por você no chão. Assim você vai lá com sua irmã.- Ele o observa sair do banheiro, e passar pelo quarto. E para em frente ao espelho.
        _ Bem, tenho que me arrumar agora.-Ele olha o seu telefone para conferir o horário.- Ok, está cedo ainda. Vamos lá. Essa vai ser a mais bonita das minhas despedidas.
                        °°°°°°°°°°°

          _ Oiee Pedro.- Eles se cumprimentam com um selinho.- E aí vamos pra onde?
          _ Oiee, então.... Hoje vamos pra todos os lugares, é... Jão.- ele sorri amigávelmente em resposta.
           _ Hmm gostei disso. Já coloquei o cinto, pode seguir o caminho.
       Pedro sorri timidamente, olhou para a frente e seguiu caminho passando por todos os lugares que eles amavam frequentar.
          _ Você lembra quando a gente se beijou aqui, na avenida São João?
          _ Como lembro... foi uma das noites mais Incríveis da minha vida. Foi quando demos nosso primeiro beijo, nossa primeira vez...- as mãos deles se encontram e tudo é levado para dentro da calça de João.
         _ Ok, desculpe. Era só pra... Enfim, fazer graça. Esquece, não tenha medo.
        _ Não, tá tudo bem Pedro. Relaxa.
     Eles prosseguiam caminho, sem ter muito o que falar. Eles tinham, certeza que aquela noite seria algo muito especial em todos os multiplos sentidos. Eles queria fazer tudo como se fosse a primeira vez, mas sabendo que de fato, era a última.
           _ Pra onde vamos agora?
           _ Você vai ver. Toma, coloca isso, quero que essa surpresa seja especial.- Pedro da uma venda para João, que a amarra com desconfiança, e um pouco de receio.- vai por mim, isso vai ser incrível.
       Eles chegaram no tal local secreto bem rápido. Pedro, foi guiando João, pela rua, escadas e elevadores.
           _ Tá ok. Chegamos. Agora pode tirar sua venda.
         João foi tirando aquela venda de seus olhos, com delicadeza já que queria ser surpreendido de qualquer forma possível. Quando abriu os olhos ficou chocado com a vista.
         Ele via a cidade de São Paulo de forma ampla. O vento batia seu rosto, o deixando frio, porém seu rosto não deixou de ficar corado.
        _ Aqui. É. Estamos vendo a cidade toda, do alto do fárol Santander. Acho que seria uma forma bonita de Explicar o tamanho da gente, no meio disso tudo.- Pedro dava as certas explicações pra João. Aquilo parecia ser tão natural que João não ousou em interromper.- Nosso amor é como a cidade e nós dois aqui- Ele junta sua mão com a de João- nós dois somos tão pequenos... E isso é a coisa mais linda, que possa ter acontecido.
          Eles se abraçam. O vento forte, batia no rosto de João, e em conflito com as lágrima, o vento as jogava pros lados, mas as secando de alguma forma. Eles permaneceram daquele jeito por mais alguns minutos.
         Ao se soltarem do abraço, permaneceram de mãos dadas e ficaram observando a cidade que nunca dorme, funcionando.
            _ E agora? Nós ficamos pouco mais de 3 horas na rua. Comemos, beijamos, e passamos em todos os lugares possíveis. Essa noite deve ser perfeita, linda e cordial. Eu não...- João seca suas lágrimas com a manga de seu moletom.- não quero que essa noite acabe.
          _ Ei, calma. Você sabe que ela nunca vai acabar de verdade. Ela sempre estará viva no nosso ser, na sua música, na sua letra. Então, saiba, ela nunca vai acabar.
          Eles sorriem, e isso é lindo.
         _ Agora, eu quero beber, ficar doidão e invadir algum lugar.
         _ Que tal, hmm invadir algum parque? 
         _ O IBIRA! ele fica a uns 10, 15 minutos daqui de carro.
         _ Quem pula o muro primeiro?
         _ Você!
         _ Assim não vale, João.
         _ Vale sim. Assim quando você estiver lá dentro, você me ajuda a pular também. Agora vamos pro carro.
        Eles descem aquele prédio, com uma euforia muito genuína. Feito duas crianças jovens que queriam aproveitar de todos os prazer da vida. E sentir toda a adrenalina que era viver.
           _ É, você sabe se a essa hora, a rua vai estar vazia?
          _ Provavelmente sim. Por que?
      Ele dá aquela risadinha para Pedro, aperta bem seu cinto de segurança, e solta:
          _ Eu quero que você corra muito. Quero sentir a adrenalina correndo em mim.
         Pedro sorri, entendendo os comandos e assim eles concluí:
           _ Pode deixar comigo. Se segura.
      E Pedro pisou sem dó alguma no acelerador de seu carro. O vento entrava pela janela, feito um tornado em grande escala. O grito deles era abafado pelo som do pneu no asfalto, e pelas buzinas paralelas, que estava bem diversos lugares longe deles.
             _ Eu nunca me senti TÃO BEM!!!
Correr é demais.
            _ É, eu tenho que concordar.
       Eles estacionam o carro, e vão em direção as grades que protegiam o parque. Como combinado, Pedro pulou primeiro, e João veio logo em seguida. Eles desabam na grama do chão.
            _ Ufa. Conseguimos. E agora João- Pedro ofegava, devido todo um esforço.- o que você quer fazer?
         _ Eu quero, nunca mais parar! VEM vamos apostar corrida.- Ele levanta Pedro o puxando pelos braços.- Quem chegar por último, É A MULHER DO PADRE.- João gritava já correndo na frente pra não perder vantagem.
        _ EEEI! Assim não vale!- Pedro ia atrás dele, correndo feito um maratonista olímpico, prestes a ganhar sua primeira medalha.
          Os dois corriam livres. Era como se eles fossem duas crianças. Nada os impedia de sentir a brisa leve e poluída da cidade em seus rostos, sentir o suor escorrendo pelo corpo, e sentir que cada um, com seu amor infinito e nutrido um pelo outro, era ouro. Era puro. Era limpo. Eles sentiam que todos os beijos, segredos, abraços, noites de sexo, fossem tudo muito único, muito singelo. Era como eles mesmo separados, estivessem juntos pra sempre. Nada podiam se igualar ao que eles tinham, nada, ninguém. Eles eram um do outro, eram únicos, eram versões existentes que pertenciam somente a eles. Por que amar daquela forma, só eles podiam. Por que só eles conseguiam. E aquilo, aquela última noite, último rolê, último grande beijo, dava início a outras coisas. Dava início da possibilidade de se reconhecer e descobrir. De ser herói, de ser vilão, de ser anti herói.
      Ali, entre aqueles sorrisos, risadas altas e blusas desbotadas, se encontravam valores. Valores únicos, que sempre seriam puros. Isso era o que os, representava.
                         °°°°°°°°°°
    02 de Novembro de 2019, São Paulo
         
        _ Você vai mesmo fazer isso João? Você sabe que vai ser quase impossível evitar os gritos da galera que está ali.
         _ Renan, escuta uma coisa, o que eu mais quero é ouvir os gritos de toda a galera. E eu sei que eles vão pirar.
             _ Se é isso que deseja, tudo bem.
Vai lá meu sofredor e arrasa no palco!!
         Eu sorri de volta a Renan, e me concentrei ao entrar no palco e encarar aquele povo todo, e o teclado em minha frente. Só de pensar que aquela música não entraria no álbum, já me deixa meio doido. Respirei fundo, e fui
         _ Minhas melodias tão vazias, longe dos teus escritos, nós dois juntos sempre fomos, nossos artistas favoritos, se eu me perdi em outros lábios, foi pra ti prender me odiando, foi um grito ainda te espero pra escrever latino americano...
        Uma pausa. O grito da pláteia, e toda lágrima acumulada em meus olhos. Respirei fundo e continuei.
         _ Eu tento, mas nunca me lembro, do que eu era antes de você... E se antes de dezembro eu sabia me reconhecer? E se eu não gostar de mim? E se eu for mesmo tão pequeno? Eu não devia questionar me desculpa Pedro.
         Renan estava certo. O surto de toda a galera foi o combustível pra eu me manter ali, firme e forte, para continuar a música. Mesmo que fosse um pouco impossível, já que os gritos eram tantos eu a terminei. Sabia que em instantes, o momento, aquele momento estaria públicado em todas as redes sociais possíveis, principalmente o twitter. Eu tinha fãs loucos, e eu os amava cada um deles.
           Respirei e continuei
       _ Uma noite, no alto de um prédio, vendo a cidade por cima você diz se a gente aprende, a voar na descida, e você foi tão mais alto, e eu fiquei com o que dói em queda livre eu sou mesmo um Anti-Herói. A, hahai um anti herói, um anti- herói...
       Assim, com o peito livre de pressão e os dedos livres do teclado, eu fui aplaudido por todo aquele lindo momento que vivi e fiz acontecer. Com toda a equipe, amigos, família e fiz aquilo acontecer.
         Olhei pra trás, pra onde ficava os bastidores do meu show, e vi todos meus amigos, colegas, e família aplaudindo, e Pedro, estava lá, junto a todos , e ainda mais ele sorria e seus olhos brilhavam. E os meus também.
Mas agora era hora de continuar o show e tudo o que eu tinha a fazer era
Cantar minha dor, minha história, e minha verdade.
E de como eu fui um anti herói.
E tudo aquilo estava no começo.

  
     
              

        

         
    

      
        
         
       
      
   

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