4. L U Í S A .

8.3K 925 302
                                    

4.

Luísa.


Acordo na manhã seguinte com um sentimento de que o dia de hoje mudaria para sempre a minha vida, não sei explicar que tipo de sentimento é esse, muito menos o que ele significa, apenas sinto que algo irá acontecer. Pode ser bom ou ruim. Não sei. Mas será um dia e tanto.

Posso garantir.

Me arrumo para mais um dia na construtora e peço para que as horas passem voando. Sinto uma ansiedade sem tamanho tomar conta de mim.

Chego no trabalho faltando cinco minutos para o horário de entrada e me apresso em preparar a sala do chefe, como fiz ontem, porém hoje estou com um pao na boca e uma bandeja de agua e suco levando para sua sala. Comendo enquanto trabalho, afinal, sabe lá a que horas hoje ele irá comer e consequentemente eu também não poderei sair.

Melhor prevenir do que meu estômago roncar de novo.

Pego minha agenda e termino de dar uma última mordida, enfiando tudo dentro da boca, bem na hora em que o infeliz resolve aparecer.

— Na minha sala. – Diz, sem nem um bom-dia.

Grosso.

Entro em sua sala enquanto tento engolir o pedaço de pão.

— O que temos para hoje, senhorita Luísa? – Indaga tirando o terno, colocando-o atrás da cadeira, sentando-se elegantemente e ligando seu Macbook ao mesmo tempo.

Tento engolir o pedaço de pão, mas não vai. Estou entalada.

Deus, por que essas coisas só acontecem comigo.

— Não está me ouvindo senhorita? — Está tudo bem? Você está vermelha. O que... droga! Vou ligar para a ambulância...

Água... – Minha voz sai arrastada em um breve sussurro que não garante ele ter escutado.

— Água? Okay. Vou pegar um pouco de agua para você, sente-se aí. – Ele se apressa em buscar a água sobre a mesa de centro em frente ao seu sofá de reuniões e traz um copo cheio.

Tomo a água em pequenos goles, molhando o pão entalado para facilitar sua decida e evito olhar para o meu chefe.

— Está melhor? – Assinto. — Pode me explicar o que houve com você? O porquê de quase ter morrido?

Sinto minhas bochechas arderem.

É vergonha, né minha filha?

— Eu estava engolindo meu pedaço de pão quando o senhor pediu para que eu entrasse. Me desculpe. – Abaixo a cabeça e evito manter contato com seus olhos absurdamente verdes e penetrantes.

Quando ele não diz nada, resolvo erguer meu olhar para ele novamente.

Fernando tem um pequeno sorriso nos lábios e um olhar de descrença lançado sobre mim.

— Senhorita Luísa...

— Bom, já que você vai me demitir pode me chamar de Luísa, não gosto muito dessa frescura de senhor, senhora e senhorita. Pode ficar a vontade para falar: Rua, Luísa! Fica mais fácil assim. – Digo, desanimada.

Bem que minha mãe dizia que alegria de pobre dura pouco.

Olha só a minha, não durou nem dois dias.

É uma droga mesmo...

— Luísa. – Ele diz, parecendo estar segurando o riso diante da minha breve constatação. — Eu sei que você está se esforçando, veio quando te mandei, mas se bem me lembro, ontem pedi para que você se alimentasse, não é mesmo? – Assinto. — Você só estava fazendo o que lhe mandei. A sala está arrumada, organizada, você chegou antes da hora, entendo que não teve tempo de comer. A partir de hoje, vou dar a você quinze minutos de café da manhã assim que eu chegar, assim você poderá ir até a lanchonete da construtora, tomar um café e assim podemos começar a trabalhar. Tudo bem para você? – Arregalo os olhos balançando a cabeça, devo estar parecendo aqueles bonecos de carro que só mexem a cabeça. Com toda certeza, mas não estou nem aí, meu foco é nesse Fernando menos sério e mais ser humano.

O Recomeço [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora