2. L U Í S A

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2.

Luísa.

Acordo na manhã seguinte ao som do meu despertador irritante.

- Cala a boca! - reclamo arrantando-me da minha cama quentinha e muito convidativa.

Preciso de muita força de vontade para ir até o banheiro. Os pés descalços por que não sou roca e não tenho pantufa acolchoada. Viu? Até o nome sai bonito.

Faço minha higiene matinal, e volto para o quarto a procura da minha roupa para a entrevista de hoje.

O delicado vestido nude é cinco dedos acima do joelho, com algnude ins detalhes na cintura, marcando-a. Os sapatos vermelhos envernizados são o charme da composição. Posso não ter um centavo no bolso. Mas gosto de assistir os canais de moda. Home & Health nas quintas da beleza são de grande ajuda, assim como Mude o meu Look. Tenho bom senso e bom gosto quando se trata de roupa. Uma pena eu não ter tido condições suficientes para poder melhorar o meu guarda-roupa ao longo dos anos.

Mas foi por uma boa causa.

Ela valeu todo o meu sacrifício.

Deixo os meus cabelos loiros pouco acima da cintura solto e com leves ondas. Eu preciso estar apresentável. Esse foi o primeiro e único lugar que me ligou nesse ultimo mês desempregada.

Pego minha bolsa e caminho para o apartapartamto ao lado.

Marcelo e Raquel estão de saída.

Ótimo.

Carona garantida.

Meus amigos me elogiam e eu agradeço por estar realmente bonita para hoje.

As nove e quarenta e cinco Marcelo estaciona em frente à construtora. Me deseja boa sorte e segue para o prédio ao lado onde ele e Raquel trabalham como advogados. Era para eu estar lá com eles. Uma nostalgia dos tempos de faculdade me veem a mente e eu ignoro qualquer resquício de chances que me façam chorar e borrar essa maquiagem que eu levei um século para fazer. Já passou.

Quem sabe conseguindo o emprego eu não possa tentar o meu exame para OAB esse ano?

Vai que o cara lá de cima resolva me dar uma mãozinha dessa vez?

Adentro o suntuoso salão que já está cheio de pessoas bem vestidas, porém nada de terno e gravata, apenas jeans e blusas sociais, além dos capacetes embaixo dos braços. Acredito que sejam os engenheiros, arquitetos ou qualquer coisa parecida.

Confiante caminho até a loira siliconada que me atendeu a última vez que estive aqui. Ela me olha de cima a baixo e parece não creditar que o projeto de favelada agora está devidamente arrumada.

Porém o seu sorriso de desdém disfarça a sua surpresa.

- Acho que dessa vez não veio me pedir dinheiro. - debocha.

Cara, sério que ela quer começar uma briga logo cedo?

Aperto a alça da minha bolsa, respiro fundo pedindo força interior para não acerta-la na cara desse projeto de Barbie mal feito, abro um sorriso genuíno e volto a respondê-la.

- Vim para uma entrevista, fofa. - rebato cinete de que mulher nenhuma gosta de ser chamada de fofa, principalmente por outra mulher.

- Vigésimo andar. - responde entre dentes.

- Obrigada. - cantarola para ela.

Que culpa eu tenho se ela acordou de mal humor hoje?

Nenhuma.

O Recomeço [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora