11. LU Í S A.

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11.

Luísa.


— Eu já suspeitava. Agora me conte o real motivo para querer se demitir.

— Obrigada por tudo e... espera, o que você disse? – O encaro com os olhos tão arregalados que devo estar parecendo aqueles bonecos assassinos.

Fernando dá um sorrisinho bobo e apoia as mãos fortes e quentes sobre os meus ombros. Sinto meu corpo reagir de uma forma diferente mediante ao seu toque inesperado e tento recuar. Porém ele é mais rápido e segura um pouco mais firme, o suficiente para não me deixar fugir de seus olhos compenetrados e que parecem querer ler a minha alma, tamanha a intensidade em que ele me encara.

— Quero saber o real motivo para que você queira me deixar, deixar a construtora. Gravidez não é doença, Luíza. E eu já vi você trabalhando, antes que me contasse sobre. Foi o Caio? Ele te falou algo? Te fez algo? Pode processá-lo por assédio sexual, testemunharei a seu favor... – Alargo o sorriso e mal percebo o tamanho da loucura que faço somente quando a faço, pulo em seus braços e encosto meu rosto em seu peito.

Meu coração idiota batendo acelerado, com um sentimento de gratidão gigantesco gritando aqui dentro, para que fosse proferido em palavras, para que o homem ao qual eu me agarro como se fosse meu bote salva-vidas entenda o tamanho do seu gesto e o grande favor está me fazendo.

Hoje percebo que Fernando tem um coração e que eu me precipitei em julgá-lo. Muito, eu sei. Mas serei eternamente grata a chance que ele está me dando.

— Eu só quero poder continuar fazendo o meu trabalho. Já que você diz que não se importa com a minha gravidez, poderoso chefinho. – Respondo, ainda abraçada a ele.

Assim que ouço ele forçar uma breve tosse percebo minha burrice e me afasto, apoiando as maos sobre meu ventre, em um ato involuntário, o que faz Fernando descer o olhar diretamente para onde minhas mãos estão.

Ele abre um largo sorriso e coloca a mão em meu ventre, me surpreendendo mais uma vez.

— Se eu bem me lembro, um certo alguém, chamada Luíza, me falou que pode sim existir uma amizade entre patrão e secretária. E eu estou apostando nessa amizade. Ao contrário das outras que se jogavam em cima de mim antes mesmo do inicio do primeiro dia de trabalho, eu pude ver quão esforçada, honesta e despretensiosa você é. Não tenho motivos algum para demiti-la, e ser mãe, gerar uma vida, não é motivo de vergonha, seja qual tenha sido o método, o seu namorado deve estar orgulhoso de ser pai.

Engulo seco e me encolho um pouco, diante do olhar atento do meu bom e observador chefe.

— Meu bebê não terá pai. Serei mãe independente. Apenas eu e ele ou ela. – Respondo de forma determinada, passando gentilmente a mão por toda extensão do meu ventre.

— Bom, sei que pode parecer uma grande loucura. Mas me permita ajuda-la.

Olho desconfiada para ele que sorri ainda mais.

Na verdade, ele sorri até demais.

— Me deixe ser seu amigo, me deixe ajuda-la com o bebê. Ao contrário do cretino que te abandonou nessas condições, eu daria tudo para ter um filho. Mas as circunstancias não me permitiram, e como você disse que podemos ser amigos, acredito que ser um tio e amigo presente fará a diferença não só na sua vida como na dessa criança. – Assim que Fernando conclui sua fala, sinto as lagrimas rolarem quentes e grossas por meu rosto.

Sendo pega de surpresa e completamente desprevenida, consigo entender que poderei permanecer no trabalho, ganhei um amigo e um novo tio para o meu ursinho. Mais uma ajuda, mais alguém com quem contar para cuidar do meu bebê. Para amá-lo.

O Recomeço [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora