CAPÍTULO I

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DIA 1

Abri os olhos e diante de mim estava apenas o rústico teto de madeira. Era simples e escuro, bem como todo o aposento. Apesar disso, era confortável. Havia um móvel de cabeceira com uma moringa de água. Do outro lado do quarto, um lavabo simples de louça e, na porta anexa, um banheiro com um espelho e um box de vidro. Tudo minimalista e útil. As cores também combinavam com esse aspecto humilde. Mas humilde também não era a palavra, já que tudo parecia de excelente qualidade. Eu tinha de tudo ali, todo o necessário, pelo menos.

Era meu primeiro dia e não queria chegar atrasado já no café da manhã. A luz começava a entrar no quarto, indicando que ainda era bem cedo. Levantei meu corpo cansado e me dirigi ao banheiro com meu costumeiro ritmo lento. De uns tempos para cá, até mesmo andar se provava uma grande dificuldade, mas eu tinha certeza de que aquele lugar me ajudaria. Despi minhas roupas, as deixando nos ganchos estrategicamente presos nas paredes do banheiro e evitei olhar-me no espelho, sabia que não gostaria de qualquer coisa que visse.

A água estava morna, um grande alívio para os doloridos músculos que rangiam felizes pelo abraço terno daquele banho. Queria ficar mais tempo, mas então eu poderia me atrasar... "não, não quero nem pensar nisso!" Desliguei rapidamente o chuveiro, sentindo meu coração subitamente aos pulos. Corri para fora do banheiro, já percebendo meus pés menos pesados, será que só a água dali já fazia tanta diferença?

Encontrei roupas limpas em um pequeno armário, que não lembrava de ter visto na noite anterior, provavelmente pelo cansaço extremo que me tomava. De fato, tinha dormido tão bem esta noite, como há anos não conseguia. As roupas eram exatamente do meu tamanho e levei um pouco de tempo para vesti-las, pois não eram só as pernas que doíam, mas também os braços, mas também a cabeça. Só desejava que aquelas dores fossem embora, do mesmo modo que apareceram, do nada. As roupas eram de algodão cru, num tom de bege muito claro. Tudo era minuciosamente arrumado. Como não queria me olhar no espelho, julguei que estivesse apresentável após calçar as sandálias de couro que também se encontravam no armário.

Virei a maçaneta da porta, escutando um breve rangido. Estava nervoso com o que poderia acontecer a seguir. Encontrar outras pessoas que estavam ali pelo mesmo motivo que eu. Provavelmente elas gostariam de conversar sobre o meu problema e contar os delas também. Limpei o suor das minhas mãos nas calças, sentindo todas as roupas apertadas no meu corpo de repente. Respirei profundamente antes de abrir a porta do quarto. Uma, duas. Na quinta vez, julguei que já estava na hora e, num pulo, saí do quarto. O corredor era bem iluminado naturalmente, uma grande janela na parte oposta era estratégica para a entrada do sol da manhã, que já começava a ficar firme no céu de primavera. Inspirei, sentindo o calor nas minhas faces, como um doce convite a continuar na minha empreitada.

Rumei pelo único caminho que poderia, atravessando aquele extenso corredor. Havia muitas portas, das quais algumas, vez ou outra, saíam algumas pessoas. Homens ou mulheres. Notei que, de nenhuma das portas saiu um casal, pelo menos não das que eu consegui observar. Todos foram muito calorosos, sorrindo para mim de maneira respeitosa, não me fazendo perguntas, mas desejando boas vindas. Tentei ser o mais simpático possível, mas não me imaginava fazendo amizade com aquelas pessoas.

Finalmente, avistei um grande pátio em que era servida a refeição. Eram grandes mesas de madeira distribuídas ao longo do grande jardim. De todos os lados, éramos cercados de natureza e canto de pássaros. Fiquei boquiaberto com a beleza natural dos campos, que se estendiam até onde eu conseguia observar. No centro, era possível ver, mesmo de longe, uma mesa comprida, repleta de frutas e pães. Ao chegar perto, notei que haviam muitas comidas que eu nem conhecia. Uma jovem moça se aproximou de mim. Ela tinha cabelos escuros presos em uma trança curta e olhos amendoados.

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