CAPÍTULO X

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DIA 28

Insônia. Praticamente não preguei os olhos noite passada. Os acontecimentos rodavam na minha mente como feixes de imagens e sons. Nada se conectava. Eu bem que tentei alinhar as minhas últimas impressões, mas não consegui encontrar o ponto. Aquele ponto, que deveria fazer com que tudo fizesse sentido.  

Ansiedade. Revirava meu estômago e apertava meu peito. A sensação de que tudo estava muito próximo de desmoronar era grande. Mesmo eu não fazendo ideia de onde e nem quando, muitos menos o porquê. Estava resolvido ou não? Nunca vi Amaro tão desestabilizado e não fazia ideia do que esperar dessa situação. Cresci sem pai, assim como muitos outros brasileiros iguais a mim, portanto, o que se fazia quando alguém mais velho, mais sábio, também não tinha pistas de como agir? As perguntas sem respostas eram ainda piores.

Incerteza. Era o único sentimento em que poderia me agarrar naquele momento. E assim o fiz. Apostei na novidade. Tinha algo acontecendo, algo que eu não compreendia. E isso poderia ser muito bom. Os flashes que pairavam sobre mim agora, era os que Laura contava a história da tal pessoa cozinheira que foi afastada de suas atividades como punição. Amaro bem que poderia ter nos sentenciado ali mesmo, mas não. Gostaria de acreditar que havia, portanto, uma mudança considerável em seu comportamento.

Fiquei uns bons minutos sentado na beirada da cama, deixando que meus pensamentos fossem para a direção que quisessem. Quando a dor de cabeça começou a incomodar ainda mais, foi o momento em que deti meu fluxo. Não poderia, mesmo, deixar que isso me abalasse. Ainda havia o meu grande objetivo. A única coisa que eu ainda tinha. Senti uma pontada na boca do estômago. Única coisa? Como diria Laura, acho que nem eu acreditava nisso de verdade. A minha esperança era o meu guia, sem dúvidas, mas tinha conquistado muito. Queria poder reprogramar a minha cabeça, igual faria com um computador velho que comete o mesmo erro repetidas vezes.

Tomei uma decisão antes de encontrar meus amigos naquele dia, iria ser mais grato, mais presente. Iria aproveitar ter cada um deles ali comigo. Não queria mais ter pena de mim mesmo. Eu estava passando por muitos momentos importantes, de amadurecimento, e confiaria nas minhas capacidades. Foi tão recompensador o dia da chuva de meteoros… queria me sentir merecedor, uma vez mais, daquelas sensações.

Botei meu melhor sorriso e saí do quarto em direção ao pátio principal. Queria voltar a pintar mais os murais. Entretanto, quando cheguei lá, não havia quase ninguém. Toda a movimentação dos dias anteriores era inexistente. Olhei ao redor procurando por um rosto conhecido, mas não encontrei uma viva alma que pudesse me esclarecer aquele mistério. Resignado, decidi ir até a sala de administração. Certamente, o Time dos Sonhos estaria lá. Foi quando senti um leve puxão na barra da minha camiseta.

— Pelo jeito ninguém te avisou, né? - Yoko tinha a voz baixa e, como de praxe, se movimentava de maneira silenciosa.

— O que aconteceu? - senti um nervosismo vindo dela, o que não era comum.

Ela torcia avidamente um pedaço de tecido entre os dedos delicados. Os olhos amendoados pareciam perdidos e seu tom, igualmente distante.

— Amaro deu um dia de descanso para todos, por isso está tão vazio - ela mostrou o entorno, e algo no seu jeito foi mais “Yoko” naquele momento.

— Você não me parece contente com isso… - balancei a cabeça, fechando os olhos com força, isso era óbvio - desculpe, é claro que não… mas não se preocupe, vai dar tempo de terminar tudo, tenho certeza!

— Obrigada, Davi, - ela deu um sorriso mínimo - mas não é por isso que estou preocupada… soube o que aconteceu ontem.

— Ah! - troquei o peso das pernas - Não falamos nada sobre você, então pode ficar tranquila…

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