CAPÍTULO VIII

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DIA 23

O travesseiro estava ensopado. Meu peito subia e descia com dificuldade. O pouco ar que entrava parecia queimar meus pulmões. Queria gritar, correr, sair dali. Mas não conseguia. Completamente paralisado na cama, tentei reordenar, primeiramente, minha respiração. 

Aos poucos, meus dedos se mexiam. As mãos, os pés. Ainda não conseguia me mover por inteiro. Uma dor lancinante atravessava cada músculo do meu corpo. Sabia que chorava, bem como sabia que as lágrimas não eram apenas por causa do meu suplício silencioso. Tivera outro sonho. E ele não deixava meus pensamentos nem por um segundo sequer.

Nele, estava de volta à Cabana, como naquele dia, em que acordei num quarto, sozinho, depois de desmaiar. No entanto, tudo estava escuro e não conseguia enxergar uma mísera luz, não importasse para que direção olhasse. De repente, surgia uma sombra vermelha e eu parecia ficar hipnotizado por ela. A segui e consegui abrir a porta do aposento. O corredor se apresentava nas mesmas condições. O suor escorria pelo meu rosto e eu sentia como se estivesse sendo observado. Virava o olhar para todos os cantos em que, eu achava, ver alguma coisa. Meu coração doía, batendo insistente no meu peito. Novamente, a sombra vermelha aparecia, mas, dessa vez, ela brilhou forte naquela porta misteriosa, que tinha a indicação de uma fonte. Estiquei meu braço e, agora, conseguia vê-lo. Estava sangrando. Entrei em desespero. Tentei pedir ajuda, mas voz alguma saiu da minha garganta. Quando olhei novamente para frente, a porta estava aberta, mas nada podia enxergar. A escuridão parecia me engolir. Ela me perseguia e me sufocava. Até que tudo acabou. Acordei.

Eu só queria não ter que lidar com isso. Só de imaginar ter que contar tudo para Saulo ou Amaro me fazia tremer e meu corpo se colava mais ainda a cama. Não fazia ideia de que horas eram. Com certeza tinha dormido muito mais do que deveria. Tentei mentalizar a chuva de meteoros, em que como me senti bem naquele momento. Aquele sentimento de acolhimento parecia tão distante, como se eu nunca mais pudesse alcançá-lo.

— Davi! - as batidas fortes me assustaram.

— Sa... Saulo... - minha voz saiu tão baixa que nem mesmo eu consegui ouvir direito.

— DAVI! - ele chamou uma vez mais e eu me senti inútil por não conseguir responder.

A porta se abriu. Vi a figura dele se aproximando da minha cama. Os olhos verdes estavam nublados e as sobrancelhas arqueadas. Ele levantou minha cabeça devagar, senti um arrepio quando os dedos gelados dele tocaram minha testa molhada de suor.

— Céus, você está ardendo em febre! - a voz dele tinha uma preocupação tão genuína que eu recomecei a chorar - Ei, shiu... está tudo certo, pode sossegar... - a expressão dele se suavizou, juntamente com o seu tom, e ele secou uma lágrima com os nós dos dedos - Escute, vou chamar a Elis, ela é médica, ok? Vai te ajudar melhor do que eu, já volto.

Consegui segurar a barra da sua camiseta. Não queria que ele fosse, mesmo sabendo que seria o mais sensato. Ele pegou minha mão entre as suas e sorriu para mim, me garantindo que logo estaria de volta. Assim que ele saiu, a primeira informação que eu consegui processar é que eu não fazia ideia de que Elis era médica. A segunda, é que pela cara dele, eu deveria estar mesmo péssimo.

Não sei precisar quanto tempo passou, mas logo a mulher estava entrando no quarto, com os cabelos presos num coque baixo e uma expressão muito séria. Ela tinha uma maleta consigo e me fez várias perguntas. Respondi o melhor que pude e antes que eu pudesse assimilar qualquer coisa, havia um pano úmido no meu rosto.

— Davi, meu querido, acredito que fomos um pouco precoces em te deixar ficar exposto ao tempo frio durante tanto tempo, - ela falava com a habitual calma, mas havia um tom diferente ali, como se a profissional tivesse tomado conta dela - seu corpo ainda está um pouco frágil - ela escolhia as palavras com cuidado, para não me machucar e não me desanimar, mas eu já tinha passado por tanta coisa que não  seria algo assim que iria me desmotivar.

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