CAPÍTULO XVII

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DIA 45

Mal consegui dormir. Minha mente idealizava um milhão de cenários. De todos os tipos. Não sabia como contar. Não sabia qual seria a reação... dele. Isso era a única coisa que se mantinha. O calor forte nas minhas bochechas ao imaginar a expressão que Saulo faria quando soubesse.

Eu nem tinha certeza sobre o que, de fato, ele sentia por mim. Tudo era apenas uma grande conjectura. Rezei muito para que não estivesse enganado. Meu coração palpitava enquanto observava o teto aos poucos clareando. Mordi o lábio, levando as mãos ao rosto. Eu deveria ter tentado com mais afinco dormir. Minha cara estaria péssima agora!

Com muito esforço, sentindo meus músculos rangerem pelo cansaço da noite, me levantei. Bom, pelo menos as dores não me faziam esquecer que estava vivo. Olhei para a mesinha de cabeceira, constatando que não havia bebido minha dose noturna da água da Fonte. Hesitei um pouco para tomar, não sabendo ao certo o porquê. Mas acabei ingerindo o líquido fresco.

Me aprontei rapidamente e segui em direção ao pátio principal. Como estava bem cedo, não havia muitas pessoas. Tudo continuava da mesma maneira e eu nem procurei pela mesa do monte. Peguei rapidamente qualquer coisa para comer e praticamente engoli tudo enquanto seguia até a sala de administração. Não fiquei surpreso em não encontrar ninguém ali, mas não consegui evitar uma leve frustração.

Andei de um lado para outro no pequeno cômodo, torcendo as mãos, olhando repetidas vezes a porta. Quando, enfim, ela começou a se abrir, torci para que isso não acontecesse. Travei. Saulo pareceu surgir em câmera lenta. Minha boca secou. Ele era lindo, exatamente como eu tinha visto no primeiro dia.

— Davi? Tudo bem aí? - vi as sobrancelhas cerradas e tentei recuperar o ar.

— Tu… tudo! - achei que fosse engasgar - E… eu só… preciso falar com você! - sentia minhas unhas apertando a palma das minhas mãos fechadas.

— Ah, sim… - ele deslizou os dedos pelos cabelos - desculpe pela minha postura de ontem, eu fiquei um pouco com… - desviou os olhos, mas respirou fundo - fiquei com ciúmes é isso! O que é uma bobeira, né? Afinal, era uma carta da sua esposa! - riu sem humor, balançando os braços meio sem graça.

— Ela… não é mais minha esposa... - murmurei, o coração saindo pela boca.

Antes que eu perdesse a coragem, falei de pronto. Não poderia perder a oportunidade que ele tinha me dado. Vi os olhos muito verdes se arregalarem na minha direção. Os meus próprios arderam. O ar que conseguia entrar nos meus pulmões não davam conta do fôlego.

— Como assim? - ele ainda arriscou, se certificando antes de tomar alguma atitude.

— Na carta de ontem, ela… acabou tudo - expliquei, sentindo a presença dele mais perto, minhas mãos suavam - Eu meio que imaginava que isso iria acontecer, mas agora eu tenho certeza que estou… solteiro - não pude evitar que um sorriso surgisse, vendo a expressão aliviada, mesmo que contida, tomando conta do rosto de Saulo.

— Davi, - a voz dele dizendo meu nome me fazia arrepiar - tudo tem estado muito confuso e minha cabeça está cheia de problemas, não vou negar… - ele balançou os cabelos - mas uma coisa tem se tornado cada vez mais clara, e acho que você entende o que eu quero dizer, ainda mais depois dessa sua revelação.

Ele ia se aproximando perigosamente de mim. Meu coração batia em todas as partes do meu corpo. Eu estava prestes a ser atropelado pelo maior caminhão de emoções do mundo. Contudo, permaneci parado. Esperando. E não tardou a acontecer. Senti a respiração quente dele na minha pele. Estava hipnotizado pelos olhos verdes profundos, que carregavam um brilho gentil e decidido. Quando o toque em meus lábios chegou, respirei pesado, fechando os olhos, sentindo o contato se aprofundando. Uma mão tocou minha cintura, puxando para mais perto. O corpo masculino me causou ínfimo estranhamento, mas que desapareceu conforme ia ficando mais e mais entregue ao momento. O ar faltou.

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