CAPÍTULO XVI

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— É por isso que relacionamentos são proibidos aqui, não dá certo.

Engoli em seco. Aquela informação foi como um soco bem dado. Tudo girava na minha cabeça. E eu tinha medo de deixar escapar quaisquer pensamentos, pois tudo parecia me comprometer de alguma forma. Não encarei Edite pelo o que pareceram longos minutos.

— Mas vocês se conheceram aqui, então? - minha voz saiu baixa, mas mais firme do que eu esperava.

— Isso mesmo, - ela suspirou, andando até o meu lado, se apoiando na parede - Saulo era com o um padrinho do nosso relacionamento... foi tudo muito rápido e intenso... não eu sei nem explicar direito... - havia um carinho genuíno nas suas palavras, o que me deixou sem graça pela postura quase agressiva de antes.

— Sinto muito.

— Obrigada, - ela me deu um breve sorriso - mas eu acertei, né? Vocês estão se 'engraçando'...

— A... Acho que sim...

— Você acha?

— Eu não sou gay... - as palavras apenas saltaram da minha boca, relevando um dos muitos pensamentos que eu estava com dificuldade para entender e expressar.

— Isso não quer dizer nada, você pode ser bissexual - Edite deu de ombros, ainda me fitando com aqueles olhos grandes.

A expressão suavizada a deixava mais bonita, e com a proximidade, vi que ela tinha um piercing na orelha esquerda. Seu jeito era seco, bem diferente da provocação melodiosa de Regina, mas que, da mesma forma, não era exatamente uma grosseria.

— Comecei a pensar nisso depois de Saulo... - admiti, ainda balbuciando minhas falas desajeitadas.

— Então você gosta dele - ela sentenciou, levantando as sobrancelhas.

— E o que eu faço? - dessa vez, o nó na minha garganta saiu em um soluço abafado.

— Como eu disse, Saulo foi egoísta no passado, é algo que eu não consigo perdoar - ela fechou novamente o cenho.

— Isso não é... egoísmo da sua parte? Saulo mudou, ele sofre muito com tudo isso.

— Eu nunca deixaria ninguém sair daqui dessa forma! - ela se exasperou - Vicente foi embora sem me contar nada! Porque ele sabia que eu não iria permitir! - ela andava de um lado para outro, balançando os braços - Mas Saulo não é assim, ele sempre foi muito condescendente!

— Se 'condescendente' fosse um número, eu tinha que jogar no bicho! - levantei meu olhar para encarar a voz que se aproximava.. Era Saulo.

O tom tinha sido jocoso, mas havia uma tristeza marcada e clara. Ele e Edite se encararam. Fiquei com medo dele achar que eu estava do lado dela, então peguei ar para começar a falar, mas ele levantou uma mão, pedindo silêncio. Seus lábios desenharam um "tudo bem".

— Se quiser continuar nossa conversa, Davi, estou a disposição. - ela me deu uma última olhada, antes de sair - Trabalho na gerência da ala de jardinagem - e se afastou.

— A simpatia em pessoa, né? - Saulo se escorou ao meu lado.

— Acho que ela só está magoada.

Não queria encará-lo. Estava envergonhado por ter saído correndo daquela forma, e não queria que ele pensasse que aquilo era um complô.

— Desculpe pelo meu comportamento na Cabana, - ele fitava as árvores que se remexiam, incomodadas pelo vento a nossa frente - acho que essa história deixa todos magoados.

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