CAPÍTULO II

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DIA 3

Pelo que me contaram fiquei dois dias apagado. Não lembrava ao certo como tinha caído daquele morro, mas agora me encontrava com uma perna enfaixada. A enfermeira disse que eu havia apenas torcido o tornozelo, mas devido a minha condição física, a dor foi tanta que eu desmaiei e fiquei inconsciente durante todo esse tempo.

Não preciso nem dizer o quanto me sentia péssimo com aquela situação. Não prestava nem para descer uma mísera inclinação! Lembrei da expressão forte de Saulo ao me falar para não duvidar de mim mesmo, mesmo que não tenha utilizado essas palavras, acabei interpretando desta forma. Mas diante do que acontecera, ficava ainda mais difícil.

Novamente os raios de sol me acordaram e eu sentia uma necessidade enorme de, enfim, sair daquela cama. Respirei fundo e me imaginei fazendo o percurso até o banheiro, minha esposa tinha lido em algum site que isso poderia te ajudar a realizar algo complicado. Inclinei o corpo para frente com toda força que tinha, logo que julguei estar com o meu destino bem traçado. Na minha mente, apenas se repetia o desejo de ser suficiente, de me superar, afinal, não tinha me arriscado tanto para desistir na primeira dificuldade. Escorreguei e caí de joelhos no chão duro de madeira. A dor subiu pelos meus ossos e em pouco tempo todo o meu corpo gritava em agonia. Nesses momentos o médico recomendava exercícios de respiração para manter o controle, mas não consegui ser bem sucedido. Lágrimas já rolavam livremente pelo meu rosto e eu desabei ali.

Não sei precisar quanto tempo se passou até que eu escutasse as batidas na porta. Tentei falar algo, mas o que saiu foi apenas um grunhido que me fez encolher mais ainda. A porta se abriu e por ela passaram dois homens. O primeiro eu conhecia bem, era Saulo. Ele parecia irradiar luz própria enquanto caminhava preocupado na minha direção. O outro era a pessoa que eu vi conversando com ele antes de rolar morro abaixo. O senhor sorriu para mim de maneira acolhedora, bem como todos ali. Aquilo já estava me deixando incomodado.

- Davi, sinto muito pelo o que houve! - o homem de cabelos grisalhos se aproximou e eu deixei Saulo me erguer do chão com uma careta de dor. - Eu sou Amaro, como você está se sentindo?

Então aquele era o famoso Amaro. Ele tinha uma presença comum, não emanava nada de especial dele, mas talvez fosse exatamente por isso que ele tinha chegado até ali. Era uma pessoa normal, como qualquer outra, mas que teve a sorte de ser agraciado pela vida, ou pelo destino.

- Não é preciso me pedir desculpas, imagine! - falei com dificuldade, notando que minha garganta estava terrivelmente seca. Saulo também percebeu, ao que logo me ofereceu um copo de água. Aceitei de pronto, sorvendo o líquido de maneira afobada, sentindo alguns pingos escorrerem pelo meu queixo.

- Você vem até mim em busca de ajuda e se machuca, isso não pode ser aceitável, meu jovem! - era quase uma bronca, mas saiu de uma maneira paternal, com uma evidente preocupação que, pessoalmente, nunca tinha recebido antes.

- E me desculpe pelo o que disse naquele dia, não era minha intenção te deixar ansioso. - Saulo disse ao meu lado. Ele fitava para minha perna com um certo receio em seu olhar.

- Não posso te culpar por isso. - balancei a cabeça, notando que não sentia vontade de desculpá-lo, embora soubesse que fosse o correto a se fazer já que, obviamente, eu mal o conhecia e não podia saber com certeza a sua intenção. Talvez ele quisesse mesmo ajudar, mesmo que o tiro tenha saído completamente pela culatra.

- Bom, de todo modo, tínhamos mesmo que conversar - Amaro tomou a frente, se sentando do meu lado na cama. - Diga-me, por que veio até a Satélites de Luz?

DIA 7

Assim que minha perna melhorou, passei a frequentar a biblioteca da Chácara na companhia de Saulo, que ainda se mantinha visivelmente culpado pela minha queda, mesmo que eu já tivesse lhe dito que estava tudo bem. E estava mesmo. A presença de Amaro em meu quarto naquele dia tinha me lembrado o porquê de estar ali. Ainda tinha muitos medos e muitas reservas relacionadas àquelas pessoas, mas não podia parar agora.

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