Domingo
Abro a porta da cafeteria lentamente. Observo o estabelecimento vazio e confirmo mais uma vez minha insanidade de ter acordado às 7 horas da manhã em pleno domingo. Recebo um "bom dia" preguiçoso da garçonete e retribuo o cumprimento. Sento em uma mesa próxima a janela e observo a neve cair sobre os carros rente a calçada. Deixo meus pensamentos vagarem para a mensagem da minha mãe. Saber que sua preocupação comigo era real me balançou mais do que eu gostaria. Dentro da minha cabeça não fazia sentido, depois de todo o julgamento vindo dela, minha mãe se preocupar com a minha segurança.
Após pedir um café preto, decido trabalhar no projeto da Sra. Russel. Pego o caderno na minha bolsa e o coloco sobre a mesa. Anoto algumas palavras aleatórias na esperança de surgir a pessoa perfeita em minha mente. Beberico o café apreciando o amargo deixado em minha boca. Lembro de todas as visitas à Starbucks em Nova York com minha tia Laura. Pedíamos sempre as novidades do cardápio, ansiando em experimentar o café em suas diferentes versões. Sorrio com a lembrança e sinto um aperto no peito causado pela saudade.
Volto a me concentrar na tarefa. Penso em Christian e no quanto seria divertido entrevista-lo. Ele era uma pessoa interessante, complexa e bem popular. Sorrio ao lembrar da maneira estranhamente aleatória que nos conhecemos. Envio para ele uma rápida mensagem, mas por ser tão cedo não esperava sua resposta.
Anoto algumas ideias de perguntas enquanto terminava o meu segundo café. Saio da cafeteria às 8h recebendo sobre minha pele uma fraca luz solar. Ajeito o cachecol ao redor do meu pescoço na tentativa de me esquentar melhor. Mesmo após um mês em Alberta o frio ainda era um fator extremamente difícil de lidar.
Enquanto ando de volta para o campus, observo alguns estudantes bêbados das respectivas festas em prol da vitória do Golden Bears. Um ou outro ainda carregava vestígios da torcida com uma parte do rosto pintada com as cores do time. Ri momentaneamente da chamada "caminhada da vergonha", termo usado quando alguém volta aos trapos de uma festa — ou de uma trepada.
Continuo caminhando até reconhecer um deles no outro lado da rua. Harvey acendeu o cigarro calmamente, deu um longo trago e levou umas das mãos ao bolso. Nossos olhares se encontraram, e torci para que ele não me reconhecesse. Porém foi em vão. Apertei o passo assim que ele começou a atravessar a rua.
Implorei silenciosamente para não ser alcançada.
— Por que tenho a impressão que você está fugindo de mim?
Ouço sua voz debochada perto o bastante para os pelos da minha nuca eriçarem. Encaro o líder da Zeta, que para minha surpresa estava com uma aparência péssima. O cabelo seboso e o mal cheiro entregava que Harvey não via um chuveiro há dias. As roupas sujas, o corte nos joelhos da calça indicando uma possível queda e seu lábio cortado demonstravam que sua noite havia sido bem agitada.
— Você disse que ficaria longe de mim. — digo entre dentes, controlando toda a raiva que fervilhava em mim.
Observo seu sorriso debochado diminuir enquanto assumia uma postura defensiva. Mordi o lábio inferior temendo que eu tivesse o irritado. Harvey era imprevisível.
— Sim. Eu disse.
Percebo suas mãos tremerem um pouco. Arregalo um pouco os olhos quando algo me passa a cabeça. Ele poderia estar drogado. Vejo as pupilas dilatadas e confirmo minha teoria. A inquietude dele me deixava nos nervos.
— Preciso ir embora. — anuncio minha partida, mas antes de dar o primeiro passo sua mão envolveu meu pulso mantendo-me no mesmo lugar. Engulo em seco.
— Você é muito bonita e também parece ser inteligente. — ele se aproxima — E como uma mulher inteligente você deveria selecionar melhor suas companhias.
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HEARTLESS
Romance"Sky Rivera se viu tentada a começar um novo capítulo de sua vida em outro país, podendo enfim fugir dos fantasmas de seu passado. Certa de que a Universidade de Alberta seria seu novo lar, junto de suas amigas, se permitiu curtir o início do semest...