Capítulo 11

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[Atenção]

Este capítulo conterá a participação do personagem "Kyle", criado por uma amiga. Boa leitura!

Releio atentamente as respostas da prova, convencendo-me de que ao menos um oito eu receberia. Só em lembrar do conteúdo estudado já me sinto triunfante, visto que minha mente repassava assiduamente minha conversa com Nick no carro, sem deixar escapar um detalhe sequer. É capaz da minha memória não ter perdoada nem os espaços de tempo entre uma palavra e outra. Cheguei até a pintar o cenário por ele descrito, imaginando sua raiva o levando a quebrar aquele carro caro e extravagante.

De fato, foi custoso me concentrar em raízes marxistas, apesar de ser um dos temas de meu domínio, mas eu estava decidida a me esforçar ao máximo para reparar a nota anterior — nota essa que havia sido uma vergonha. Eu precisava de uma vitória em meio a tantas derrotas que aquela semana já havia me proporcionado.

Releio três vezes a questão, até então, em branco. A pergunta era bem objetiva, cortando todas as minhas possibilidades de enrolação. Faço uma varredura pelas aulas de sociologia no colegial, lembrando apenas de ter me desdobrado em um artigo sobre o livro "O Capital", obra de Marx que revolucionou toda uma geração. A polêmica contida no meu relatório aterrorizou o diretor da minha escola, fazendo-o me chamar em sua sala e ordenar a suspensão das impressões do jornal. Lembro de ter lhe mostrado o dedo do meio, assinando ali mesmo a minha saída do projeto editorial.

Apesar do meu gênio forte, a minha dedicação pelos artigos era significativa. Digo isso, pois foi por lembrar do artigo que consegui formular a resposta perfeita para a questão em branco, garantindo-me mais um ponto e um largo sorriso no rosto.

Olho a minha volta antes de me levantar da carteira. A sala estava vazia, sendo preenchida apena por mim e pelo Sr. Monroe, que me lançava olhares furtivos na esperança de me apressar. Ofereço a ele um vislumbre do meu sorriso, mas o velho ainda se mantinha resistível à minha simpatia.

— Aqui está o exame, Sr. Monroe. — deposito a folha acima do monte acumulado em sua mesa. Tento checar alguma das respostas dos outros alunos, mas rapidamente o Sr. Monroe me repreende com um pigarro. Ergo meu olhar deparando-me com sua carranca e seu arquejo, provavelmente fruto de sua hipertensão evidente.

— Precisa de mais alguma coisa, Srta. Rivera?

Balanço a cabeça em negativa e aceno brevemente, me direcionando até a porta. Retorci as mãos em um gesto nervoso. Talvez eu estivesse ansiosa demais para checar minhas notas no final daquela semana. Como eu disse, eu precisava me sair bem. Seria a confirmação perfeita de que as coisas, pelo menos uma vez na minha vida, poderiam passar de decadentes para promissoras.

Deixo a porta se fechar atrás de mim, porém, antes de continuar o trajeto, percebo a figura de Alex escorada na parede frente a mim. Sua distração era evidente, visto que seus dedos brincavam com o chaveiro de sua mochila. Olho atentamente para o pequeno objeto percebendo que se tratava de uma guitarra. Não sinto surpresa ao relacionar Alex ao instrumento, já que sua cara o denunciava, entregando seu jeito indie e alternativo de ser. Depois de alguns segundos o analisando, ele enfim percebeu minha presença, oferecendo-me um sorriso de orelha a orelha. Observo-o dar alguns passos em minha direção.

— Estou tentando saber pela sua expressão como se saiu no exame. — Alex confessa, mordendo o lábio inferior num gesto pensativo.

— Admito que fiquei presa nas duas últimas questões. — Marx era um tanto complexo, sugando todos os meus neurônios a fim de compreender sua linha de raciocínio.

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