Sugestão de música para o capítulo nas mídias:
Be Honest, Jorja Smith
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Uma lágrima solitária escorria pela minha bochecha quando consultei o horário pelo celular às 4h da manhã, impossibilitada de sair do meu estado de torpor. Funguei algumas vezes antes de limpá-la e arriscar abrir o aplicativo de mensagens, mas não tive forças nem para deslizar o dedo sobre a tela.
Eu estava em uma posição extremamente desconfortável, recostada no azulejo frio e úmido do banheiro, sentindo o suor se acumulando sobre a testa e pela extensão da minha coluna. Passei a língua pelos lábios rachados e deixei escapar um suspiro triste, repassando pela milésima vez a cena de Sara sendo levada por uma ambulância. Os lábios brancos e quase sem vida. O sangue seco nas pontas dos meus dedos. O ar faltando em meus pulmões. A marca vermelha no meu braço devido o aperto forte do policial.
Como eu poderia me esquecer? Preciso aceitar de uma vez que estou fadada a viver com o peso dessas memórias, apesar de serem tão doloridas e me causarem um enorme estrago. Elas agora fazem parte de mim, transformando-me na porra de uma bomba relógio. A cada recordação fico mais próxima de explodir e isso nunca havia me assustado tanto quanto agora. Nunca havia me incomodado, até porque eu já quis desistir da minha própria vida. Mas hoje, vejo que tenho muito a perder. Minha tia, meus amigos, minha carreira...
Enterrei minha vontade de gritar e deixei o silêncio preencher aquele cômodo claustrofóbico, agora também tomado pela minha dor, dor esta que agora pendia para o lado físico. A enxaqueca parecia ter ganhado força total e, caso eu estivesse com febre como eu suspeitava, não demoraria muito até eu começar a delirar.
Esperei mais alguns minutos até tentar me levantar, saindo da inércia onde eu havia me colocado. Assim que me impulsionei senti uma câimbra se espalhar pela minha perna direita, contraindo de forma dolorosa meus músculos debaixo da pele. Agarrei-me a pia e grunhi na espera de voltar a sentir aquela região dormente. Depois, me arrastei até o box, tirei as roupas demoradamente e, com uma expressão de dor paralisada no rosto, abri o chuveiro. O banho gelado ajudaria a espantar a febre e me pouparia complicações amanhã, como por exemplo perder a reunião com a Sra. Russel.
A água adentrava meus cabelos e eu tremia. Apertei os braços ao redor do meu tronco e fiquei ali, tentando me manter de pé, apesar de estar fraca demais para isso, implorando silenciosamente que o estado febril fosse apenas um engano meu.
Baixei o olhar até meu quadril desnudo, observando o vislumbre da tatuagem em forma de ondas. Contorno a linha preta e fina com o dedo, retirando dela alguma força e implorando por algum consolo. Passo a sentir o gosto de água salgada na boca e mexo os dedos dos pés projetando a areia fofa da Califórnia entre eles. Uma vaga lembrança do meu lugar de refúgio. Talvez fosse apenas minha imaginação, mas minha pele também fazia memória do toque de Nick, de seus dedos traçando o contorno das ondas e dos lábios tocando levemente meu pescoço. "É linda. Combina com você.", foi o que disse logo em seguida, naquele tom aveludado que me fazia ter uma coleção de arrepios.
Eu sentia falta dele. Muita.
Desliguei o chuveiro e percebi a tremedeira por todo meu corpo. Minha pele queimava e os calafrios vieram com força total. Eu sentia minhas pernas se debaterem de frio e me apressei em pegar uma toalha limpa na qual me envolvi. Voltei ao quarto andando na ponta dos pés e busquei no guarda-roupa um conjunto de moletom cinza, com a logo da UA na frente. Passei por cada perna a primeira calcinha encontrada e vesti o restante da roupa, obrigando-me a pegar um par de meias extra. Lembrei-me do cobertor reserva que estava localizado no fundo do armário, usado somente quando Jordana burlava as regras e dormia aqui. Eu sabia que precisaria me agasalhar exageradamente para suar e espantar aquela febre, que agora já era uma certeza. Sabia também que não importava o estado no qual eu amanhecesse, eu não poderia falta aula.
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HEARTLESS
Romance"Sky Rivera se viu tentada a começar um novo capítulo de sua vida em outro país, podendo enfim fugir dos fantasmas de seu passado. Certa de que a Universidade de Alberta seria seu novo lar, junto de suas amigas, se permitiu curtir o início do semest...