Capítulo 7

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Algumas horas antes da festa ter sido oficialmente finalizada, Nick recebeu um estranho telefonema. Vi seus ombros se tencionarem e um leve tremor em sua voz ao decorrer da chamada. Tentei não me alarmar com isso, porém depois de desligar o aparelho Nick alegou que precisava ir. Sem dar explicações. Depositou um beijo em minha testa e foi embora.

Logo depois de sua saída repentina, Leo veio até mim a procura de Nick e expliquei o que aconteceu. Ele disse que não fazia ideia para onde ele poderia ter ido. Concordei com a cabeça, mas permaneci encucada. Chris chegou a perceber minha mente distraída, mas não insistiu quando eu disse que não era nada.

Tentei manter minha cabeça longe de Nick. Pesquei uma latinha de refrigerante no cooler na intenção de permanecer sóbria, já que vi Vee e Jordana um pouco alteradas e alguém tinha que cuidar daquelas duas. Passei a observar o ambiente enquanto bebericava minha coca-cola. Melissa estava sentada em uma cadeira de praia. Seu olhar perdido me dizia que ela não estava muito contente em estar ali. Vi uma das Alpha Chi oferecer algo a ela, mas ela balançou a cabeça dispensando. Vejo-a bufar levemente e levar as mãos ao rosto. Não sei o que me faz caminhar até a líder e me sentar ao seu lado, mas é o que faço. Recebo um olhar de dúvida.

— Está precisando de alguma coisa? — ela pergunta colocando uma mecha de cabelo que cai sobre seu rosto atrás da orelha. Percebo que as pontas são mais claras distinguindo-se do restante.

— Não. — falo com o tom suave — E você, precisa de algo?

Melissa suspira e fecha os olhos momentaneamente. Quando os abre vejo uma intensidade surreal tomar conta de seus olhos castanhos.

— Preciso de uma pausa disso tudo. É muito cansativo. — desabafa.

Lembro-me do comentário de Brandon. O jeito que ele a ofendeu. Recordo que pensei a mesma coisa ao julgar todas as Alpha Chi mesmo sem conhece-las, acreditando que eram garotas mimadas e superficiais. Xingo-me mentalmente por ter sido hipócrita. A verdade é que todos eram pré-julgados e Melissa, melhor do que ninguém, vivia isso assiduamente.

Permaneço em silêncio dando espaço de fala para que ela desabafasse.

— Eu sonhava em ser mais do que uma garota de fraternidade, julgada o tempo todo e fadada a ser perfeita. — ela chuta uma pedrinha que atravessa para o outro lado da quadra — Só assumi o cargo de líder por causa da minha mãe.

Assenti meio sem jeito. Não fazia ideia do que falar.

— Você deve achar que eu sou louca. — ela dá um riso fraco.

— Essa é a questão, Mel. Posso te chamar de Mel? — ela assente — Você não pode deixar que a opinião das pessoas tenham poder sobre você.

Fico em silêncio logo em seguida sentindo aquelas palavras pesarem sobre mim. Em San Diego as coisas funcionavam assim: eu ouvia e me calava. Todas as noites do último ano que passei na Califórnia foram regadas de choros e soluços. Era o momento que eu recordava de todas as palavras desferidas contra mim. Todos os olhares. Todas as risadas de escárnio.

Sinto meu estômago se embrulhar. Deixar aquele ano para trás era uma luta diária, já que eu sentia que ele sempre iria voltar para me assombrar.

— Você tem razão. — suas mãos vão até os olhos molhados. Fiquei tão distraída com meu próprio sofrimento que não reparei nas lágrimas de Melissa.

— Tenho que admitir, ver você lidando com a briga e aqueles caras da Zeta foi muito inspirador. Você é muito corajosa, Mel. Todos viram isso. Falta você ver. — sorrio para a garota e me levanto, deixando-a com os próprios pensamentos.

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