Capítulo 16

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"Can see it in his eyes, yeah
That he's got a nasty plan
I hope you're not involved at all"

When the Sun Goes Down,
Arctic Monkeys

Seria possível colocar fogo em alguém somente com os poderes da mente? Ou até mesmo fazer um piano cair em cima da pessoa odiada como nos desenhos animados? Eram essas e outras ideias assassinas que perpassavam minha mente quando parei frente ao líder da Zeta, Harvey Stone, e o vi sorrir. Sim, o desgraçado estava sorrindo. Mostrando todos os dentes perfeitamente alinhados e expondo as covinhas invejáveis, impossíveis de não reparar. Os olhos brilhavam de maneira perversa, afirmando minha teoria de que no fundo ele estava achando graça de tudo aquilo. Deve ter olhado para mim e me visto como um entretenimento para sua noite monótona. Pensar nessas possibilidades só me fazia ficar ainda mais ensandecida.

Diferente da sua expressão, a minha se resumia em narinas fortemente dilatadas, camada leve de suor sobre a testa e muita, muita raiva.

— Quer me dizer alguma coisa?

Sua voz rouca chegou até meus ouvidos com uma leve entonação cômica. Com a sobrancelha arqueada, seu sorriso repuxou para o lado esquerdo e precisei cravar minhas unhas em minha pele para não arrancar aquela expressão debochada de seu rosto.

— Na verdade, sim. Que tal se começarmos com o fato de você não ter saído por aquela porta há dois minutos atrás?

Ele escolheu ficar. Max ao menos foi sensato em ter se escondido no carro, mas Harvey fez de propósito. Quis ficar e me obrigar a olha-lo por mais tempo do que eu gostaria, me fazendo lembrar da sua autoridade sobre Nick e de todos os segredos que ambos compartilhavam, segredos que arruinaram minha última semana. Se antes eu aparentava estar irritadiça, agora eu facilmente poderia ser comparada a uma fera selvagem, pois eu bufava de ódio.

— Você quer que eu vá embora? — Harvey desvia o olhar para algo atrás de mim e balança a perna de maneira nervosa, quase como se estivesse decepcionado com a minha postura diante dele.

— Não foi o que Brandon disse a você? Para que se retirasse? — dou mais um passo encurtando a distância, obrigando-o a olhar para mim e ver o meu transtorno.

— Não me interessa o que ele disse, Sky. — Harvey diz próximo ao meu rosto, olhando-me tão severamente que de maneira automática me afasto. A ameaça subliminar em sua fala me fez engolir em seco e também me lembrar da minha posição naquela conversa. Ele é perigoso e tem Nick como a porra do seu lacaio. Não posso fazer nenhuma besteira e nem agir de maneira impulsiva, por mais difícil que fosse.

Antes sua postura estava relaxada e seu rosto transbordava sarcasmo, mas agora, Harvey havia mudado completamente. Foi tão rápido que até ele pareceu notar a estranheza daquela reação. Percebo o meu erro de não ter duvidado da sua sobriedade antes de andar enfurecida até ele. Como eu poderia esperar que ele respondesse algo que fizesse sentido?

— Vá embora, Harvey. Agora. Não dá para conversar com você nesse estado. — Em nenhum estado, quis acrescentar.

Sinto alguém se mover ao meu lado. Christian apoia a mão em minha lombar, apertando levemente a região. Acredito que seja sua maneira de me acalmar, então tento focar naquele movimento e não no semblante inexpressivo de Harvey. Do meu outro lado, Graham cruzava os braços e mantinha a postura ereta agindo como se fosse meu guarda-costas, e, apesar da sua estrutura magra, eu jamais questionaria sua capacidade de me defender se fosse preciso.

— Então você quer que eu saia? Achei que quisesse respostas.

Solto um suspiro de incredulidade, pois pela primeira vez fiquei surpresa com sua audácia em me responder daquela maneira, tão certo de que chamaria minha atenção. Apesar de não suportar estar no mesmo lugar que ele, Harvey estava certo, eu queria respostas. As teorias já estavam me sufocando. Eu precisava de algo concreto que só ele poderia me dar.

HEARTLESSOnde histórias criam vida. Descubra agora