Capítulo 10

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Nick

É difícil saber por quanto tempo ficamos os dois ali, naquela posição. A cabeça de Sky descansava em meu peito, e, de forma protetora, levei meus braços ao redor de seu tronco, repousando a mão em sua cintura. As unhas dela perfuravam levemente o tecido da minha camisa de algodão, repuxando-a de acordo com os seus soluços, que de tempo em tempo diminuíam.

Aquela cena era incomum para mim. Nunca fiquei tanto tempo com a mesma mulher para ter que agir com a emoção, para ter que dar qualquer tipo de suporte que não fosse sugerir uma nova posição sexual em algum móvel não-batizado. Só que agora, tendo de ouvir o choro contido de Sky e seu desabafo da pior noite de sua vida, a única emoção que poderia me ocorrer era ódio. Puro ódio.

A lembrança de Sky deitada na cama, inconsciente e sendo objeto de desejo de Max é uma das memórias mais difíceis que vou ter que carregar comigo. A bomba de adrenalina que tive ao ver Max retirando seu cinto, indo em direção a ela, foi tão marcante que ainda sou capaz de sentir a dor do meu punho contra o maxilar daquele desgraçado — e precisei usar todo meu autocontrole para não acabar com ele. Cerro o punho ao lembrar do sorriso debochado de Max ao ver Harvey na porta, observando toda a cena como se estivesse confortável numa poltrona assistindo a um filme.

Não percebi minha mandíbula travada até sentir o toque de Sky sobre ela. Desci o olhar para seu rosto, sendo obrigado a encarar seus olhos pequenos e inchados de tanto chorar.

— Um pensamento em troca de outro? — Sky diz de forma terna.

— Dessa vez, não. — respondo de cenho franzido, sabendo que aquela recusa ergueria um muro entre nós.

O silêncio voltou a tomar posse do quarto, que agora parecia pequeno devido a atmosfera que nos rodeava — uma na qual eu poderia ser facilmente engolido. Estar com Sky sempre era assim, um grande evento, desordenando tanto minha mente quanto as batidas do meu coração. Creio que seja pelo nervosismo, algo que mais uma vez só tive a chance de experimentar com ela.

Muitas das minhas primeiras vezes foram só da Sky, mas isso ela não pode saber.

A mão de Sky passeia delicadamente pelo meu peitoral, deixando um rastro de pelos arrepiados debaixo do tecido fino da minha camiseta. A tensão domina meus ombros, instintivamente, quando ela chega ao meu peito, bem em cima do meu coração, agora agitado e batendo contra as costelas. Fecho os olhos, fugindo da ideia de encarar aqueles olhos âmbar.

— Nick?

— Sky.

Ela para de me tocar.

— Preciso que me leve para o alojamento. — ela pede, desviando sua atenção para o relógio a pilha, deixado pelo meu antigo colega de quarto — São 21h. Tecnicamente a biblioteca fecha ás 20h. Posso dizer a Vee que fui até a cafeteria comer alguma coisa, por isso o atraso.

A Sky calculista estava de volta.

Não consegui responder, somente fiz um gesto afirmativo e esperei Sky sair do meu colo. Levantei cuidadosamente sentindo parte dos meus músculos gritarem de dor. O Davis pintou um alvo na minha testa depois da nossa última discussão, fazendo com que eu treinasse o dobro comparado aos outros jogadores do Golden Bears. Como o bom filho da puta que ele é, o treinador tem colocado nossa rixa acima do seu profissionalismo, levando o time a se exceder no aquecimento e nas partidas preparatórias, consequentemente. O fisioterapeuta escalado para esse campeonato estava há um passo de pedir demissão devido ao aumento de luxações e lesões no time, causado pela sobrecarga.

Para completar, a cereja do bolo foi a presença do Reitor McGuire em uma das reuniões semanais separadas para o planejamento de estratégias para o jogo. David se sentou em uma das cadeiras na sala, com os ouvidos bem atentos às palavras grosseiras do nosso treinador — que não se preocupava em medir palavras para nos ridicularizar. Entretanto, ele não sabia que estava entrando em um território perigoso até dizer as seguintes frases:

HEARTLESSOnde histórias criam vida. Descubra agora