"Eu olhei, você olhou, sorrimos..."

59 2 0
                                    

E ela estava lá, encostada em sua lambreta me esperando. Meu coração se aqueceu fazendo meu sangue ferver em minhas veias, lágrimas de alegria veio aos meus olhos. Minha amiga, minha mais velha amiga que só me deixou para seguir seu sonho aqui no Rio, mas nunca me abandonou de verdade, mesmo estando longe ainda tínhamos um laço inquebrável e que parecia eterno. E seja o destino ou o que for, estamos juntas novamente. Fui em suas direção dando passos largos e ela veio até mim. Éramos duas crianças de repente. Nossos corpos se chocaram e eu a abracei pra forte que parecia querer fundi-la a mim. As lágrimas não paravam de rolar e eu já soluçava feito um bebê que tinha acabado de cair e não conseguia parar mais de chorar, só que o meu choro era de felicidade e tinha certeza que o dela era também. Meus amigos, se isso não é amor verdadeiro eu não sei o que seria amor.

- Nossa! Se eu soubesse que teria que ir pra longe por 2 anos pra você demonstrar algum sentimento por mim eu teria feito antes – Mary disse rindo.

- Para, falando assim parece que não me importo – Falei cutucando ela.

- Mas é o que parece – Ela disse e eu revirei os olhos.

- Vamos antes que ele chegue – Falei indo em direção à moto

- Você sabe que não pode fugir disso né? – Mary falou montando na sua lambreta.

- Agora eu posso – Respondi colocando o capacete e montei atrás dela.

>Em algum bar no Rio<

-Não acredito que você já tá no meio de toda essa confusão com esses dois exemplos de masculinidade? – Mary falava enquanto olhava as fotos de perfil do WhatsApp de Jorge e Kaio e eu contava tudo que havia acontecido desde que cheguei aqui.

- Minha conclusão é: sabemos que Kaio não é um santo, mas ele me parece apaixonado por você, ele é um “fofo", já o Jorge é um babaca que vai te causar problemas, mas você já sabe disso, afinal, você parece ter carma pra gostar de homens possessivos ... – Parei de escutar o que Mary falava quando vi aquela cabeleira negra sentar do outro lado do balcão que formava um “L".

É ele mesmo? Não tenho certeza, o cara estava virado para o outro lado e falando ao telefone. Levei o canudo da minha bebida a boca e observei. O recorte das suas costas, seus cabelos tão negros que brilhavam sob a luz me diziam que era ele. O observei atentamente até que ele desligou o telefone e se virou para o balcão pedindo o que parecia ser uma dose de Jack Daniels. Tive a minha confirmação, era ele, sorri de lado, um pensamento malicioso passando pela minha cabeça.

- Você não tá prestando atenção no que eu tô falando, tá olhando pra onde? – A voz da Mary me tirou do meu transe, a encarei ainda sorrindo.

- Eu conheço esse sorriso, o que tá tramando Duda? – Mary perguntou e meu sorriso se abriu mais ainda.

- Tá vendo àquele cara ali? – Falei apontando a direção com o queixo.

- Aquele moreno gostoso? – Ela respondeu mexendo as sobrancelhas de forma sugestiva.

- Ele foi um babaca comigo, acredite – Ignorei as insinuações dela explicando.

- E pelo visto você não vai aceitar que alguém não te ache perfeita – Ela disse já sabendo das minhas intenções.

- Você sabe que não sou mais assim – Falei chamando o bartender com um sinal de mão.

- Quero que quando a bebida daquele homem acabar você leve uma garrafa de água para ele e diga que eu falei para ele ir devagar para não aparecer amanhã na aula de ressaca, ou melhor, nem aparecer. Diga com essas mesmas palavras está bem? Isso é tudo, obrigada – Falei para o garçom e ele saiu assentindo.

- Me parece que você tá dando o troco, finalmente aprendeu a revidar? – Mary disse perguntando.

- Temos que apanhar para aprender – Falei observando atentamente o momento em que o garçom apontara para mim.

Pude ver o momento em que o professor Marcelo colocou seus olhos em mim. Sorri, levantando meu copo em uma saudação. Ele fez o mesmo, mas seu sorriso não alcançou os olhos, percebi.

- Então Mary, pode ir me contando tudo que você andou aprontando sozinha aqui no Rio, puta que pariu, não acredito que você tem um ateliê – Voltei minha atenção para Mary, quase ignorando o distinto senhor que acabei de provocar, quase, se não fosse nossas nada sutis trocas de olhares.

Olhos... a nossa única parte capaz de despir nossas almas e ao mesmo tempo não demonstrar nada. Mas aqueles olhos negros pareciam querer me ler, eu me sentia organismo observado e analisado por uma lente de um microscópio. E a cada vez que eu o olhava ele parecia querer me fazer desistir. Mas desistir de que? Dele? Mas que prepotência, sei que as alunas devem cair matando em cima dele, ainda mais porque não vejo nem sinal de uma aliança em seu dedo, mas ficar com um professor? Isso nunca passou pela minha cabeça, é decadente demais até para mim. E eu não estava gostando nenhum pouco da forma julgadora que ele estava me olhando. Queria gritar para ele que se eu quisesse seduzi-lo ele saberia, não apenas teria suas dúvidas.

- Acho bom a gente ir pro meu apartamento, acho que já tô começando a ficar bêbada – Falei depois de altas conversas com Mary e trocas de olhares intensas com o então Sr. Certinho.

- A gente bem que poderia ir pra uma boate, mas parece que um caminhão passou por cima de você, bom, não parece, o caminhão tem nome e endereço – Ela disse me alfinetando.

Pagamos a conta e saí sem olhar para trás. Sim, é assim que lido com algumas situações que não me agradam, indiferença, me julguem se quiserem, mas não vou me prestar ao serviço de ser mais uma putinha que lamber os sapatos daquele babaca. Andamos dois quarteirões e chegamos no meu flat, onde deixamos a lambreta da Mary e descemos para o barzinho.

- Podemos pedir um delivery e assistir alguma coisa enquanto colocamos nosso papo em dias, você vai dormir aqui não é? – Falei assim que entramos pela porta.

- Você quer que eu durma aqui? – Mary perguntou como se sua presença fosse me incomodar.

- Por mim você morava aqui sua vaca, e você sabe disso – Respondi a abraçando em seguida, o álcool deve ter me deixado mais espontânea.

- Mas primeiro preciso de um banho de água quente pra relaxar – Disse soltando a Mary e me dirigindo ao meu quarto.

- Preciso dizer pra se sentir em casa? – Perguntei.

- Não – Ela revirou os olhos respondendo.

Mas antes que eu sumisse no corredor, meu telefone tocou, era Helena, o que seria? Atendi sentando no sofá ao lado da Mary.

- Oi, Helena? –

- Duda, você tá em casa? Desculpa incomodar mas eu preciso de um lugar pra passar a noite e não me veio ninguém na cabeça além de você - Ela disse com a voz rouca.

- O que aconteceu? Você tá chorando? – Perguntei assim que ouvi um fungado do outro lado da linha.

- Eu tô em um táxi agora e não sei pra onde ir, realmente não quero falar disso por telefone – Ela sussurou quase sem voz já.

- ok, tudo bem. Passa o celular para o motorista – Eu pedi e ela o fez.

Disse ao motorista o endereço e desliguei. O que será que deve ter acontecido? Me perguntei e logo me veio a resposta, deve ter sido aquele tal de Daniel.

- O que aconteceu e quem tá vindo pra cá? – Mary perguntou quando me recostei no sofá.

- Helena, irmã de Kaio... – Expliquei tudo para ela e fui tomar um banho.

Tinha acabado de me vestir quando ouvi a campainha, eu já havia autorizado a subida dela na portaria.

- Nenhum piu sobre Jorge ou seja quem for, ok? – Disse para Mary ao ir abrir a porta para Helena, seria uma longa noite.

Anjo DepravadoOnde histórias criam vida. Descubra agora