Anjo Depravado

Faça Mais Do Que Existir

Acordei em um susto com a minha cabeça latejando. Olhei o celular e já eram 9 horas da manhã. Ainda consigo pegar a última aula se eu me apressar. Que atitude irresponsável a minha. Pensei. Mas dane-se, preciso ir. Fiz minha higiene matinal e agora é só me vestir. Droga, não acho nada decente para hoje. Escolho por uma calça jeans justa, uma blusinha regata preta que tem um decote generoso deixando meus seios em evidência, e por isso resolvi colocar um blazer branco para ficar apresentável. Faço um coque despojado, pois não dá tempo de arrumar meu cabelo agora. Pego alguns acessórios, inclusive o brinco de brilhantes que minha avó me deu no meu aniversário passado, coloco um salto Anabellle preto, pego minha bolsa e saio.

>Campus UASTEC<

Tenho menos de 10 minutos para entrar em sala. Vou a lanchonete e peço uma vitamina de mamão. Não é a minha preferida, mas quando se tem um intestino que não funciona regularmente é necessário alguns sacrifícios, como deixar de lado a vitamina de maracujá que tanto amo. Pego a vitamina, pago e vou andando em direção à sala de aula. Ouço meu celular tocar dentro da bolsa. No momento em que abaixo a cabeça para pega-lo levo um esbarrão derramando parte da vitamina no meu blazer. Nem vi quem foi o idiota que nem mesmo pediu desculpas. Vou para o banheiro e não dá para limpar o estrago agora. Limpei a sujeira com papel e guardei o blazer na minha bolsa. Tentei subir um pouco minha regata mas de nada adiantou. Fechei os olhos sentindo minha cabeça doer mais. Maldito vinho. Pego um Advil e engulo sem água mesmo. Só espero que os garotos não fiquem de gracinha por causa da minha blusa. Realmente não quero parecer uma vadia. Sei que roupa não define caráter e eu realmente poderia começar uma discussão sobre isso se eu estivesse raciocinando direito. Chego na sala de aula e o único lugar vazio é o da primeira fila ao lado do professor, odeio esse lugar, ainda bem que a sala é espaçosa. Me surpreende a sala está lotada, universitários não são conhecidos por sua responsabilidade e principalmente, pontualidade, ainda mais os cariocas. Assim que sentei o professor entrou na sala. Uauuu! Eu não entendo nada desse mundo, mas acho que o lugar desse cara era numa agência de modelos. Aliás, quem aqui não é? Na minha cidade eu me achava bonita, mas aqui no Rio eu só sou mais uma. O professor Marcelo Turner se apresentou de uma maneira muito formal e começou sua aula de Psicologia Jurídica que eu teria me concentrado mais se minha cabeça não estivesse rodando e se o que saísse daquela boca perfeitamente esculpida do professor Turner, como ele prefere ser chamado, não estivesse como se em outra língua para mim. Professor Turner me lançou vários olhares durante a aula, eu ficaria muito feliz se esses olhares fossem de outro tipo, mas era nítido que eu não parecia muito bem, traduzindo, estava com cara de ressaca. Seus olhos castanhos escuros assim como seu cabelo, que fazia um belo contraste aliás, deixaram nítido sua reprovação. Agora entendi o porque de todo mundo estar mais civilizado hoje. Parece que o professor Turner é linha dura. Sou uma idiota por dar essa primeira impressão ao professor. A aula acabou e só então lembrei de olhar o celular. Era meu pai me ligando. Já sei que vou levar uma bronca por não ter dado notícias. Decido ligar quando eu chegar em casa, pois quero fazer meu almoço a partir de hoje e como só terei aula a tarde novamente, terei bastante tempo. Penso chamar o Kaio para almoçar para tentar me redimir. Pensando nisso guardo o celular e me levanto para ir embora.

- Srta. Medeiros? Queria falar um minuto com você – O Sr. Turner falou antes que eu pudesse fugir. Voltei minha atenção para ele e dei um aceno de cabeça para que ele continuasse.

- É sua primeira aula e pensando nisso eu gostaria deixar claro alguns pontos. Primeiro, você está claramente de ressaca e não prestou atenção na aula. Peço que quando isso acontecer nem compareça nas minhas aulas porque vou pedir que se retire. Segundo, a sua roupa, mais precisamente sua blusa não é adequada para esse ambiente. Você será uma profissional, com toda certeza, mas nós dois sabemos que não basta ter cérebro, que eu acredito que você tenha, mas você terá que fazer mais do que ser só mais uma dentre tantos advogados ou dentro de qualquer coisa que você fizer na vida. Seja mais! Isso é tudo por hoje – Falou e saiu como se não tivesse acabado de me dar uma lição de moral. Não me dando chance de resposta ou de me defender.