Desejo Sombrio

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- Então, o que anda aprontando com a minha filha? - Meu pai indagou andando em direção a ele. Já me preparei para intervir.

- Sua principessa é realmente uma caixinha de surpresas desde nosso primeiro encontro - Jorge salientou enquanto se davam um abraço de caras.

Eu incorporei a Nazaré Tedesco imediatamente. Como assim, eu estava esperando a Terceira Guerra Mundial! Jorge piscou para mim maliciosamente aproveitando o meio abraço do meu pai.

- Ela é a joia mais preciosa que tenho - Meu pai respondeu, não se contendo de orgulho.

- Dá pra pararem conversar como se eu não estivesse aqui? - Fiz uma pergunta que acabou sendo retórica.

- Aqui está tudo que me pediu - Jorge pegou um pen drive no bolso do terno.

Espera, ele veio aqui a mando do meu pai? Então corremos o risco de sermos pegos no flagra porque ele quis! Tenho certeza que saiu fumaça das minhas narinas pois eles estavam me encarando como se perguntassem que bicho havia me mordido. Ah, mas Jorge sabia muito bem o que estava acontecendo.

- Pode relaxar filha, é só o registro da contabilidade do nosso cartel - Meu pai fez piada, dei um riso nervoso e ofereci uma bebida para ambos.

Já faz uma semana desde que meu pai chegou e Jorge mal olha para mim, o que me faz ficar paranoica e confusa. O que, por consequência, faz eu não conseguir me concentrar, o que também é uma merda tanto aqui no escritório, quanto lá, na faculdade. Na real, preciso resolver isso logo. Mas primeiro, preciso encontrar o x da questão.

- Por que tá agindo como se não tivesse me fodido até a exaustão? - Inqueri, me debruçando sobre a mesa para poder olhar diretamente em seus olhos.

- Não é hora nem lugar para isso, garota - Jorge respondeu, sem nem levantar os olhos da papelada que estava analisando.

- Não pareceu se importar quando me fodeu com ele podendo chegar a qualquer momento - Joguei na cara e até que enfim ele se dignou a olhar para mim.

- Eu estava perfeitamente ciente dos riscos - Disse, mas seu olhar era completamente indiferente.

- E quanto a mim? - Respondi na defensiva.

- Bom, você pode me dar licença agora mesmo - Falou, voltando sua atenção aos malditos papéis.

Aí está a resposta para a incógnita, x=indiferença. Mas que porra! Saí da sala dele direto para o banheiro, como uma garotinha que acabara de descobrir que o Papai Noel não existe. Eu era apenas mais uma para ele e era tão óbvio. Somente um brinquedo que ele jogou no fundo do baú. Lavei o rosto na pia e removi todo o esboço de maquiagem que fiz pela manhã, sem retocar. Assim, de cara lavada e nariz inchado todos iriam ver que chorei, no entanto sou boa em dar desculpas. Se nada de diferente acontecer, tenho duas longas horas de estágio ainda. Respirei fundo perdendo uma batida do meu coração quando lembrei daquela voz fria como meus pés numa noite de chuva. Tive que despertar do mundo de fantasias para trabalhar. Será mais um dia em que terei de ir à biblioteca da faculdade para estudar, pois não consigo me concentrar com o meu pai em casa, porque de certa forma, me acostumei a ter o meu espaço, além de ser bem raro ter discentes lá, pelo menos enquanto não chegam as semanas de provas.

Anjo DepravadoOnde histórias criam vida. Descubra agora